Quando a realidade destrói seus sonhos

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24 de maio5 min. de leitura

Tivemos um 2020 que pôs por terra as expectativas de, literalmente, todo o mundo. Mesmo agora, em meados de 2021, apesar de estarmos mais perto de, enfim, deixar a epidemia de covid-19 para os livros de história, seguimos sujeitos à imprevisibilidade. Continuamos reticentes em nossos planos, porque a incerteza permanece. Ainda não é possível saber se e quando nossos projetos serão concretizados. Essa é a nossa verdade atual. Em circunstâncias assim, aquela voz que vive dentro da cabeça da gente começa a destilar todo o seu pessimismo. “É tarde demais”, sussurra. “Em março até que dava, mas é praticamente junho. Não vai dar mais.” E assim vai minando o pouco que temos de energia, convencendo-nos a adiar projetos, destruindo os nossos maiores sonhos.

A pergunta é: o que fazer para não se deixar dominar por esse sentimento de derrota? Um bom começo é compreender que a vida não se limita ao dia de hoje. Nada de se apegar a prazos rígidos criados pelo ser humano, falhos como seu criador. Você pode se guiar por eles, é claro, sobretudo para cumprir metas objetivas, mas pautar toda a sua existência pelos dias, meses e anos do calendário só vai lhe trazer ansiedade. Lembre-se: propósitos maiores são alcançados pouco a pouco, um passo de cada vez. Se seus planos eram fechar 2020 como servidor público concursado, mas a pandemia impossibilitou a realização da sua prova, levante a cabeça e se adapte ao novo contexto.

A sua vida acontece independentemente de agenda. Infortúnios não lhe perguntam se o momento é bom ou ruim; simplesmente acontecem. E não param só porque você tinha outros planos. É melhor aceitar os fatos como são, sem desperdiçar energia questionando o que está fora do seu controle, o que você simplesmente não pode mudar. Adianta reclamar sobre a direção de um rio? Adianta negar a pandemia? Adianta, como diz o senso comum, chorar o leite derramado?

Não, não adianta. Por outro lado, ajuda ter em mente que a vida pode ser mais. Sim, ela tem outros caminhos. A nós cabe encarar cada dia como uma nova oportunidade. Acordei? Estou me sentindo bem? Ah, então tenho mais 24 horas para avançar rumo à realização dos meus sonhos. Hoje é o dia. Agora é a palavra mágica. Hoje e agora posso começar a resgatar os anos perdidos, roubados pela improdutividade, pela falta de fé e de autoconfiança.

As dificuldades fazem parte. Há, então, que redirecionar expectativas. Retome os seus projetos já e, por favor, não venha me dizer que não pode. O velho argumento da falta de tempo não convence ninguém. Filhos pequenos, afazeres domésticos e excesso de trabalho são rotina na vida adulta e tampouco servem de pretexto para a inércia. Quando, afinal, seria um bom momento para começar? As condições ideais são uma utopia. O bom momento é sempre o agora. Pare de enganar a si mesmo com desculpas.

Ainda que nada esteja como você imagina, tudo começa com um sonho, como já falamos AQUI. Quando se tem um projeto importante, o potencial para realizá-lo desperta. Sonhar dá esperança, direciona decisões e explica ações. Quem enxerga a beleza dos próprios sonhos encontra força para torná-los realidade.

Cabe, então, sonhar. Sonhar acordado, mas não no sentido de procrastinar, de fugir do esforço necessário para fazer algo no presente visando o futuro. Trata-se de deixar fluir a criatividade, na busca por soluções efetivas para problemas verdadeiros. Cabe, ainda, sonhar grande, mas agindo para tornar real o que se tem em mente. Refiro-me a ações concretas mesmo num mundo onde o planejamento deixou de ser uma ferramenta cem por cento eficaz.

Se antes já era esperado ser surpreendido no caminho, hoje, então, as surpresas são praticamente inevitáveis. De um ano e meio para cá, parece que tudo dá errado, mas entenda que isso é impressão, potencializada pela sensação de insegurança que a crise sanitária impõe. Sentimos como se toda a nossa vida estivesse fora de controle, mas não é verdade. Para qualquer um de nós, algumas coisas dão errado ao longo da vida. Seja justo: a mesma vida que destrói alguns dos seus planos também é especialista em criar outros ainda maiores.

Há uma parábola do budismo tibetano que ilustra bem, de um lado, o poder que a vida tem de abrir novos caminhos e, de outro, nossa incapacidade de enxergá-los. É estruturada numa espécie de “autobiografia” em cinco capítulos. Leia comigo:

Capítulo 1. Ando pela rua. Há um buraco fundo na calçada. Eu caio… Estou perdido… sem esperança. Não é culpa minha. Leva uma eternidade para encontrar a saída.

Capítulo 2. Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Mas finjo não vê-lo. Caio nele de novo. Não posso acreditar que estou no mesmo lugar. Mas não é culpa minha. Ainda assim leva um tempão para sair.

Capítulo 3. Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Vejo que ele ali está. Ainda assim caio… É um hábito. Meus olhos se abrem. Sei onde estou. É minha culpa. Saio imediatamente.

Capítulo 4. Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Dou a volta.

Capítulo 5. Ando por outra rua.[1]

Percebe como a vida é cair no buraco, sair do buraco e procurar uma via sem o buraco? Algumas pessoas podem demorar mais para aprender isso e caem sucessivas vezes no mesmo lugar. Em determinado momento, chega alguém e fala: “Ei, por que você não dá a volta ou pega este caminho aqui?” A pessoa pensa: “É mesmo! Estava tão acostumado que nem percebi.”

É comum se acostumar até mesmo ao que é ruim. É comum seguir a vida como se os obstáculos fossem o padrão. Mas saiba que a derrota ensina mais que a vitória. Use esse aprendizado para escolher outros caminhos, fazendo ajustes de percurso sempre que necessário. Jamais tire de vista o buraco na calçada. Assim, o seu próximo capítulo pode ser melhor.

Por fim, assuma seu papel de sobrevivente, não de vítima. Você avançou até aqui, e isso é sinal de que venceu inúmeras batalhas. Não as menospreze. Todos temos histórias para contar. Se a sua está particularmente difícil, se a carga está excessivamente pesada, acostume-se, mas pensando em como lidar com ela. Se suas feridas doem, lembre-se de que fazem parte do ônus – ou, melhor, da bênção – de estar vivo. Você não vê um atleta olímpico desistir da prova ao notar que vai terminar entre os últimos. Inspire-se nessa força e não desista da sua.

Os seus planos, caro leitor, não foram, de fato, destruídos. Foram apenas adiados para que algo melhor aconteça. Aproveite a oportunidade para crescer, aprender, evoluir, até chegar lá. Eu acredito, e você?

“As pessoas perdem o dia na expectativa da noite, e a noite com medo do amanhecer.” – Sêneca

[1] RINPOCHE, Sogyal. O livro tibetano do viver e do morrer. São Paulo: Talento/Palas Athena, 2013.

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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino digital.

 

 

 

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