Falar sobre o tema saúde nos dias atuais é complexo e delicado, a realidade do descaso e o não cumprimento das políticas públicas se refletem diretamente no cuidado ao paciente. sus
Somos frutos de uma cultura curativista, centrada na doença. As ações de promoção só foram discutidas e pontuadas como fundamentais ao longo de um processo em que deixamos de considerar saúde apenas como “ausência de doença” e passamos a entender o paciente de forma humanizada, individualizado, onde o mesmo deixa de ser a patologia e passa a ser o elemento central, com capacidade de decisão sobre o seu cuidado.
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de 1988, com essa proposta de humanização do cuidar, fundamentado nos seus princípios e diretrizes de universalidade, integralidade e equidade, contudo a realidade que vemos no nosso serviço público mostra a distância em que se encontra a proposta humanizadora do SUS.
Como falar de humanização diante de tanto descaso na saúde? Das filas intermináveis, de pacientes “jogados” nos corredores, de consultas e cirurgias que demoram anos para serem realizadas? De profissionais que trabalham em jornada dupla, em precárias condições com baixos salários, interferindo na qualidade do seu atendimento?
O SUS no papel é perfeito, mas na realidade é uma utopia, não tem como a saúde ser vista de forma isolada em relação a todas as outras questões que envolvem o indivíduo, como o bem-estar físico, mental e social, por isso as desigualdades sociais bem como a erradicação da pobreza precisam ser consideradas como fatores determinantes no processo saúde/doença.
A educação popular em saúde precisa ser trabalhada como estratégica política, na perspectiva de integração da participação ativa da comunidade através do diálogo e da construção compartilhada de conhecimentos, de forma a proporcionar uma integração da cultura popular com a científica.
Paulo Freire foi o precursor da Educação Popular, proporcionou que houvesse relações entre intelectuais e classes populares, no seu livro Pedagogia do Oprimido (1979) é visível essa preocupação em que a educação em saúde não seja algo estático, precisa ser modificada conforme as práticas populares, destacando que não basta “querer mudar a sociedade”, seria fundamental “saber mudar”.
Por tudo isso é notória a necessidade que dentro das nossas escolas, universidades existam educadores com essa visão de uma nova forma de educar em saúde, que consigam despertar nos seus alunos, futuros profissionais comprometidos com os princípios da ética, da humanização do cuidar, do querer fazer a diferença diante de uma realidade cruel, onde a cada dia perdemos vidas por falta de vagas em leitos de UTI e parece que nós nos acostumamos a conviver com isso como se fosse algo natural.
Deixar de prestar assistência em casos de urgência ou perigo de vida é crime de omissão de socorro (código penal, art. 135) e quem responde por esses crimes? Precisamos ter a consciência de que o Estado deverá assumir e ser responsabilizado por essas vidas.
A saúde pública precisa sim de uma reforma administrativa. O caos é total, a saúde entrou em colapso, os nossos hospitais estão falidos, mas também temos que educar a população para a saúde. A cultura do pronto socorro precisa ser modificada para ações preventivas, o profissional da atenção básica precisa ser reconhecido como peça fundamental desse processo de transformação, onde o paciente procura o cuidado bem antes de apresentar os sintomas. Da mesma forma, as condições mínimas precisam ser disponibilizadas a esses profissionais, que em sua grande maioria não se sentem motivados a trabalharem em locais muitas vezes insalubres, sem qualquer recurso para exercerem sua profissão.
Estamos fartos, cansados de discussões que não levam a nada, de promessas que não se cumprem, de leis que permanecem apenas no papel, de empresas que insistem na privatização do serviço público com interesses escusos, está na hora de reagirmos frente a esse descaso em que se encontra a saúde pública do nosso país, não podemos ficar passivos diante da saúde que temos e sim almejarmos e lutarmos em prol da saúde que queremos. A iniciativa começa através de cada um em não aceitarmos o mau atendimento, em não sermos passivos ao descaso com a nossa necessidade e de fazer cumprir o que rege a Constituição Federal/1988 em seu art. 196 “A saúde é um direito de todos e dever do Estado…”
Andrea Paula é graduada em Enfermagem, especialista em saúde pública, PSF, docência do ensino superior e mestranda em educação. Professora de cursinhos, preparatórios para concursos há mais de 14 anos em Brasília e em outros estados. Professora de cursos online da disciplina Políticas Públicas de Saúde, com ênfase na legislação do SUS (Sistema Único de Saúde). Coordenadora do curso de pós-graduação online e coordenadora de cursinho presencial. Experiência de 13 anos no Serviço Público, em hospital materno infantil, na área de pediatria cardiológica e pneumologia.
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