A atividade diplomática exige bom senso, muita criatividade e iniciativa para ser desempenhada. Além de falar idiomas estrangeiros, os diplomatas necessitam ter conhecimento ou estudar variados temas para atuar como representantes do Estado brasileiro e seus nacionais. Contatos, conversas e pesquisas são exemplos de necessidade para o exercício dessa função. A forma escrita de comunicação é, no entanto, o principal instrumento a ser “tocado” pelos membros da carreira diplomática. Se deixá-lo desafinar, a música fica comprometida.
A escrita não é para os diplomatas apenas uma ferramenta, como um serrote para o carpinteiro. Prefiro a imagem de um instrumento, não apenas musical, mas o objeto de um artista que deve produzir algo a ser admirado pelas pessoas, como o pincel para um pintor, o piano para um pianista ou uma bola de futebol para o Neymar.
Há uma piada muito repetida no Itamaraty que descreve um bom diplomata como alguém que sabe mandar uma pessoa para o inferno de maneira tão especial que essa pessoa fique ansiosa para o início da viagem. Mas de nada adianta o talento de saber se relacionar com pessoas sem que isso seja registrado por escrito. E é exatamente esse o registro que fica da atividade diplomática. Sem textos, não há decisão oficial, não se formam posições de um Governo e, principalmente, não são seguidas tradições de posicionamento, que é o que dá prestígio à diplomacia de uma nação.
Quando algum fato político (como um golpe de Estado) ou físico (desastre natural, por exemplo) ocorre em algum país, a imprensa brasileira imediatamente busca no Ministério das Relações Exteriores (MRE) qual seria o posicionamento brasileiro sobre o tema. Isso se dá sempre por escrito, por meio de uma Nota à Imprensa que reflita o que o Governo do Brasil acha ou pretende fazer a respeito do assunto. Cada palavra dessas notas é estudada no Itamaraty com bastante rigor, pois qualquer termo mal empregado pode afetar nossas relações externas.
O mesmo se aplica aos textos produzidos internamente no Ministério. Toda comunicação entre as unidades da Secretaria de Estado (sede do MRE em Brasília) é feita por intermédio de algum tipo de expediente (documento escrito). Esses expedientes servem de base para o acompanhamento e prosseguimento do assunto. Assim, por exemplo, um(a) Terceiro(a)-Secretário(a) pode propor alguma iniciativa do Governo brasileiro sobre um determinado tema em sua área de atuação. Propus, então, um texto, que deve ser aprovado por sua chefia imediata, que também o leva a ser superior hierárquico, até que muitas vezes o caso vai parar nas mãos do Chanceler ou até do Presidente da República.
O mesmo ocorre na comunicação do MRE em Brasília com seus Escritórios de Representação pelo Brasil ou Postos no exterior (Embaixadas, Consulados, Escritórios e Missões junto a Organismos Internacionais). Tudo é registrado por escrito e fica no sistema para consulta posterior quando o tema voltar a ser debatido ou requerer novas decisões. É o que chamamos no Itamaraty de antecedentes do assunto. A não ser quando se tratar de tema completamente novo, a primeira iniciativa de um(a) diplomata ao se deparar com uma matéria é levantar os antecedentes registrados em expedientes.
E é por isso que a mais difícil e principal prova do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) é a prova escrita de Língua Portuguesa, da Segunda Fase. Um bom diplomata precisa, necessariamente, saber expressar-se bem e com clareza por escrito. De outra forma, seu trabalho fica perdido para a diplomacia. Ou seja, aperfeiçoando nossa piada interna, não adianta mandar alguém para o inferno e deixar a pessoa ansiosa para a viagem se não conseguir emitir o bilhete de partida.
Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico
Nomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Saiba +
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Excelente artigo! Cada novo texto lido apenas faz aumentar a paixão por esta linda carreira.
Poderia indicar referências de pessoas para compreender melhor essa forma de escrita? Amo escrever e busco sempre melhorar minha técnica lendo e seguindo bons escritores.
Obrigado!