Olá, pessoal! Tudo bem? Sou a professora Débora Juliani, farmacêutica, especialista em Análises Clínicas. Faço parte da equipe do Gran Concursos e este é o quarto artigo da série “Curiosidades em Análises Clínicas”, em que pretendo abordar temas curiosos ou pouco conhecidos no mundo dos exames laboratoriais!
No primeiro deles, intitulado “Descubra a relação entre vampiros, Bioquímica e Genética” (https://blog.grancursosonline.com.br/curiosidades-em-analises-clinicas-descubra-a-relacao-entre-os-vampiros-a-genetica-e-a-bioquimica/), eu trouxe um assunto muito interessante sobre a porfiria, uma doença genética que explica o mito do vampirismo. Não deixe de conferir; você vai gostar!
No segundo, intitulado “PSA em mulheres e beta hCG em homens, sim!” (https://blog.grancursosonline.com.br/curiosidades-em-analises-clinicaspsa-em-mulheres-e-beta-hcg-em-homens-sim/), falamos sobre essas novidades diagnósticas. Vale super à pena a leitura, para você não continuar no time dos que acham que é sempre um erro do médico prescritor a solicitação de PSA em mulheres e beta hCG em homens.
Já no terceiro, abordei um tema que a esmagadora maioria das pessoas parece desconhecer: a possibilidade de realização de teste de tipagem sanguínea na saliva de alguns pacientes. O título do artigo é “Tipagem sanguínea na saliva, você sabia?” (https://blog.grancursosonline.com.br/curiosidades-em-analises-clinicastipagem-sanguinea-na-saliva-voce-sabia/). Se você ainda não leu, te garanto que está muito interessante e vai te fazer “tirar aquela onda” em uma roda de amigos analistas clínicos… Corre lá!
De volta ao presente artigo, vamos falar de um tema que, na prática clínica, costuma ser ignorado por muitos profissionais de saúde, sejam os analistas clínicos, sejam os médicos solicitantes do hemograma, e também, naturalmente pelos pacientes. Estou falando da pseudotrombocitopenia induzida por EDTA.
O nome é grande, eu sei, mas calma que eu vou explicar! Trata-se de uma condição rara e, muitas vezes, não identificada adequadamente, que pode ocorrer durante a coleta de sangue para exames laboratoriais e que é caracterizada falsa (pseudo) redução (penia) na contagem de plaquetas do paciente (trombocito).
Quando eu digo que a redução é falsa, é porque ela só se dá in vitro, ou seja, ali dentro do tubo contendo o anticoagulante EDTA, e não reflete uma verdadeira diminuição no número de plaquetas circulantes no paciente, ou seja, in vivo, entendeu?
O mecanismo fisiopatológico ainda não é muito bem definido, mas acredita-se que o fenômeno ocorre, como dito, com o anticoagulante EDTA pois no soro de alguns indivíduos (aproximadamente 0,1% da população), o EDTA pode induzir uma resposta imunológica que leva à formação de autoanticorpos contra as plaquetas, fazendo com que elas se agrupem em agregados que não são contados corretamente pelo contador automático de plaquetas. Vale destacar que este “artefato laboratorial” é mais comum quando o sangue é mantido a temperaturas mais baixas e em amostras que ficam expostas ao anticoagulante por períodos mais longos.
Cabe ao analista de laboratório descartar a possibilidade de pseudotrombocitopenia induzida por EDTA sempre que se deparar com um hemograma contendo uma plaquetopenia em pacientes sem clínica e história que justifiquem os níveis baixos de plaquetas. Para isso, o primeiro passo é repetir o exame com outro tipo de anticoagulante. Quando a amostra de sangue é coletada com um anticoagulante diferente (como citrato ou heparina), a contagem de plaquetas geralmente volta ao normal. Isso pode confirmar que o EDTA foi o responsável pela agregação.
Adicionalmente, a revisão de lâmina ao microscópio para verificar se há agregados plaquetários é muito relevante. Além dos agregados plaquetários, é possível, em alguns casos, visualizar também o satelitismo plaquetário (rosetas de plaquetas ao redor de leucócitos), o que sugere a pseudotrombocitopenia.
Vale lembrar que o satelitismo plaquetário é um fenômeno hematológico em que plaquetas se agregam ao redor de leucócitos, formando uma estrutura em que as plaquetas parecem ser “satélites” ao redor dos leucócitos. O anticoagulante EDTA utilizado na coleta de sangue pode contribuir para o satelitismo, porque ele pode promover interações anômalas entre as plaquetas e os leucócitos, especialmente em indivíduos com plaquetas estruturalmente ou funcionalmente alteradas. Por isso, muitas vezes vemos, concomitantemente, os agregados plaquetários da pseudotrombocitopenia induzida por EDTA e as “coroas” de plaquetas ao redor dos leucócitos, do satelitismo plaquetário.
Mas outras condições de saúde também estão associadas ao satelitismo plaquetário, normalmente aquelas que geram distúrbios plaquetários, como a Síndrome de Bernard-Soulier, uma doença rara em que as plaquetas são anormalmente grandes e têm dificuldade em se aderir ao subendotélio vascular, o que pode facilitar a interação com leucócitos.
Perceba que reconhecer e distinguir plaquetopenias “verdadeiras” das pseudotrombocitopenias, em especial a EDTA-dependente, mostra-se essencial, já que evita diagnósticos errados, investigações desnecessárias e tratamentos inadequados, além de claro, te garantir aquele pontinho na questão de prova resolvida com acerto!
Falando em questão… Olha só como agora você já acerta essa, sem qualquer dificuldade:
Claro que você marcou a letra C, pois já sabe que para confirmar a pseudotrombocitopenia induzida por EDTA, a técnica recomendada é contar as plaquetas em um tubo com citrato ou outro anticoagulante que não cause agregação plaquetária, não é mesmo?
Mas atenção: tão importante quanto detectar essa condição, é informar e explicar ao paciente sobre essa sua “particularidade”. Ele deve ser orientado a avisar previamente ao Laboratório Clínico sempre que for realizar algum exame de sangue, a fim de que todas as medidas e cuidados pré-analíticos possam ser tomados.
Ficamos por aqui! Espero que tenha gostado do conteúdo! Um forte abraço e bons estudos, com a equipe do Gran Concursos, claro!
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