Quem tem medo de redação?

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31 de julho3 min. de leitura

Reflexões sobre a segunda fase do CACD

A folha em branco, olhando para você, está ávida por palavras. O seu futuro depende dessas palavras, que são muitas: entre 600 e 650 na redação e entre 120 e 150 em cada um dos dois exercícios. Você precisa de, no mínimo, 840 palavras para preencher esse vazio do papel, na segunda etapa do CACD. A depender do tamanho da sua letra, você precisará de cinco páginas preenchidas. As palavras nunca foram tão importantes, não é mesmo?

Essa imagem apavora muitos candidatos, e não sem razão!

A prova da primeira fase (o antigo Teste de Pré-Seleção -TPS) é difícil e extenuante, mas, como prova objetiva, exige do candidato um volume enorme de informação. Basicamente, é preciso ter um HD mental com capacidade ilimitada de armazenamento de dados: conceitos, datas, estatística. O candidato deve ler o item, confrontá-lo com os arquivos que estão nesse HD e, com base neste confronto, julgar a afirmação como certa ou errada. Parece fácil, mas sei que não é bem assim, estou usando uma metáfora facilitadora. Claro que há muita reflexão nesse processo, além de muitas sinapses serem necessárias. Mas, convenhamos, nesse tipo de prova o candidato é um ser passivo, nada fornece à banca além de julgamentos objetivos.

Esse quadro muda na segunda fase. Muito mais do que na terceira, e a banca organizadora sabe disso. Não é à toa que o tempo de cada prova da terceira fase é menor do que o da segunda, apesar de naquela o volume de laudas ser maior. Em uma comparação bem aproximada, visto que a segunda fase trabalha com número de palavras e a terceira com número de linhas, esta vai exigir cerca dez laudas, aquela, cinco. Por que, então, menos tempo para mais linhas? Porque a comissão sabe que a exigência da segunda fase é maior. Bem maior!

Nesta fase, espera-se que o candidato tenha domínio da norma culta, capacidade de estruturar um texto coerente e coeso e seja capaz de revelar capacidade analítica sobre temas diversos. É um treino/teste para as atividades que um diplomata deve realizar: escrever bem e corretamente, em tempo restrito, com criticidade respaldada em argumentos.

Em razão disso, essa fase coloca o candidato em uma posição ativa: cabe a ele produzir, executar, laborar o texto. Para isso, é necessária uma preparação tão árdua quanto a do TPS, mas diferente em sua essência. É preciso, claro, muita leitura de bons autores, mas também muito treinamento, dedicação e técnica. Escrever é um exercício de transpiração, não de inspiração.

Há três grandes etapas envolvidas nesse processo de produção de texto: planejamento, execução e revisão. O planejamento é a mais importante delas. Nele, o redator deve observar o tema e sua amplitude, definir a tese e levantar, selecionar e ordenar ideias. A execução, por sua vez, exige estabelecimento da conexão discursiva (coesão) entre as partes, preocupação com o vocabulário e com a correção gramatical. A revisão, finalmente, é o momento de ajuste fino do texto, do olhar atento e crítico sobre a adequação da linguagem.

Tudo isso pode ser um exercício intelectual prazeroso, mas não se você estiver correndo contra o tempo e sob uma infinita pressão de obter nota suficiente para se manter em competitividade. O edital do CACD estabelece que o mínimo é de 60% na segunda fase, mas os candidatos aprovados obtêm em torno de 80% da nota. Obter 60% já é motivo de muita comemoração, pois permite à ascensão à segunda fase, mas não tem sido suficiente para levar o candidato ao topo.

Ninguém pode ser tão ingênuo a ponto de achar que isso é fácil. É muito difícil e, por isso, exige muito treinamento e técnica. Meu conselho ao candidato é: ganhe familiaridade com as palavras, leia bons autores, leia sobre temas diversos, escreva, submeta-se à avaliação de outros leitores. Não há, acredite, fórmulas prontas – a comissão julgadora das redações para o IRBr refuta essas fórmulas, chamadas de clichês. O que se quer é autonomia e maturidade intelectual. E isso não significa, como muitos acham, preciosismos de linguagem ou criatividade linguística e argumentativa. De jeito nenhum! Aliás, desaconselho isso veementemente. A questão é de substrato de conteúdo e domínio da linguagem, que passa pela correção gramatical, mas não se esgota nela.

Como a esfinge de Édipo, a folha em branco vai exigir que você decifre um enigma, aquele da textualidade: Preenche-me ou devoro-te. Não zombe dessa ameaça, não deprecie o seu inimigo. Prepare-se para ele, com respeito, mas sem subserviência.



Tereza Cavalcanti
– Professora de língua portuguesa desde 1984. Formada pela Universidade de Brasília em 1986 (Letras – Português), com especialização em Literatura Brasileira pela mesma instituição e em Docência para Ensino Superior pelo IESB. Trabalhou em educação regular (ensino médio e superior) e em cursos preparatórios para vestibular durante vinte e cinco anos. Há vinte anos, dedica-se à preparação para concurso público, ministrando aulas de gramática, interpretação de texto, redação oficial e redação discursiva. Aprovada em diversos concursos (Secretaria de Educação, Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Colégio Militar, Correios, IF-DF, Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal Militar), encontrou nas aulas para concurso sua verdadeira vocação e tem-se dedicado exclusivamente a essa área há dez anos.

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