Ferritina: Reserva de ferro… ou termômetro da inflamação?

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Olá Granlovers! Tudo bem? Eu sou a professora Débora Juliani, farmacêutica e especialista em Análises Clínicas. No Gran Concursos, a gente acredita que aprender é muito mais fácil quando o conteúdo faz sentido. 

Por isso, hoje eu quero trazer sentido para um exame que muita gente acha simples, mas que vive confundindo alunos, pacientes e até profissionais: a ferritina. Afinal, ela é um marcador da reserva de ferro no organismo ou um marcador de inflamação? A resposta certa é: os dois! E é isso que torna esse exame tão interessante.

Vamos começar pelo papel mais conhecido. A ferritina é a principal proteína de estoque de ferro do nosso organismo. Ela funciona como um “cofre”: guarda o ferro de forma segura dentro das células, principalmente no fígado, baço e medula óssea, liberando quando o corpo precisa produzir hemoglobina.

Na prática clínica, quando a ferritina está baixa, quase sempre pensamos em deficiência de ferro. Antes mesmo da anemia aparecer no hemograma, a ferritina já pode cair, sendo um dos primeiros marcadores laboratoriais da falta de ferro. Por isso ela é tão valiosa no diagnóstico precoce da anemia ferropriva.

Até aqui, tudo tranquilo. O problema começa quando a ferritina está normal ou elevada, mas o paciente tem sinais claros de anemia. É nesse ponto que precisamos mudar a chavinha e lembrar que a ferritina não fala só de ferro, ela também “conversa” com o sistema imunológico.

Em situações de infecção ou inflamação, o organismo entra em modo de defesa. E uma das estratégias do corpo é esconder o ferro. Parece estranho, mas faz todo sentido: bactérias e outros microrganismos precisam de ferro para se multiplicar. Então o corpo reduz a disponibilidade desse mineral na circulação.

Ou seja, durante processos inflamatórios, a ferritina aumenta porque o organismo passa a armazenar mais ferro dentro das células, retirando-o do sangue. Esse mecanismo é mediado por citocinas inflamatórias, como a interleucina-6, que estimulam tanto a produção de ferritina quanto da hepcidina.

A hepcidina, inclusive, é uma peça-chave dessa história. Ela bloqueia a liberação de ferro do intestino e dos macrófagos. O resultado é menos ferro circulante, mais ferro estocado… e uma ferritina lá em cima. Mesmo que, funcionalmente, esse ferro não esteja disponível para a produção de hemácias.

É exatamente por isso que vemos ferritina elevada em infecções, doenças inflamatórias crônicas, neoplasias, doenças autoimunes e até em quadros agudos, como uma infecção viral recente. Nesses casos, a ferritina funciona como uma proteína de fase aguda, assim como PCR e fibrinogênio.

E aqui está uma das pegadinhas clássicas de prova e da prática: o paciente pode ter anemia, ferro sérico baixo, saturação de transferrina baixa… mas a ferritina normal ou elevada. Isso não descarta deficiência funcional de ferro; pelo contrário, sugere a chamada anemia da inflamação.

Por isso, a ferritina nunca deve ser interpretada sozinha. Ela precisa caminhar junto com outros exames, como ferro sérico, transferrina, saturação de transferrina, hemograma e, claro, com marcadores inflamatórios como a PCR. É o que eu sempre falo nas aulas: contexto clínico é tudo!

Um detalhe importante: valores muito elevados de ferritina também podem aparecer em situações mais graves, como síndrome hemofagocítica, sepse, COVID grave e algumas neoplasias. Nesses casos, a ferritina deixa de ser apenas estoque ou inflamação e passa a ser um marcador de gravidade.

Então lembre-se disso: a ferritina tem dupla personalidade. Em condições normais, ela reflete o estoque de ferro. Em situações de inflamação, ela reflete a resposta do organismo à agressão, tentando proteger nosso organismo de patógenos, mesmo que isso atrapalhe momentaneamente a produção de hemácias, entendeu?

Aqui no Gran Concursos, a ideia é justamente essa: sair do “decorar valores” e passar a entender o raciocínio por trás dos exames. Se você enxergar a ferritina como um cofre e, ao mesmo tempo, como um alarme inflamatório, fica muito mais fácil acertar a interpretação (e a questão de prova, claro). Salva esse conteúdo, compartilha com os colegas e sigamos juntos nessa jornada!

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