“No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise.” – Dante Alighieri, escritor e poeta italiano
Outro dia, escutei em uma palestra o neologismo “antifrágil”. O termo foi cunhado pelo professor e autor best-seller Nassim Nicholas Taleb em sua obra “ANTIFRÁGIL: coisas que se beneficiam com o caos”. Logo pensei que o tema renderia um artigo, já que eu mesmo fiquei bastante impressionado com o conceito e as ideias defendidas por Nassim. Aqui está, portanto, o resultado das minhas reflexões a respeito do assunto.
Para começar, relembremos o significado do adjetivo “frágil”. Ele é empregado para qualificar algo delicado, que se pode partir, deformar ou danificar com facilidade, algo que quebra, rompe ou enguiça facilmente. O oposto de frágil, segundo o senso comum, é algo forte, seguro, confiável, sólido, permanente, bem-construído. Essa é, contudo, a meu ver, uma interpretação incorreta.
“Veja bem: uma pessoa robusta e durona apenas bloqueia as pancadas da vida, ao passo que alguém antifrágil prospera no caos, tornando-se mais forte e poderoso a cada novo golpe que o atinge, não importa a intensidade nem a origem do ataque.”
Já o termo “antifrágil” é um neologismo que não está registrado em dicionário algum. Não se trata, por exemplo, de sinônimo de “resiliente”. Para o homem que cunhou a expressão, na verdade é ela o antônimo de “frágil”. Serve para designar algo que melhora quando se encontra em situação adversa. Quando o adjetivo é empregado para qualificar uma pessoa, traduz a ideia de que ela tolera bem qualquer tipo de pressão e, mais do que enfrentar desafios com tranquilidade, aperfeiçoa-se, desenvolve-se e cresce graças a eles. Designa, em resumo, alguém que não se deixa deformar com facilidade. Veja bem: uma pessoa robusta e durona apenas bloqueia as pancadas da vida, ao passo que alguém antifrágil prospera no caos, tornando-se mais forte e poderoso a cada novo golpe que o atinge, não importa a intensidade nem a origem do ataque. Percebe a diferença?
“Sem aleatoriedade, sem desordem, sem perigo, sem estresse, sem incerteza, sem instabilidade, não temos como desenvolver o “antifrágil” que está dentro de nós.”
Em poucas palavras, a lição é: não devemos evitar adversidades. Fugir delas não é nem de longe a melhor maneira de melhorarmos, de nos aperfeiçoarmos. Definitivamente, adiar crises não é o caminho. Sem aleatoriedade, sem desordem, sem perigo, sem estresse, sem incerteza, sem instabilidade, não temos como desenvolver o “antifrágil” que está dentro de nós. Não temos por que aprender, não temos por que evoluir. Devemos é encarar o mundo, enfrentando os fatos do dia a dia na vida pessoal, no trabalho ou na preparação para concursos, se esta for a nossa escolha. Quando, por exemplo, alguém tido por líder opta por não enfrentar as crises que surgem, ele, na verdade, camufla suas fragilidades, e só. Um líder de verdade precisa conhecer suas fraquezas e trabalhar para superá-las, mesmo que em meio ao caos. Na verdade, segundo Taleb, é justamente em situações difíceis que esse líder pode despertar dons que nem sabia ter.
O professor defende que agentes estressores têm papel fundamental em nosso desenvolvimento pessoal e profissional. “Diz-se que os melhores cavalos perdem quando competem com os mais lentos e vencem contra os melhores rivais. Subcompensações pela ausência de um agente estressor, a hormese reversa, a ausência de desafios, degrada o melhor dos melhores”, resume. O mesmo se aplica a outros tipos de competição, como a que é preciso vencer para conquistar uma vaga no serviço público. Em outras palavras, leitor amigo, se o concurso público que você quer prestar não atrai os melhores concorrentes, se a relação candidatos por vaga não é das mais altas, não haverá agentes estressores, desafiadores, provocadores que motivem você a se superar.
Particularmente, consigo me identificar muito bem com isso. Quando me sinto provocado, consigo ir além das minhas próprias expectativas. Quando vejo alguém fazendo algo melhor do que eu, isso me motiva demais! Quando alguém fala que eu não sou capaz, então… Aí é que, modéstia à parte, eu cresço mesmo. Isso também vale para o meu sócio, Rodrigo. Experimente dizer que ele não vai conseguir algo. Tente envolvê-lo em uma situação de altíssimo estresse. Pode ter certeza: tirando forças e conhecimentos sabe-se lá de onde, ele resolverá em minutos qualquer problema que outra pessoa poderia levar horas para administrar.
Entende agora como antifragilidade é o oposto de fragilidade? Existe o frágil, o robusto e o antifrágil. O frágil sofre um baque e se quebra, desistindo na primeira dificuldade. O robusto resiste aos impactos externos e não paralisa ao ser atormentado. Já o antifrágil, além de resistir, melhora quando sofre o impacto. Andar descalço, por exemplo, torna a sola dos pés mais resistentes. A musculação causa pequenas lesões nos músculos que depois os fortalecem. Nos dois casos, não estamos meramente bloqueando danos, mas nos aperfeiçoando com eles.
“O fato de tudo parecer conspirar contra você deve se tornar justamente o motivo para você dar o seu melhor. O problema deve ser transformado em motivação. Parece contraintutivo, mas é a verdade.”
Portanto, para se tornar antifrágil, resista às agressões externas e as utilize para melhorar sua composição, sua estrutura. Se essas agressões, no seu caso, são materializadas em falta de incentivo para os estudos, fortaleça-se com elas. Converta cada palavra dura em motivação para se superar. Em termos práticos, a cada vez que amigos ou familiares repetirem que você nunca será aprovado em concurso, estude mais, até conseguir mostrar que eles estavam errados. O fato de tudo parecer conspirar contra você deve se tornar justamente o motivo para você dar o seu melhor. O problema deve ser transformado em motivação. Parece contraintutivo, mas é a verdade.
Acredite: só melhoramos quando nos submetemos à aleatoriedade. O professor Nassim cita outro exemplo que ilustra bem a propriedade dos agentes estressores: “Aprende-se melhor um idioma na dificuldade da situação, de erro em erro, quando é preciso se comunicar em circunstâncias mais ou menos extenuantes, principalmente para expressar necessidades urgentes (como as necessidades físicas, por exemplo)”. É verdade! Eu mesmo conheço pessoas que se mudaram para um país de repente e se viram obrigadas a aprender uma nova língua em meses ou teriam sérias dificuldades até para sobreviver. E como elas conseguiram? Conseguiram por serem antifrágeis! Elas podiam ter ficado paralisadas; afinal, todos sabemos da dificuldade que é aprender outra língua. Podiam ter voltado para a sua zona de conforto, retornando ao país de origem. Podiam ter se acomodado, sobrevivendo à custa de uma comunicação bem aquém da ideal. Mas, não. Quem é antifrágil aproveita o estresse de TER de aprender para se aperfeiçoar de maneira que não imaginava ser possível.
O mesmo vale para os concurseiros que são obrigados a aprender, por exemplo, raciocínio lógico matemático para prestar um concurso em que a matéria seja eliminatória. As circunstâncias impõem que eles procurem dominar os conteúdos como se não houvesse amanhã. E acredite: mesmo quem nunca foi muito bom em exatas pode aprender os temas mais complexos da matemática, desde que desenvolva sua antifragilidade.
Nassim lamenta que nem todos percebam como poderiam se beneficiar do caos em busca do autodesenvolvimento. “Sinto raiva e frustração quando penso que um em cada dez norte-americanos acima da idade do ensino médio está fazendo uso de algum tipo de antidepressivo, como o Prozac. Na verdade, agora, quando passamos por mudanças de humor, temos de justificar por que não estamos usando alguma medicação. Pode haver algumas boas razões para fazer uso de medicação, em casos patológicos graves, mas meu humor, minha tristeza, minhas crises de ansiedade são uma segunda fonte de inteligência – talvez, até, a primeira”, diz. Traduzindo em miúdos, as pessoas estão com cada vez mais frequência optando por se dopar para lidar com as dificuldades, ignorando que justamente as dificuldades poderiam torná-las melhores.
Eu sei que na prática não é tão simples pensar – e agir – da forma como o professor Nassim ensina, mas é como eu sempre digo: não há alternativa. Quer ser bem-sucedido? Você precisa ser antifrágil!
O boxeador Muhammad Ali? Antifrágil. Não tinha como falar que ele não era capaz de algo. Quem tentasse o veria provar o contrário em seguida.
O português Cristiano Ronaldo? Antifrágil. Experimente desafiá-lo. Experimente vaiá-lo em um jogo. Ele vai fazer mais gols do que o normal.
Nelson Mandela? Antifrágil. Foi mantido preso por 27 anos e usou a experiência a seu favor, tornando-se um dos maiores líderes que já passaram pelo mundo.
Barack Obama? Antifrágil. Falaram que era impossível, nos EUA, eleger um presidente negro filho de um queniano. Atacaram o então candidato por todos os lados. Isso o motivou ainda mais a ganhar as eleições.
A apresentadora Oprah? Antifrágil. Tratamos da história dela aqui.
Silvio Santos? Antifrágil. Também conversamos um pouco sobre ele aqui.
Ayrton Senna? Antifrágil.
Há muitos e muitos outros exemplos, em todo o planeta.
Não se pode ascender e continuar levando a vida sem enfrentar perigo contínuo – alguém há de trabalhar ativamente para derrubar quem o fizer. Creio nisso e me preparo o tempo todo para tomar as melhores decisões, sem a ilusão de que sou capaz de prever o próximo grande acontecimento. Sou um antifrágil! Assumo riscos e sou consciente de que a inovação preza a desordem.
Fica a dica: para ser um vencedor, você precisa ser ANTIFRÁGIL. Ser resiliente é coisa do passado. O mundo agora pertence aos antifrágeis.
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“Quanto maior é a sede, maior é o prazer em satisfazê-la” – Dante Alighieri
Bons estudos e GRAN sucesso,
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Fascinado pelo empreendedorismo, pelo ensino a distância e por mudar vidas. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business.