A pergunta que não quer calar: a redação da Secretaria de Educação (SEE-DF) será expositiva ou argumentativa?

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03 de janeiro5 min. de leitura

Secretaria de EducaçãoNos últimos tempos, tenho respondido a centenas de dúvidas dos nossos alunos que irão prestar o concurso para a Secretaria de Educação do Distrito Federal e a mais emblemática se refere ao tipo de redação que será cobrado pela Banca CESPE/Cebraspe em dito certame. Apesar de muitos colegas ainda apostarem na dissertação argumentativa, quem fizer um estudo um pouco mais criterioso das últimas provas, poderá constatar que a modalidade adotada por esta Banca será a dissertação de teor expositivo.

Assim, é possível afirmar que a redação do CESPE será uma DISSERTAÇÃO DE CARÁTER EXPOSITIVO, a qual se apresentará sob a forma de alguns aspectos (dentro de um tema da atualidade) que o candidato deverá esclarecer.

Muito bem, por que a professora faz essa afirmação? Vamos aos fatos.

Em primeiro lugar, faz-se necessário esclarecer que a última redação argumentativa cobrada por esta Banca examinadora pode ser encontrada na prova do concurso para a Caixa Econômica Federal, realizado em 2014. Nessa ocasião, o CESPE deixou plasmado no comando da redação o tipo/gênero de texto que deveria ser produzido pelo candidato: expositivo-argumentativo.  Ora, se alguém me diz para escrever um texto expositivo-argumentativo, eu nem titubeio, pois sei que a argumentação, dado seu escopo de tentativa de persuasão do leitor, terá, forçosamente de se sobrepor à exposição, dada sua característica de texto meramente informativo. A argumentação tem uma força incontrolável, já que é um texto em que se apresentam as ideias de forma mais contundente, “quase agressiva”, e isso dá a ela o poder de sobrepor-se a qualquer outra modalidade.  Restando claro o objetivo do CESPE de cobrar uma argumentação, apenas para corroborar o que afirmo, a Banca apresentou ao candidato um tema único, amplo, para que ele o delimitasse e, sobre ele, defendesse o seu próprio posicionamento. Neste caso, o tema era: “Os aspectos negativos e positivos dos avanços tecnológicos na sociedade moderna”.

Em segundo lugar, a prática da Banca CESPE, nos últimos tempos, tem sido de cobrar textos expositivos – ainda que o tema da redação seja um tópico relevante da atualidade, como é o caso específico da prova da SEE-DF.  Sim, mas como é que se evidencia a cobrança do texto expositivo nessas provas?  Porque a Banca elenca, no comando da redação, alguns aspectos dentro do tema principal que o candidato precisa apenas esclarecer, ou seja, informar o que sabe sobre eles. E, somente para reiterar, o CESPE fez isso na quase totalidade das provas, nos últimos anos, independentemente do tema escolhido no certame – se versava sobre conhecimentos específicos constantes no edital ou sobre tema relevante da atualidade. Dirimida essa dúvida, vamos ao tipo do texto a ser produzido.

QUAL É DIFERENÇA BÁSICA ENTRE O TEXTO EXPOSITIVO E O TEXTO ARGUMENTATIVO?

(ASPECTOS DE FORMA E CONTEÚDO)

Em primeiro lugar, vamos esclarecer a diferença entre os dois textos do ponto de vista do conteúdo e de sua finalidade.   O que é uma argumentação?  Argumentar é uma palavra que se origina do latim “Argentum”, que significa prata. A prata reluz, ilumina, brilha. Daí se conclui que argumentar é trazer um assunto à luz e colocá-lo em discussão com o leitor.  Na prática da prova do concurso, argumentar significa “apresentar um conjunto de razões a favor de uma conclusão ou oferecer dados favoráveis para uma conclusão”. No texto argumentativo, os argumentos (ideias secundárias) são cruciais por um motivo: eles são a maneira pela qual o candidato oferece razões e dados para que as outras pessoas possam formar a sua própria opinião sobre o assunto trazido à luz.  Então, do ponto de vista do conteúdo, o texto argumentativo, na prova do concurso, se traduz na “tentativa de convencimento do leitor/corretor” – e, para isso, é necessário que o candidato apresente argumentos suficientemente fortes e bem consubstanciados. Ele precisa mostrar ao leitor, com clareza e precisão, que os pontos de vista apresentados são suficientes para dar comprovação à ideia por ele defendida.  E, agora, o que é uma exposição? O verbo expor (ex = de dentro para fora, ponere = soltar) tem raiz latina e seu significado está atrelado à ideia de “falar sobre algo para torná-lo conhecido, manifesto”. Então, na prática, o texto expositivo tem por finalidade o esclarecimento de determinado conteúdo proposto no comando da redação.  Ora, se o objetivo é apenas esclarecer/explicar o tema apresentado no comando, o candidato não terá de se preocupar em convencer o leitor/corretor (ele sequer emitirá abonações, juízos de valorem tal modalidade de texto). Então, está clara a diferença entre a dissertação de caráter argumentativo e a dissertação de caráter meramente expositivo: esta possuiu um teor mais informativo, conceitual e aquela tem um viés mais opinativo, persuasivo.

Em segundo lugar, quanto à forma, os dois textos, embora tenham a mesma origem, se diferenciam em razão da sua própria finalidade nas provas de concursos públicos. Nas dissertações argumentativas, o examinador deve verificar a habilidade do candidato de lançar argumentos suficientemente fortes para dar sustentação à defesa de seu próprio ponto de vista sobre determinado tema. Nesse caso, além de conhecer bem o assunto, o candidato precisa emitir sua opinião e tentar convencer o examinador de que detém a razão em seu ponto de vista.  Observe que, para convencer o leitor, o texto precisa estar muito bem organizado e coerente. Por isso, a estrutura padrão desta dissertação se materializa, em três partes, da seguinte forma: I. A apresentação do tema e a exposição da tese, de forma breve e clara.  II. O corpo da argumentação, que deve conter as razões que apoiam a tese e a refutação das opiniões contrárias. III. A conclusão, a qual consiste no reafirmar da tese. Fica clara, também, a necessidade do uso de conectores gramaticais para estabelecer vínculos lógicos entre os parágrafos – com isso, o candidato mostra, de forma taxativa, qual foi a linha de raciocínio utilizada (por exemplo, se ele estabelece uma relação de causa e consequência entre os eventos; se ele apresenta os prós e os contras de determinadas ações; se ele enumera motivos/razões contrárias ou favoráveis em relação a qualquer tomada de decisão etc.).

Nas dissertações expositivas, o examinador deve avaliar a capacidade do candidato de explicar, esclarecer conceitos a ele apresentados no comando da prova de redação. E, neste caso, o candidato precisa conhecer bem o assunto e fornecer informações corretas, pertinentes sobre ele. Mas, por que a estrutura deste texto pode ser mais flexível?  Em primeiro lugar, não há a necessidade de um parágrafo específico para a introdução, porque não há a defesa de uma tese e o assunto a ser esclarecido pode, de maneira objetiva, ser apresentado na abertura do parágrafo de esclarecimento do primeiro aspecto. Não há a necessidade de fazer uma conclusão para esta dissertação, porque, aqui, o que se faz é apenas explicar o assunto, esclarecer conceitos e isso não exige uma conclusão (que seria um resumo, uma retomada da ideia inicial ou uma solução, característicos de uma argumentação). Daí, também, não ser necessário o uso de conectores gramaticais para ligar os parágrafos, pois não há uma linha de raciocínio a ser demarcada. Na maioria das vezes, os aspectos elencados pela Banca CESPE/Cebraspe não possuem um vínculo estreito a ponto de serem relacionados logicamente (que, na prática da prova, é como se o candidato apenas escrevesse questões discursivas em um mesmo formulário).

Restando claras as diferenças dessas duas modalidades cobradas nas provas da Banca CESPE, cabe aos alunos praticarem bastante para ganharem maior segurança. Como dizia Clarice Lispector, temos medo do que é novo. Então, se praticarmos, o novo passará a ser mais fácil, tangível e, consequentemente, mais aceitável.

Desejo a todos os nossos alunos e concursandos muita sorte na prova e muito sucesso na carreira vindoura na Secretaria de Educação!


Vânia Araujo é licenciada em Letras, pela Universidade de Brasília (UnB). Ministra aulas de Interpretação de textos e de Redação Discursiva há mais de dez anos nos principais cursos preparatórios para vestibulares e concursos do Distrito Federal. Já trabalhou também em cursos de Belo Horizonte e Goiânia.

 

 


Detalhes do concurso SEDF 2016:

  • Concurso: Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (Concurso SEDF 2016)
  • Banca organizadora: Cespe/UnB
  • Cargos:  Professor; Analista; Técnico; Monitor
  • Escolaridade: Níveis médio e superior
  • Estados: DF
  • Número de vagas: 2,9 mil vagas (imediatas + cadastro de reserva)
  • Remunerações: Até R$ 5 mil
  • Inscrições: Entre 2 e 23 de dezembro de 2016
  • Taxa: R$ 50, R$ 55, R$ 85 ou R$ 90
  • Prova: 29 de janeiro de 2017 (professor) ou 22 de janeiro de 2017 (demais cargos)

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