Geovane Resende

Olá! Meu nome é Geovane Resende, enfermeiro do Senado Federal, e vou compartilhar um pouco da minha história no mundo dos concursos públicos, como foi a rotina de estudo e trajetória até aqui.

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05 de junho7 min. de leitura

A conquista de algo muito desafiador e considerado difícil não se faz apenas com horas e horas de estudo. Isso, obviamente, é indispensável, mas acreditar e ter fé, no sentido amplo da palavra, é fundamental para conquistar um objetivo que, num determinado momento, pode nos parecer até impossível. Além disso, no caso dos concursos, a qualidade do estudo, e não somente a quantidade de horas, é outro aspecto essencial no alcance de uma aprovação.

 

O contexto da vida e as origens de cada um são importantes para determinar os fatos e rumos que tomados ao longo da vida. Descrever um pouco da história, mesmo que resumida, evita mostrar um retrato, uma figura  estática, e vai ao encontro do mundo dinâmico, em movimento. É da história de cada um de nós, que tiramos forças e mostramos nosso maior potencial.

 

Sou mineiro, nasci no interior, no município de Rio Paranaíba, cresci na zona rural, sempre estudei em escola pública, tive professoras e professores que foram fundamentais, que faziam o seu melhor frente à limitação da educação pública de nosso país. Sempre fui bastante estudioso e passava de série com bastante facilidade. Na minha região, à época, não havia universidade pública, mas tinha como certo que faria diversos provas / vestibulares para acessar o ensino superior público.

 

Como grande parte da minha família, inclusive irmãos, morava em Brasília, em 2002, me mudei para a capital, onde terminei o último ano de ensino médio numa escola pública de Taguatinga-DF. Além disso, comecei um preparatório voltado para ingresso à Universidade de Brasília (UnB). Até essa fase, ainda não tinha certeza do curso superior que eu tentaria. Perto das inscrições nas provas, escolhi enfermagem.

 

A opção pelo curso estava relacionada ao fato de gostar bastante de biologia/vida, cuidado com o próximo, uma profissão bastante prática que produz resultado imediato, além de influência de amigos próximos que eram enfermeiros e estavam com boas oportunidades de emprego.

 

Passei pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS) da UnB. Foi uma das maiores alegrias da minha vida. Mas nem todos à minha volta acreditavam que eu tivesse feito a melhor escolha. Ouvi comentários como: “você poderia fazer outro curso”, “poderia passar em um curso melhor”. Gostei muito do curso, me dediquei e estudei bastante. Mais tarde, já quase formado e mesmo depois de formado sempre ouvi frases como: “nossa, você é quase médico”, “nem parece enfermeiro”. Tenho certeza que muitos que estão lendo este texto já ouviram a mesma coisa.

 

Sobre isso, o que eu pensava e penso: nossa profissão é maravilhosa, é a ciência que se dedica ao cuidado da saúde do ser humano e não somos “quase” nenhuma outra profissão. Somos enfermeiros e merecemos reconhecimento e valorização por isso. A enfermagem é protagonista e, não, mera coadjuvante na assistência à saúde, na pesquisa e na educação.  Por oportuno, não posso deixar de citar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o ano de 2020 como ano internacional dos profissionais de enfermagem. Coincidentemente, mesmo ano do surgimento da terrível pandemia de COVID-19, sendo o profissional de enfermagem linha de frente nessa batalha.

 

Quando e por que comecei a estudar para concursos? Durante a graduação, fui descobrindo que oportunidades de melhor remuneração para enfermeiros, em regra, estão no serviço público. Outrossim, Brasília é uma cidade onde as pessoas “respiram” concurso. Tais fatores, somados à influência de muitos de minha família serem também do serviço público, foram me direcionado ao interesse pela carreira pública. Comecei a estudar para concursos públicos desde os tempos da universidade e fiz minhas primeiras  provas ainda na metade da graduação. Fui reprovado ou passei muito mal classificado nas primeiras que tentei.

 

Mas com o passar do tempo, estudei bastante e fui acumulando conhecimento. Hoje, vejo com clareza que era como uma fila, quanto mais eu permanecia nela, o que exige persistência e  esforço demasiado, mais eu estava chegando perto de cargos que almejava ser aprovado e nomeado.

 

Depois de uns 2 ou 3 anos, já graduado, comecei a passar em diversas provas, Tribunais Superiores, por exemplo. Passava entre os 5, entre os 10 primeiros, batia na trave, mas não era nomeado. Era uma mistura de felicidade por estar indo bem, mas de insegurança e medo de ficar nessa situação eternamente e morrer na praia. Os concursos para enfermeiros nas melhores carreiras do serviço público possuem pouquíssimas vagas.

 

Dentre as batidas de trave, destaco a classificação para a prova prática da Câmara dos Deputados em 8º lugar, um certame com 3 vagas; terminei classificado em 16º lugar. Além disso, a classificação em 4º lugar para o Tribunal Superior do Trabalho, um concurso com 1 vaga e que nomeou até o 3º lugar.

A rotina de estudos exige muito. Acredito que não exista receita pronta para passar nem métodos milagrosos. Creio que, independentemente da rotina traçada, algumas características devem sempre orientar qualquer candidato e o ajuste fino do melhor método cabe a cada candidato. Determinação, planejamento, foco e persistência são fatores fundamentais para o alcance da aprovação.

Entre um concurso e outro estudei bastante por 6 anos, fiz cursinhos preparatórios, principalmente de matérias que eu não tinha o domínio exigido e sempre estavam nos editais, e estão até hoje, tais como português, redação, língua estrangeira, direitos constitucional e administrativo, entre outras. Sempre fiz bastante resumos nos meus cadernos. Eu possuía resumos feitos à mão de todas as matérias básicas e das diversas áreas de enfermagem. Costumava manter um padrão de dedicação regular ao longo dos anos de estudo e intensificava sobremaneira após publicação de edital de interesse. O maior desafio é não interromper os estudos por períodos prolongados e manter, mesmo que mais leve, um padrão regular de estudo.

O concurso do Senado Federal, órgão que trabalho atualmente, teve seu edital publicado num momento em que eu não estava esperando. Era bem no final de 2011, bem pertinho do Natal e Ano Novo. Como tinha passagem para passar a virada de ano no Rio de Janeiro, acabei viajando, fiquei uns 5 dias nessa viagem.

Quando voltei, fiz meu planejamento de estudos e me dediquei todos os dias até a semana da prova, que ocorreu em 11 de março de 2012.

 

Durante o estudo para o Senado, estava trabalhando na Secretaria Estadual de Saúde do Distrito Federal e no Ministério da Justiça. A carga horária semanal nos 2 trabalhos era de 55 horas. Nos horários que eu tinha livre,  aproveitava ao máximo cada hora. E ainda fazia o possível para conciliar descanso e um pouco de atividade física. Confesso que às vezes não conseguia aquele equilíbrio tanto almejado (dormir bem, comer bem, estudar bem). Alguns dias eram um verdadeiro desastre, mas sempre tentava equilibrar essa equação. Nos anos de concurso sempre fiz de tudo para manter continuidade nos estudos. Embora em alguns dias, por diversos motivos, não seja possível estudar bem, o mais importante é não parar. Quando paramos, começamos a ficar pra trás ou até voltamos ao final da fila na disputa.

Lembro-me que passei o carnaval estudando, tive algumas aulas em cursinho, inclusive. Passei o feriadão de Carnaval estudando, mas pensava que a recompensa poderia ser muito maior, e foi. Fiz a prova normalmente no dia 11 de março de 2012, fiquei até o final, saí faltando poucos minutos para o final das provas. No entanto, um pouco mais tarde, à noite, soube do cancelamento das provas de 3 cargos. Analista Legislativo – Enfermagem era um deles.

No momento do cancelamento, não sabia se era bom ou ruim. Mas logo na semana que se seguiu tive certeza que era uma boa notícia, pois após conferir o gabarito oficial fui reprovado em inglês por 1 questão. Inglês nunca foi meu forte, talvez por ser uma disciplina ruim no ensino público. O fato é que sempre carreguei esse déficit. Era necessário ter pelo menos 50% de acertos em cada matéria e acertei 4 de 10 questões em inglês. Ou seja, estaria reprovado, nem teria minha redação e prova discursiva corrigidas.

Contudo a prova estava anulada e foi remarcada para 14 de abril de 2012. Naquele mês, continuei minha rotina de estudos com o ritmo intenso. Embora tenha dado uma atenção especial ao inglês, continuei estudando todas as matérias com uma grade semanal de estudos que organizava. Aqui compartilho mais um estilo que adotava: sempre dividia horários de maneira que passava por todas as matérias toda semana. Qualquer candidato tem uma tendência a estudar algumas matérias em detrimento de outras. Fazer a distribuição de estudos ajuda a não negligenciar nenhuma disciplina.

Fiz a prova novamente com aquele frio na barriga. Conferi o gabarito na semana que se seguiu e dessa vez vi que tinha conseguido o mínimo em todas as matérias. Inglês raspando – 6 de 10 questões. Estava com o mínimo para seguir na disputa.

 

 

Foram alguns meses até o resultado final  e passei em 3º lugar das 5 vagas. Até hoje reflito sobre essa questão: se a primeira prova não tivesse sido anulada, não teria passado nesse concurso e seriam outros os aprovados. A maior lição que tiro é que sempre temos de nos dedicar da melhor maneira possível e fazer a nossa parte. As oportunidades vão e vêm o tempo todo, seja como autônomo, como trabalhador do serviço público, do serviço privado, dentre outras possiblidades. Dos 5 enfermeiros nomeados no concurso do Senado, as posições do 2º ao  4º lugar ficaram exatamente com os mesmos pontos, até os décimos.  Fomos desempatados pela nota da prova discursiva. Aqui reitero a importância de cada ponto. Fazer toda a prova com a máxima atenção é muito importante, inclusive valorizando questões fáceis, no final qualquer ponto pode fazer a diferença. Outra dica é não ficar muito tempo numa questão complicada demais, que pode tomar muito seu tempo de prova. Sempre deixava esse tipo de questão pendente e voltava depois de ter visto toda a prova.

 

Conforme supracitado, tive aproximadamente 3 meses e meio entre a publicação do edital e a realização da prova. Esse período foi decisivo na minha aprovação, mas não teria obtido êxito sem o preparo prévio. Foram anos estudando e fazendo provas. Acho que fiz entre 20 e 30 concursos. Isso traz experiência e acúmulo de conhecimento e determina a aprovação final. Portanto, em regra, não são somente os poucos meses prévios que levam a uma aprovação num concurso de dificuldade elevada, mas, sim, a história de estudo e dedicação.

 

Ademais, quantidade de horas, isoladamente, não significa bom estudo. É necessário trazer qualidade às horas estudadas. Saber exatamente o conteúdo a ser estudado, utilizar referência bibliográfica adequada, conhecer suas limitações e buscar apoio com aulas e cursos especializados são alguns dos exemplos para um estudo de qualidade.

 

Outro fator obrigatório para mergulhar de vez num concurso é conhecer o edital muito bem. É necessário analisar cuidadosamente o conteúdo programático do edital. Conheci pessoas que negligenciaram determina disciplina e perderam questões que poderiam ser facilmente garantidas. Uma orientação que ajuda bastante, quando for o caso, é treinar questões de provas antigas da banca organizadora do concurso. Isso, além de ser ferramenta fundamental para acumular conhecimento, faz o candidato se familiarizar com o estilo da banca. Quanto não houver prova prévia da banca examinadora, sempre vale treinar provas de outras bancas.

Outrossim, é recomendável dividir o tempo entre conteúdo teórico e resolução de questões. Treinar questões é, sem dúvida, muito importante no bom êxito do candidato.

Por fim, gostaria de falar mais uma vez que não acredito que exista uma receita ideal para a rotina de estudos, mas, sim, orientações gerais e sugestões. No final, cada pessoa, ao seu estilo, deve encontrar o seu método e a sua rotina. E, repito novamente, a persistência, o foco, o planejamento, a qualidade do estudo, a disciplina e a determinação são de suma importância no resultado final.

Currículo de concursos – todos para enfermeiro:

7 aprovações e nomeações: Senado Federal, Ministério da Justiça, Hospital Sarah Kubsticheck, Hospital das Forças Armadas, Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, Prefeitura de Belo Horizonte, Prefeitura de Betim, Ministério da Justiça,.

Aprovações sem nomeação: Ministério Público da União, Câmara dos Deputados, Tribunal Superior Militar, Tribunal Superior do Trabalho, Supremo Tribunal Federal, Marinha, entre outros.

Concorrência na aprovação do Senado Federal – 2012 (último concurso): 1.057,6 por vaga (5 vagas – 5.288 candidatos).

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