Você possui algum objeto com significado todo especial para você? Algo que guarde com carinho por evocar alguém, alguma fase ou mesmo um único episódio marcante em sua vida? Um item qualquer que tenha, aos seus olhos, valor incompreensível sob a óptica dos outros?
Todos temos algo assim. Pode ser um item caro, como uma joia herdada da mãe ou um relógio presenteado pelo pai, ou pode ser aquele suvenir baratinho comprado na viagem dos sonhos. Talvez, ainda, seja uma simples camiseta do tempo bom da escola… Não importa. O fato é que, para você, o objeto ganhou um significado novo e singular. Você o vê por uma perspectiva que é só sua, uma perspectiva que atribui distinção ao bem.
A questão é: se fazemos isso em relação a pequenos objetos, por que nem sempre fazemos com a vida em si, com as pessoas que nos rodeiam, com o nosso próprio papel nesta caminhada? Por que não ressignificamos os acontecimentos que ficaram no passado, atribuindo-lhes um valor mais subjetivo, porém não menos real? Tiraríamos um grande peso das costas se começássemos a enxergar os fatos como enxergamos alguns objetos.
Significado à luz do entendimento humano não é absoluto, matemático. Ao contrário, está condicionado a uma grande dose de subjetividade. Um mesmo acontecimento pode ser examinado por diversos ângulos, a depender de nossa visão mais ou menos pessimista do mundo. Quer um exemplo? Suponhamos que você e seu(ua) companheiro(a) tenham comprado um pacote de viagem para passar uma semana nas belas praias do Nordeste. Chegando lá, para o azar de vocês, choveu todos os dias. Eram esperados dias de sol, mas a realidade se impôs, e não há o que fazer sobre isso. As opções são: vocês passam os dias de descanso lamentando o mau tempo, ou tentam atribuir outro sentido à experiência. Que tal aproveitar para apenas… descansar? Que tal devorar os livros que vocês sempre trazem na mala e nunca conseguem ler? (A leitura ao som das ondas do mar, veja que incrível!) Talvez essa seja a oportunidade para vocês se conectarem um ao outro como há meses não fazem e ficarem o dia todo apenas conversando no hotel. Sobrará tempo, ainda, para trocar mensagens com amigos ou familiares que andam sumidos e restabelecer alguns laços… Em síntese, se a viagem ficará marcada como produtiva ou não, vai depender apenas de vocês e do significado que atribuírem a ela.
Note que não se trata de negar a realidade, e sim de ressignificá-la. Podemos e devemos fazer isso em todas as esferas da vida. Reavaliações precisam ser frequentes. Não há nada de errado em mudar de perspectiva. Aliás, tolo de quem se mantém preso ao mesmo campo de visão.
É um contrassenso o homem ser o único animal consciente da própria finitude, e, ainda assim, levar a vida tentando ignorar a certeza da morte. Se, por um lado, isso lhe permite fazer planos, por outro faz parecer normal carregar sentimentos ruins anos a fio, certo de que terá todo o tempo do mundo para mudar esse quadro. Talvez por isso tantas pessoas são levadas a ressignificar a própria existência quando confrontadas com a possibilidade concreta de morrer. Quem não conhece alguém que, depois de sofrer um acidente ou receber o diagnóstico de uma doença grave, repensou todos os seus valores?
Ocorre, caro leitor, que somos mais do que seres sujeitos às surpresas da vida. Podemos e devemos nos antecipar a elas. Não precisamos passar por uma experiência trágica para reconsiderar nossas escolhas, reavaliar nossos projetos e mudar nossa forma de viver. Há instrumentos aos quais podemos recorrer a fim de redirecionar nossa conduta. Podemos começar respondendo algumas perguntas simples: “Como posso reavaliar este momento para ser mais feliz? Como posso construir memórias hoje que, ao serem evocadas no futuro, vão me inundar de gratidão e alegria? Como posso viver uma vida que vale a pena?”
O significado que atribuímos às coisas e aos fatos vem de dentro para fora. É como uma epifania, que surge ao pensarmos de forma mais ampla, ao nos sentirmos maiores, ao sairmos do plano imediato, repetitivo e superficial, ao buscarmos algo transcendente, ao olharmos a realidade com olhar menos automatizado. Santo Agostinho dizia que há o tempo do mundo e o tempo da alma. No primeiro, nada dura, e o presente vai se tornando passado a cada instante. Tudo deixa de ser à medida que acontece. Já no tempo da alma, tudo se conserva, as experiências são carregadas conosco e seguem a nossa perspectiva, a nossa lógica, o nosso tempo.
No exercício de ressignificação, cabe ao indivíduo decidir como carregará suas vivências em seu tempo da alma. Só ele pode dizer se vai levar rancor, mágoa, tristeza causada por outras pessoas, ou se prefere atribuir a tudo que aconteceu um novo significado, com base no perdão.
Ressignificar é o concurseiro, em pleno sábado, olhar para o computador e o cronograma de estudos e enxergá-los como instrumentos que viabilizarão um futuro melhor para si e a família. É transformar a perspectiva de dedicar às aulas o fim de semana inteiro na melhor iniciativa possível, ciente de que a decisão transcenderá o momento e renderá frutos a serem colhidos o resto da vida. É fazer isso sabendo que, do contrário, talvez não seja capaz de seguir em frente em dias mais sombrios.
Ressignificar é olhar para uma pilha de louça suja na pia depois de receber a família para um jantar e perceber que os pratos por lavar são o efeito colateral de um momento de comunhão que terá sempre no coração um lugar especial. Que bom que as louças estão sujas, que bom que você pôde receber tanta gente amada em casa.
Ressignificar é, após quebrar um relógio caro, conseguir pensar: “Que bom que eu tenho um relógio como esse para quebrar. A maioria das pessoas não têm”. O fato permanece: o relógio está quebrado. Porém, ao ressignificar o acontecimento, você o ilumina com a luz da gratidão, e isso muda absolutamente tudo.
Ressignificar é, mesmo que se esteja atravessando um período de grande dificuldade financeira, ser grato pelo privilégio de poder estudar. Que oportunidade, que bênção! Quantas pessoas sequer podem ler este artigo hoje por não terem acesso à internet?
Ressignificar é, enfim, não se fechar em uma só ideia. É abandonar o hábito de rotular tudo e todos. É intencionalmente mudar a perspectiva sobre os fatos, as pessoas e os objetos, enxergando-os por um viés que lhe permita notar algo para além do que está na superfície.
É por isso que faço uma provocação: escolha alguns acontecimentos que marcaram sua vida e os ressignifique. Selecione, de preferência, dentre os ruins e tente vê-los por um ângulo diferente, dando-se a chance de enxergá-los com mais leveza. Não estou falando de ser leviano com tristezas irreparáveis, mas de reavaliar como você as carrega no tempo da alma. Ressignifique o desafio que você está enfrentando agora. Veja o que há além do óbvio, o que há além do seu mundo, por essência tão restrito. Ressignifique a sua existência e perceba como há beleza infinita para ser notada, tanto no que passou como no que está por vir.
Ressignifique e seja mais feliz.
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