Olá, pessoal! Tudo bem? Sou a professora Débora Juliani, farmacêutica, especialista em Análises Clínicas. Faço parte da equipe do Gran Concursos e neste artigo vamos falar sobre um tema com o qual a maior parte dos analistas de laboratório tem pouca familiaridade: os líquidos biológicos!
Você já parou para pensar no que os líquidos biológicos podem nos revelar sobre a fisiologia dos nossos órgãos? Esses fluídos, aparentemente simples, escondem uma riqueza de informações sobre nossa saúde.
Começando com o básico: o que são líquidos biológicos? Os líquidos biológicos incluem, além do sangue, é claro, o líquor, os líquidos pleural, pericárdico, peritoneal e sinovial, dentre outros, que circulam ou preenchem cavidades corporais. Eles possuem as mais diversas funções, desde lubrificação das superfícies, até nutrição das células, remoção de substâncias tóxicas e até mesmo de proteção mecânica e barreira contra infecções.
Uma consideração importante a ser fazer é que além de tudo isso, os líquidos biológicos também servem como indicadores do funcionamento dos órgãos com os quais se relacionam. O simples fato de seu volume normal sofrer um aumento significativo, ou seja, de ocorrer uma efusão ou um derrame pleural/pericárdico/peritoneal/sinovial já indica que algo não vai bem, por exemplo, devido a alterações na pressão dos capilares ou a um processo inflamatório ou infeccioso.
A partir daí é recomendada a coleta desta efusão para classificar o líquido em exsudato (sugestivo de inflamação, infecção ou neoplasia) ou transudato (de origem não inflamatória, normalmente secundário a uma doença sistêmica).
Abrindo um breve parênteses para falar sobre a coleta destes líquidos… O procedimento recebe um nome que varia a depender do nome da cavidade em que o líquido se encontra, veja só:
- Coleta do líquido pleural (na região torácica, envolvendo os pulmões): TORACOCENTESE
- Coleta do líquido pericárdico (esse é fácil): PERICARDIOCENTESE
- Coleta do líquido peritoneal (esse é mais difícil pois não se relaciona diretamente com o nome da cavidade): PARACENTESE
- Coleta do líquido sinovial (nas articulações): ARTROCENTESE
Voltando à classificação das efusões em exsudato ou transudato, para fazê-la de maneira mais objetiva, existem os critérios de Light que preconizam que o líquido é considerado um exsudato se pelo menos um dos seguintes critérios for atendido:
Relação proteína do líquido/proteína sérica > 0,5
Relação desidrogenase lática (LDH) do líquido/LDH sérica > 0,6
LDH do líquido > 2/3 do limite superior normal para LDH sérica
Note que os critérios de Light foram originalmente propostos e são mais comumente aplicados ao líquido pleural, mas seus princípios básicos (comparação de proteínas e LDH entre o líquido biológico e o sangue) podem ser adaptados para avaliar outros líquidos biológicos, como o líquido peritoneal, pericárdico e, em menor grau, o sinovial.
Falando sobre o líquido peritoneal, especificamente, temos uma curiosidade: diferente dos demais líquidos, este líquido situado na cavidade abdominal, quando em situação de efusão/derrame recebe um “apelido carinhoso” e passa a se chamar líquido ascítico. Outra peculiaridade em relação a ele é que para determinar a causa de seu acúmulo, utiliza-se outra ferramenta que não os critérios de Light. Estou falando do índice GASA (diferença entre albumina do soro e do líquido).
GASA ≥ 1,1 g/dL sugere transudato
GASA < 1,1 g/dL sugere exsudato
Falando sobre o líquido sinovial, não podemos deixar de mencionar que, diferente dos demais líquidos que são basicamente um ultrafiltrado do plasma, no caso do líquido sinovial, ele é resultado também da ação secretora das células da membrana sinovial, que produzem mucina e ácido hialurônico para promover a ação “lubrificante” e “amortecedora de impactos” nas articulações.
A presença destas substâncias faz com que o líquido sinovial seja viscoso. Porém, na vigência de processos infecciosos ou inflamatórios, ocorre a produção de hialuronidase e metaloproteinases que despolimerizam o ácido hialurônico e reduzem consideravelmente sua viscosidade, por consequência, reduzindo sua capacidade de lubrificar as articulações.
E o misterioso liquor (LCR)? Também chamado de líquido cefalorraquidiano, ele é produzido no cérebro e circula entre as meninges, protegendo e nutrindo o sistema nervoso. Alterações em sua composição podem revelar doenças como meningite ou hemorragias intracranianas. Mas o LCR é um universo à parte e merece um artigo inteirinho só para ele!
Em linhas gerais (pois se eu fosse me aprofundar nisso, não seria um artigo e sim uma apostila), uma vez coletado o líquido biológico, são realizadas, além das análises físicas, análises citológicas para definir a contagem global e diferencial de leucócitos e eventualmente a contagem de hemácias; análises bioquímicas com dosagem de marcadores como proteínas, glicose, LDH, dentre outros, e análises microbiológicas para identificar a possível presença de bactérias, fungos ou micobactérias.
Espero que nesses breves parágrafos você tenha percebido que cada líquido biológico é como um quebra-cabeça a ser desvendado. Eles ficam “quietinhos” em nossas cavidades corporais e até podem parecer invisíveis, mas, para nós, analistas de laboratório, eles contam histórias surpreendentes!
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