Minha experiência em Washington, D.C

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WashingtonA Embaixada do Brasil em Washington, D.C. (a abreviação de “Distrito de Colúmbia” serve para diferenciar a cidade que é capital dos EUA do estado com mesmo nome, na costa oeste do país) é uma das principais representações brasileiras no exterior. Por estar localizada em território da principal potência mundial – que ao mesmo tempo está entre os mais importantes parceiros de nosso país em diversas áreas, como política, economia, comércio, ciência e tecnologia etc. –, Brasemb Washington, como é conhecida no Ministério das Relações Exteriores (MRE), conta com o maior corpo diplomático do Itamaraty no exterior.

Tive a honra de servir nessa Embaixada entre 2007 e 2010, assim que terminei meu período, também de três anos, em outra importante Embaixada brasileira, em Buenos Aires. Isso foi possível na época porque a representação do Brasil na Argentina era classificada como B, enquanto a dos Estados Unidos era e continua sendo A. Como hoje aquela também tem classificação A, não é mais permitido, conforme as regras do necessário rodízio entre os postos, já explicadas anteriormente[1], realizar essa transferência sem passagem de ao menos quatro anos em Brasília.

Durante meu período em Washington, passei por três setores distintos. Ao chegar, no início da crise financeira provocada pelo setor imobiliário norte-americano, fui escalado para acompanhar a economia do país, além das políticas das instituições multilaterais financeiras com sede naquela capital: Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), especialmente em assuntos referentes ao Brasil, como financiamento de obras públicas federais, estaduais e municipais.

Nunca tinha trabalhado com esses temas, nem tenho formação acadêmica na área. Isso que ocorreu comigo, no entanto, é muito comum na carreira diplomática. Os diplomatas são frequentemente convocados a cumprir tarefas estranhas a sua experiência e aos seus estudos. Daí a necessidade de adaptação e atualização constante, conforme vimos na semana passada[2].

Após alguns meses, iniciou-se outro processo nos EUA que me fez mudar de função novamente na Embaixada, por decisão do Embaixador. Tratava-se do começo do período eleitoral norte-americano, quando pré-candidatos, republicanos e democratas, à Presidência da República disputavam a vaga de seus partidos nas primárias realizadas nos cinquenta estados do país.

Terminado o processo eleitoral, que foi relatado diariamente em comunicações – da Embaixada para o Itamaraty em Brasília – chamadas de “telegramas”[3], fui trocado de área outra vez. Novamente me escalaram para uma função que eu nunca havia exercido, a da promoção comercial. Confesso que tinha certo preconceito com temas comerciais e nunca tive a ambição de trabalhar com o assunto. Mas como todo preconceito – que é uma ideia normalmente equivocada por não se basear na realidade, mas no que imaginamos, na ignorância sobre a questão –, estava enganado e acabei me encontrando com essa função, que nunca mais quis abandonar[4].

Ao promover exportações do Brasil aos Estados Unidos, assim como investimentos entre os dois países, tive a oportunidade de preparar estudos de mercado (avaliação do potencial comprador norte-americano de certos produtos brasileiros), fazer análise do comércio bilateral e dialogar com representantes do Governo dos EUA sobre temas de interesse comercial brasileiro, além de organizar missões de empresários de nosso país a diversas cidades norte-americanas, entre outras funções. Pude realizar um trabalho dinâmico, de comprovação imediata de  resultados e muito divertido. Por fim, pude conhecer novos locais e interlocutores com quem não interagiria se estivesse trabalhando em outras funções.

Veja, portanto, como costuma ser diversificado o trabalho de um diplomata, tanto no Brasil, como no exterior. Quanto maior a representação Brasileira, seja Embaixada, Consulado ou Missão junto a organismo internacional, mais variadas são as atribuições do posto, e consequentemente mais possibilidades de tarefas são apresentadas aos diplomatas que lá estejam lotados.

[1]Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/como-se-define-o-destino-de-um-diplomata-no-exterior/

[2]Sugere-se a leitura do artigo http://blog.vouserdiplomata.com/diplomatas-estudam-a-vida-toda/

[3]Telegrama é a designação das comunicações escritas entre as representações do MRE no exterior e a Secretaria de Estado (SERE) em Brasília, que é a sede do Ministério. Atualmente, essas comunicações são eletrônicas, mas antigamente eram realizadas por telegramas cifrados, daí o nome, que permaneceu.

[4]Com exceção de um curto período de dois anos, assim que retornei a Brasília, em 2010, quando trabalhei como assessor na Secretaria-Geral das Relações Exterioes, sempre atuei, desde essa época, com temas relacionados à promoção comercial brasileira.

 


Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico

Jean MarcelNomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Saiba +


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