5 dicas para combater o desassossego

Avatar


29 de julho10 min. de leitura

No mundo moderno e corrido em que vivemos hoje, o desassossego é, infelizmente, algo presente na vida de quase todos. Para algumas pessoas, ele se apresenta de forma mais pesada, quase impeditiva. Não nos deixa trabalhar, estudar, causa culpa, medo… Para outras pessoas, ele vem de maneira mais leve e, às vezes, nem parece que é desassossego. Causa cansaço, desânimo, impaciência, um sentido de não pertencimento, ou até mesmo uma agitação fora do comum.

A culpa de sermos pessoas não tranquilas não é nossa particularmente, mas sim de uma sociedade que exige muito, e que tudo seja muito rápido. Mas a responsabilidade de lidar com esse desassossego é somente nossa. Podemos pedir ajuda sim, mas, se não trabalharmos a nossa consciência, não há ajuda no mundo que resolverá nosso problema.

Abaixo eu dou cinco dicas para que você consiga lidar melhor com o desassossego para viver uma vida mais serena, podendo assim se desenvolver cada vez mais.

 

  1. A pergunta mais difícil de responder

 

Muitas das nossas dificuldades emocionais vêm da nossa dificuldade de responder repetidamente uma simples pergunta: “Por quê?”. Isso mesmo! Parece simples, mas quando você para para refletir, vê que não é tão simples assim, e sabe por quê? Porque a gente não quer ouvir a resposta (mesmo já sabendo qual é).

Imagine que um dia você está no trabalho e seu chefe te pede para fazer algo que você não quer fazer. Logo você se irrita e começa a reclamar internamente, pensando que o chefe não sabe nada, que é um explorador, que não tem capacidade de ser chefe, e só o é porque “conhece alguém”.

O dia transcorre pesado e mal chegam as 12h e você corre para o almoço. A fila do restaurante está longa e não há mais mesas disponíveis. Você vai ter de pedir para dividir uma mesa com algum estranho e isso já faz seu coração bater forte, e você sua antes mesmo de entrar para servir sua comida.

Chegando no buffet, você percebe que não fizeram lasanha, seu prato favorito, mesmo hoje sendo quarta-feira, e toda quarta-feira tem lasanha. Você fica triste, decepcionado e jura que nunca mais vai voltar nesse restaurante, mesmo sabendo que é o único onde você pode pagar com o vale-alimentação que recebe da empresa. Aí você começa a pensar como é absurdamente baixo o valor que pagam no vale-alimentação e que a empresa não valoriza seus funcionários, que isso é um absurdo.

Ao comer, fica hipnotizado pela TV ligada no canto para não ter de olhar para aquela pessoa estranha com que você acabou de murmurar um “Posso sentar?” e foi respondido somente com um aceno, sem nem mesmo ela te olhar – que falta de educação, você pensou. Nessa mesma TV, passa o noticiário da hora do almoço. Reportam tragédia atrás de tragédia: mortes, roubos, desemprego que só aumenta… Antes mesmo de terminar seu prato, você já está com uma indigestão…

Você consegue ver onde vamos chegar com essa história? Consegue perceber como vai ser o desenrolar desse dia? Consegue pensar em outras coisas estressantes que acontecem no nosso dia a dia que podem ou não nos fazer mal, como trânsito, brigas conjugais, reclamação dos filhos, vizinhos barulhentos, etc?

Agora vamos voltar ao início da história e responder àqueles difíceis “Porquês”:

Pergunte-se por que você se irritou quando seu chefe te pediu algo. Será que é algo que você não sabe fazer e ficou com medo de não conseguir entregar? Será que é porque você acha que aquele trabalho específico não é atribuição sua? Será que havia algo te incomodando anteriormente no trabalho e você precisava de uns minutos para relaxar antes de começar essa atividade? Será que você estava com fome e queria comer alguma coisa, ou ainda estava com sono e queria tomar uma xícara de café?

Ao reclamar sobre a capacidade do chefe de liderar, pergunte-se por que pensa isso. Será porque o chefe é mais novo e menos experiente que você? Será que você acha que tem aptidão para estar no lugar dele? Será que você se sente desvalorizado dentro da empresa? Será mesmo que só se consegue uma promoção no trabalho se você “conhecer alguém”, ou será que você não é mais valorizado porque está sempre mal-humorado e não trabalha com todo o seu potencial?

Cada uma dessas respostas vai te levar a um novo “Porquê” e, quanto mais sincero você for (no início é bem difícil mesmo de responder com sinceridade), mais fácil vai ser de responder com o passar do tempo e da prática do exercício.

Entenda, não adianta somente colocar a culpa nos outros. Como Mark Manson disse em A sutil arte de ligar o Fo**-se, a culpa pode não ser sua, mas a responsabilidade de lidar com aquele sentimento é. Ou seja, pode ser sim que o seu chefe seja um idiota incapaz de liderar uma equipe e só está nesse cargo porque é sobrinho do diretor da empresa, mas o que você tem de pensar é: “E o que eu vou fazer em relação a isso? Como posso mudar a MINHA postura, as MINHAS atitudes para chegar onde desejo?”. Pode ser que a resposta seja mudar de emprego, por exemplo. E essa resposta vai gerar mais uma quantidade grande de perguntas as quais te ajudarão a seguir seu caminho!

 

  1. Respire

 

Eu sei, que conselho mais batido… Mas é algo que, mesmo fazendo automaticamente, precisa ser lembrado constantemente.

O processo de inspirar o ar leva oxigênio às nossas células, permitindo que o corpo absorva a quantidade necessária para produzir energia e libere o restante em forma de gás carbônico. Sem oxigênio, o ser humano não sobrevive.

Mas sem a respiração correta, o ser humano não vive, só sobrevive. Consegue perceber a diferença? Pare para reparar em como você respira. Qual parte do seu corpo “enche” mais quando você inspira, seu peito ou sua barriga? Se é o seu peito, você está respirando errado.

Agora volte na história lá da dica 1 e, ao lê-la, repare como fica a sua respiração. Ela fica mais curta e travada? Você se sente mais cansado? Isso acontece porque, quando deixamos o nosso desassossego interferir na nossa vida, ele interfere também na nossa maneira de respirar. A boa notícia é que o inverso também acontece, então, se aprendermos a respirar corretamente, isso vai ajudar o nosso desassossego a diminuir.

Imagino que você deva estar se perguntando como se respira corretamente, já que, desde que nasceu, o ar entra e sai automaticamente pelo seu nariz… Não é muito diferente, mas deixa eu explicar: o ar deve entrar sim pelo seu nariz, mas deve ser uma respiração mais profunda, mais longa. Ele enche (nessa ordem) seu pulmão, seu diafragma (finalzinho das costelas) e seu abdômen (não se importe por a sua barriga ficar estufada. Melhor isso que ficar mal). No momento de soltar o ar, que deve ser feito na mesma velocidade da inspiração, você deve esvaziar primeiro o abdômen, depois o diafragma e, por último, os pulmões.

Lembre-se do seguinte: o ar entra de cima para baixo e sai de baixo para cima. Ambos lentamente, com calma!

Se alguma coisa durante o dia te causar medo, irritação, desânimo, agitação, lembre-se de respirar profundamente. Durante o resto do dia, foque nesse processo respiratório. Eu te garanto que só com ele seu dia e seu ânimo já vão aumentar bastante!

Pratique essa respiração profunda todos os dias por, pelo menos, um minuto. Pode ser enquanto você se desloca para o trabalho, para a faculdade, para a escola, indo levar os filhos para alguma atividade, enquanto está preso no engarrafamento ou subindo no elevador e, principalmente, nos minutos antes de começar a estudar. Pode ser também em casa, no parque, na praia, onde você preferir, desde que se lembre de parar para respirar todos os dias.

 

  1. A meditação e a oração

 

Você não precisa passar 1h de olhos fechados pensando em nada enquanto vocaliza o mantra Om em uma sala envolta em incenso para estar meditando. Você não precisa nem estar ouvindo um aplicativo moderno de meditação guiada por 10 minutos para isso.

Existem vários tipos de meditação, e a oração é uma delas. Sim, isso mesmo. A oração é uma forma de meditação, assim como ficar em silêncio sem pensar em nada também é, ou ouvir a meditação guiada do app, ou até mesmo olhar fixamente para um ponto e deixar nossa mente vagar – todas essas práticas também são formas de meditação.

Meditação, segundo o dicionário Aulete, significa “Processo e circunstância de (alguém) se concentrar espiritualmente para desligar-se gradualmente das preocupações do mundo material”.¹  Para  Sri Chinmoy, meditação é “uma abertura mental para o divino, objetivando a orientação de um poder mais alto”. ²

Você consegue enxergar como a oração é uma forma de meditação, e como a meditação pode ser uma forma de oração? A partir delas, acalmamos a mente, a alma, o corpo, agradecemos pelo que já temos e pedimos pelo que desejamos.

Então caso você seja uma pessoa religiosa, se frequenta algum tipo de igreja, templo etc, reze todos os dias. Se você não for adepto a nenhuma religião, tire um tempo do seu dia para meditar. Todos os dias.

Pare para pensar nas coisas que você deseja. Anote-as. Visualize-se vivendo a vida que deseja. Mas veja de verdade, como se fosse hoje e agora, e não em um futuro distante. Veja as imagens coloridas, sinta os cheiros, a temperatura, ouça os sons do ambiente.

Depois desse pequeno exercício, visualize as coisas que você já conquistou na vida. Pode ser algo que você acha bobo, como passar de ano na escola ou terminar um trabalho em menos tempo que você imaginava. Vale tudo.

Agora que você já foi no futuro e no passado, viva o presente. Todos os dias, agradeça pelo que já conquistou e peça pelo que deseja conquistar, seja em uma oração ou em uma contemplação silenciosa; pode ser por escrito em um caderno ou na forma de um quadro de desejos, uma colagem na parede ou um mantra.

Eu entendo que muitas pessoas têm problemas em “pedir”, principalmente para Deus, mas perceba que Ele quer o seu bem e, quando você pede algo, não significa que vai ganhar sem nenhum esforço, e sim que está se lembrando todos os dias daquilo que deseja alcançar!

 

  1. Veja o mundo com mais empatia

 

A gente nunca sabe as dores que outras pessoas estão vivendo e, constantemente, julgamos o próximo pela nossa régua. Achamos que uma criança que chora e se joga no chão do supermercado está fazendo birra, e que aquela mãe ou aquele pai não a estão educando propriamente. Mas não paramos para pensar que talvez aquela criança esteja com fome, com sono, com dentes nascendo (só quem tem filhos ou cuida de crianças pequenas para saber o horror que é a fase de dentição), e que talvez aqueles pais estejam exaustos porque há quase dois anos não têm uma noite inteira de sono, e já tentaram de tudo para que o filho não chore no mercado e simplesmente não sabem mais o que fazer.

Olhamos de cara feia para o mendigo sujo que vem nos pedir uma esmola achando que ele é folgado e não quer trabalhar, mas não imaginamos que ele pode não ter tido oportunidade de estudos (muito menos de trabalho) e que viver na rua é tudo que ele conhece, pois já nasceu nela.

Reclamamos do colega de trabalho que está sempre sério e não vai ao happy hour com o pessoal da firma, mas não pensamos que talvez ele tenha uma fobia social grande ao ponto de isso impedi-lo de sair e socializar…

O que eu quero dizer é que normalmente nós julgamos as pessoas e as situações de acordo com os nossos valores, mas eles não são necessariamente os valores das outras pessoas. Não significa que os seus valores estejam errados, mas também não significa que os das outras pessoas estejam.

Cada um de nós vive de um jeito. Existem pessoas que seguem fielmente uma religião e o que é dito dentro daquela igreja ou templo; existem também pessoas que não acreditam em Deus. Ambas estão certas dentro dos seus valores, porque não há certo ou errado nesse caso, mas ambas devem se respeitar e entender que o outro é diferente, e está tudo bem!

No momento em que você faz um esforço real para diminuir o seu julgamento em relação a outras pessoas e começa a pensar que elas estão vivendo as suas realidades, você começa a ter um olhar empático e percebe que seu coração se acalma, pois você passa a querer ajudar mais que julgar.

Ajudar é um dos pontos chaves da empatia (saber quando não se meter também). E ajudar, saber que você está fazendo o bem independentemente de qualquer coisa, diminui  o desassossego. Sabe por quê? Porque nós, seres humanos, precisamos saber que temos valor no mundo. Não há nada mais valioso que ver no olhar do próximo a gratidão de perceber que alguém, ao invés de julgar, teve compreensão.

No início é difícil ter essa visão porque, infelizmente, medimos a vida dos outros pelas nossas réguas, mas se esforce para, em todas as situações (principalmente as desagradáveis, que são as que normalmente julgamos), lembrar que aquela pessoa está vivendo uma vida diferente da sua, ela tem valores diferentes dos seus, e pense se há algo que você possa fazer para ajudar.

Voltando ao exemplo da criança no supermercado, vá até aquela mãe ou aquele pai e pergunte se há algo que você possa fazer para ajudar. O máximo que pode acontecer é a pessoa dizer “Não”. No caso do mendigo, dê um trocado a ele, caso você tenha, ou compre um lanche, um café. Pare para conversar por cinco minutos com ele. Você pode se surpreender. Para o colega de trabalho, chame-o para almoçar em vez de sair à noite. Leve um doce para ele comer ou chame-o para um cafezinho. Com o tempo, ele pode se soltar e vocês podem se tornar amigos.

Não tenha medo das pessoas e nem das situações sociais que possam ser constrangedoras. O constrangimento passa bem rápido e é esquecido mais rápido ainda. Mas o prazer de mudar uma situação ruim… Ah… Essa fica para sempre grudada na alma!

 

  1. Escreva

 

Eu sempre tive problemas em escrever em diários. Começava com “Querido diário” e automaticamente me achava besta por escrever isso. Ou então não gostava do que escrevia porque achava que não era importante o suficiente, ou que a importância dos fatos não tinham sido corretamente transmitidas em palavras.

Foi quando eu percebi que o que eu escrevo hoje só vai importar de verdade em dois casos: 1) No momento no qual eu escrevo, como forma de “tirar” aquilo de mim e acalmar minha mente; 2) Daqui a alguns anos, quando eu nem lembrar mais daquele fato, e o diário servir como recordação.

Então eu digo para você pegar um caderno, fazer um arquivo no computador, usar um aplicativo ou o que você desejar e, uma vez por semana, anotar aquilo pelo qual você foi grato na semana, ou pode escrever o ponto alto e o ponto baixo da semana, pode escrever uma frase ou uma música significativa, fazer um desenho, colar adesivos… Enfim, qualquer coisa que faça com que você pare uns minutos para refletir como foi a sua semana e colocar isso no papel.

O ideal seria você fazer isso todos os dias, mas, sendo realista, sei que nem sempre temos tempo (ou paciência) para fazer isso, então selecione um dia (sugiro domingo à noite), coloque um alarme no seu celular e escreva.

Não se preocupe se ele não ficar lindo e maravilhoso como aqueles diários que vemos no Pinterest – 99% de chance de não ficar, e tá tudo bem! O importante é a mensagem que está escrita, e não a “cara” dele propriamente dita.

Vale a pena também dar uma lida nas anotações escritas anteriormente, para sempre se lembrar das coisas boas e pensar em como você resolveu as coisas ruins, ou como ainda pode resolvê-las!

Valorize o que está escrito e não julgue caso tenha mudado de opinião em relação a algo escrito anteriormente. Lembre-se de que aquele era o seu sentimento naquele momento e que as nossas ideias mudam constantemente.

Ah… E lembre-se de sempre colocar a data!

Apesar de este texto ter chegado ao fim, as suas ações em relação à melhoria contínua devem ser constantes.

Espero que essas dicas tenham sido úteis. Talvez você ache que somente uma ou outra seja boa de verdade. Tudo bem, desde que você as coloque em prática!

O meu intuito é te ajudar a diminuir o seu desassossego no dia a dia, e eu te mostrei aqui coisas que funcionam muito bem não só comigo, mas com diversas pessoas as quais também utilizam essas técnicas.

Existem outras maneiras de diminuir o desassossego? Claro que sim! Mas essas são algumas das ações mais rápidas e práticas que podemos fazer em um mundo tão louco e corrido como o nosso.

Acredite, por mais difícil que pareça, e por mais atarefados que estejamos, vale a pena parar uns minutinhos para colocar essas técnicas em prática. Você vai se sentir mais leve, mais focado, mais pronto para o trabalho e para os estudos, e mais feliz de uma maneira geral.

Avatar


29 de julho10 min. de leitura