“Vulnerabilidade não é conhecer vitória ou derrota; é compreender a necessidade de ambas, é se envolver, se entregar por inteiro.” – Brené Brown, Ph.D., professora e pesquisadora
Doutora em Serviço Social e pesquisadora na Universidade de Houston, EUA, Brené Brown confidencia, na obra “A coragem de ser imperfeito”, publicada em 2016 pela editora Sextante, que passou a vida tentando contornar e vencer a própria vulnerabilidade. Depois de 12 anos investigando o assunto enquanto lutava para encontrar uma carreira no campo da assistência social – gostava da ideia de “consertar” gente –, finalmente compreendeu o papel dessa aparente fraqueza em nossa vida: ela é o âmago, o centro das experiências significativas.
Se você tem procurado criar vínculos, vencer o medo ou ser uma pessoa plena e viver uma vida de abundância, o livro de Brown é para você. Se tem a intenção de OUSAR ser QUEM VOCÊ É, encontrará nele preciosos ensinamentos. Recomendo demais a leitura atenta e cuidadosa da obra, da qual extraí três pontos (que, aliás, já foram apresentados por mim em alguns eventos presenciais do Gran) para abordar em nossa conversa de hoje: primeiro, veremos um trecho do discurso do ex-presidente americano Theodore Roosevelt; depois, conheceremos os 10 sinais de que alguém leva uma VIDA ABUNDANTE; por fim, derrubaremos alguns dos MITOS da VULNERABILIDADE.
Logo no prólogo do livro, é lançada a seguinte pergunta: o que significa viver com ousadia? A resposta surge em um trecho do discurso “Cidadania em uma República”, ou “O homem na arena”, proferido por Roosevelt em Sorbonne, a mais tradicional universidade da França. Eis:
“Não é o crítico que importa, nem aquele que aponta como o homem forte tropeça, ou onde o realizador das proezas poderia ter feito melhor. O crédito pertence ao homem que está de fato na arena, cuja face está manchada de poeira, suor e sangue; aquele que luta valentemente; que erra, que “quase chega lá” repetidamente, porque não há nenhum esforço sem erros e falhas; aquele que realmente se esforça para fazer as obras; que conhece o grande entusiasmo, grandes devoções; que se entrega a uma causa nobre; que, no melhor dos casos, conhece, ao final, o triunfo da grande conquista e que, no pior dos casos, se falhar, ao menos falha ousando com grandeza, grandeza, de modo que o seu lugar jamais será entre as almas frias e tímidas, que não conhecem nem a vitória, nem a derrota.”
Falar em vulnerabilidade não é falar só de vitória ou derrota, sucesso ou frustração. Ser vulnerável não é o mesmo que ser fraco, assim como sentir-se invulnerável é diferente de ser perfeito, alguém “à prova de bala”. Aliás, pode ser má ideia passar a existência tratando de calejar a pele até torná-la menos suscetível a ferimentos, para só então ingressar na arena da vida. Quem faz isso perde o trem, sacrifica relacionamentos e deixa passar preciosas oportunidades que talvez fossem únicas. Poupar-se em demasia para não assumir a própria vulnerabilidade significa virar as costas para os talentos e contribuições que cabia única e exclusivamente a si mesmo oferecer.
“Ser vulnerável não é o mesmo que ser fraco, assim como sentir-se invulnerável é diferente de ser perfeito, alguém ‘à prova de bala’.”
Vulnerabilidade é, sim, aparecer e permitir ser visto. Pressupõe coragem para lidar com a própria imperfeição, vivendo com ousadia, assumindo riscos, expondo-se emocionalmente, em qualquer que seja a situação: um relacionamento, a preparação para concurso, um encontro importante, uma conversa difícil em família… Aceitar que é vulnerável é envolver-se de verdade com os propósitos, é entregar-se por inteiro aos objetivos.
Segundo Brené Brown, é relativamente fácil identificar alguém que leva uma vida plena e com abundância. Em geral, uma pessoa com esse perfil:
- Cultiva autenticidade e liberta-se do que os outros pensam;
- Cultiva a autocompaixão e liberta-se do perfeccionismo;
- Cultiva um espírito flexível e liberta-se da monotonia e da impotência;
- Cultiva gratidão e alegria, libertando-se do sentimento de escassez e do medo do desconhecido;
- Cultiva intuição e fé, libertando-se da necessidade de certezas;
- Cultiva a criatividade e liberta-se da comparação;
- Cultiva o lazer e o descanso, libertando-se da exaustão como sinal de status e da produtividade como fator de autoestima;
- Cultiva a calma e a tranquilidade, libertando-se da ansiedade como estilo de vida;
- Cultiva tarefas relevantes, libertando-se de dúvidas e suposições; e
- Cultiva risadas, música e dança, libertando-se da indiferença e da necessidade de “estar sempre no controle”.
Em resumo, se a ideia é viver plenamente, há que abraçar a vida e cultivar a coragem, a compaixão e os vínculos, tendo como base mais sólida o amor próprio. Há que ir para cama à noite dizendo para si mesmo: “sim, sou imperfeito, às vezes tenho medo, mas isso não muda a verdade de que também sou corajoso e merecedor de amor e aceitação”. O que somos importa muito mais que o que sabemos: é a verdade que temos em comum. O primeiro passo é entender onde estamos, contra o que lutamos e aonde precisamos chegar.
“O que somos importa muito mais que o que sabemos: é a verdade que temos em comum”.
A autora derruba o primeiro – e talvez maior – mito a respeito da vulnerabilidade. “É verdade que, quando estamos vulneráveis, ficamos totalmente expostos, sentimos que entramos numa câmara de tortura – que chamamos de incerteza – e assumimos um risco emocional enorme. Mas nada disso tem a ver com fraqueza”, diz. Quem acredita que ser vulnerável é sinônimo de ser fraco compra a ideia segundo a qual sentimentos nada mais são que indícios de fraqueza. Não é nada disso! Admitir-se como vulnerável significa aceitar que incertezas são inevitáveis, que riscos surgem de vez em quando e que a exposição emocional faz parte da vida. A vulnerabilidade está no centro de todas as emoções, de todos os sentimentos bons: amor, aceitação, alegria, coragem, empatia, criatividade, confiança, autenticidade. Não tem conotação negativa como muitos acreditam.
Se você, caro leitor, quiser fortalecer a parte essencialmente emocional de sua vida, reacendendo a paixão e retomando o controle sobre seus objetivos, propósitos e compromissos, precisa aprender o quanto antes a assumir sua vulnerabilidade e acolher as emoções dela resultantes. Aceite que precisará de ajuda de vez em quando, que terá de dizer “não” ou expressar uma opinião impopular, que vai se apaixonar, que haverá necessidade de se defender, de se impor, de tomar a iniciativa, de correr riscos, de tentar coisas novas, de sentir vergonha – sem medo do ridículo –, de engolir sapo, de ter raiva – e ao mesmo tempo fé –, de pedir perdão… Pensando bem, vulnerabilidade soa como verdade e é sinal de coragem. Entende isso?
Há outros mitos em torno do tema que precisam ser combatidos. Um deles é achar que a vulnerabilidade é uma escolha. “Não é comigo. Eu sou macho, forte. Sou advogado, sou isso, sou aquilo…”, dizem os que se autointitulam invulneráveis. Bobagem! A vida, em si, é vulnerável. A única escolha que nos cabe fazer diz respeito à forma como reagiremos quando confrontados com a incerteza, o risco e a exposição.
“A vida, em si, é vulnerável. A única escolha que nos cabe fazer diz respeito à forma como reagiremos quando confrontados com a incerteza, o risco e a exposição”.
Outra falsa crença é a de que ser vulnerável significa expor completamente a vida. Não se trata de superexposição, nem de desnudar-se indiscriminadamente. Trata-se, sim, de compartilhar – observados certos limites – sentimentos e experiências com pessoas que conquistaram o direito de conhecê-los. Leva tempo para desenvolver tal confiança. Leva tempo e exige trabalho, atenção e comprometimento absoluto.
O último mito que gostaria de abordar é o de que todos nós, querendo, podemos nos tornar invulneráveis a ponto de sermos capazes de nos virar sozinhos para resolver tudo. Todos precisamos de ajuda para nos reerguer após uma queda. Ora, se nos entregamos a uma vida corajosa, inevitavelmente levaremos alguns tombos. Nessas ocasiões, nossa primeira e maior ousadia será exatamente pedir ajuda.
Obviamente o livro de Brené Brown contém muitas outras lições, que este artigo não chegou nem perto de exaurir. Vale a pena lê-lo mais de uma vez em busca de frases, dados, respostas e relatos sobre a coragem de ser imperfeito e aceitar a própria vulnerabilidade. Fica a dica.
Se esta mensagem o fez perceber, em algum grau, que ser vulnerável não é necessariamente ruim, registre nos comentários: “Vou viver com ousadia!”
“Somente quando temos coragem suficiente para explorar a escuridão, descobrimos o poder infinito de nossa própria luz.” – Brené Brown.
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.