Em boca fechada não entra mosquito. E não sai Justiça

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justica3Por Ivy Farias
Não deixemos Roma! Não nos exilemos no nosso próprio silêncio. Vamos abrir a boca livremente em nossa defesa e da do Estado Democrático de Direito, que tem como seus alicerces o exercício livre da advocacia.

Iam adsiduitatis nullum est praeceptum, verbum ipsum docet quae res sit; prodest quidem vehementer nusquam discedere, sed tamen hic fructus est adsiduitatis, non solum esse Romae atque in foro sed adsidue petere, saepe eosdem appellare, non committere ut quisquam possit dicere, quod eius consequi possis, se abs te non sit rogatum et valde ac diligenter rogatum.

“Não sai de Roma! Ser assíduo significa ficar. Não há tempo para férias durante a campanha. Esteja presente na cidade e no Fórum, falando constantemente com os eleitores, voltando lá no dia seguinte e falando novamente. Não deixe que ninguém tenha a possibilidade de dizer que você esteve ausente durante a campanha” é a tradução do conselho número 43 que Quintus Tullius Cicero escreveu em uma carta ao seu irmão Marcus Tullius Cicero, este candidato à prefeitura de Roma. Mesmo o destinatário sendo mais velho e um já experiente advogado, o caçula sentiu que deveria aconselhá-lo. A carta se tornou uma espécie de manual de marketing político. “Como Ganhar Uma Eleição” tem sido lido e relido por pessoas do mundo inteiro desde 64 a.C.

O interessante é que o primogênito da família Cicero ganhou a eleição e resolveu ele próprio também registrar suas próprias considerações em “Como Governar Um País”. Na introdução de Philip Freeman para a tradução em inglês, descobrimos que Marcus Tullius se exilou voluntariamente de Roma quando era um jovem advogado e venceu um caso em que o réu era acusado injustamente de matar o próprio pai. A peleja jurídica deixou o jovem causídico na mira do ditador Sulla e sua administração corrupta.
Minhas meditações sobre estas duas leituras (sim, migalheiras e migalheiros, é a semana Cicero aqui em casa) me trazem a 2016. Não devemos deixar Roma. Roma, no caso, é a advocacia. Não podemos tirar férias. Não, não estamos em campanha, mas precisamos estar nas cidades e nos fóruns, falando constantemente com as pessoas e não deixar que ninguém nos declare como ausentes em um momento em que a advogados estão sendo presos e escritórios recebendo “visitas” da polícia.
Não deixe Roma! Não nos calemos. Não deixemos de ver como “mais um escritório foi revirado como algo banal”. Aí sim entraremos de vez na banalidade do mal. E, falando em Hannah Arendt, ela mesma disse:
“Sem dúvida, nem mesmo as guerras, e menos ainda as revoluções, são sempre totalmente determinadas pela violência. Onde a violência impera absoluta, como por exemplo nos campos de concentração dos regimes totalitários, não só as leis – les lois se taisent (as leis se calam), como colocou a Revolução Francesa –, mas tudo e todos devem quedar em silêncio. É por causa deste silêncio que a violência é um fenômeno marginal na esfera política; pois o homem, como ser político é dotado do poder de fala”. Em Sobre a Revolução (Companhia das Letras).
Temos o poder de fala. Sei que advocacia é falar pelos outros mas agora é o momento de falar por nós mesmos. Não deixemos Roma! Não nos exilemos no nosso próprio silêncio. Vamos abrir a boca livremente em nossa defesa e da do Estado Democrático de Direito, que tem como seus alicerces o exercício livre da advocacia. E sabendo que se nos calarmos, consentiremos com estas arbitrariedades – e tantas outras que hão de vir. Em esquema boca livre.

Fonte: Migalhas

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