A mente, esse labirinto incorpóreo de emoções, volta e meia se envolve em embates com o incerto. Apesar de nossa incessante busca ser por conforto, segurança e previsibilidade, não raro acabamos encontrando exatamente o contrário: angústia, perigo e o imponderável. Isso gera medo. Medo e paralisia. Na trama intrincada que compõe a tapeçaria da vida, o receio do aleatório se revela uma teia poderosa capaz de aprisionar qualquer um. Como se diante de um abismo, hesitamos; o desejo de domínio absoluto sobre o que é inerentemente instável fazendo de nós reféns das próprias inseguranças.
O que pode nos prender numa redoma de inação como essa? São muitos os fatores, todos associados à questão do controle. Nossos pensamentos, que ecoam o passado e sussurram um futuro por descobrir, é um deles. A sombra do julgamento alheio é outro. O peso de traumas que ainda clamam por cura, mais um. Por fim, uma preocupação desmedida com os dias vindouros é outro. Tudo isso é tijolo e cimento para o muro que bloqueará a visão do agora e nos afastará da capacidade de agir.
É um fenômeno curioso, essa paralisia. Ela se alimenta da resistência ao inexplorado, dos conflitos que fervilham sob a superfície da nossa consciência, das pressões que o mundo exterior insiste em impor. E assim, inertes, nos vemos atados às correntes da indecisão.
Sabe-se, porém, que o tecido da existência é bordado com incertezas, as quais, vale dizer, conferem textura e peculiar beleza a nossa jornada. A mente, em sua busca por estabilidade, depara com o paradoxo de querer congelar o fluxo ininterrupto do tempo, de almejar prever o imprevisível. É nesse conflito que surge a ansiedade, embaraçando os fios e tornando-se uma presença constante e incômoda, uma mácula que molda para o mal pensamentos e ações.
Confrontar a inevitabilidade da mudança é, portanto, aceitar a dança com o incerto. Esse reconhecimento, contudo, frequentemente nos coloca diante de barreiras psicológicas que nos impedem de dar o próximo passo, lançando-nos em um ciclo de hesitação e imobilidade.
A sabedoria ancestral da psicologia e da filosofia, felizmente, vem em nosso socorro, propondo meios para nos libertarmos da inércia. A psicologia, postulando a autocompaixão e o autocuidado como bússolas para navegar o caos, sugere que, em vez de temer a neblina da dúvida, temos mais é de acolher a complexidade da vida e, com resiliência, ir nos adaptando ao desconhecido. Na mesma linha, os estoicos apresentam a técnica da atenção plena, que se baseia no desapego das expectativas futuras, a fim de que a mente encontre refúgio na serenidade e placitude do agora. Além disso, a noção de amor fati – amor ao destino, aceitação entusiástica do que ele nos reserva – lembra que, no cerne das vicissitudes, há espaço para crescimento e sabedoria.
Dito de outra forma, podemos – e devemos – extrair autoconfiança de um passado em que a dúvida tenha imperado, de aventuras em que a incerteza tenha sido nossa principal companheira. Se naquele tempo nos percebíamos diminuídos pelo medo, sob a perspectiva do hoje nossa autoimagem há de ser um pouco mais gentil. Afinal, cada passo incerto que nos trouxe até o presente é um testemunho de que temos potencial inesgotável de superação.
Portanto, se você está aqui lendo estas palavras, é um sobrevivente e, como tal, deve celebrar sua capacidade de encontrar força onde só parecia haver apatia. Você foi resgatado das tempestades do acaso, e isso, por si só, é motivo para confiar na sua habilidade de transpor as incertezas que ainda virão.
Veja bem: não é uma questão de se, mas de quando. Então tudo que devemos esperar é que, chegado o momento, a incerteza seja não um fardo, mas o tempero que dá sabor à aventura de viver.
“Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar.” – Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão
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