Garantidamente, esse é o título de um dos eventos mais badalados atualmente da Capital Federal! Apesar de ser realizado também em outras localidades, o apelo em torno da edição brasiliense é forte, uma vez que os habitantes daqui estão tão distantes do incrível litoral brasileiro!
Nesta semana, ao olhar para o nome do projeto, inúmeras reflexões linguística povoaram a minha cabeça. Gostaria de compartilhá-las com vocês!
- O sujeito da forma verbal “vejo” é classificado gramaticalmente como elíptico, desinencial ou oculto. Pode-se perceber que, implicitamente, há um eu (primeira pessoa do singular) antes do verbo. Se, por acaso, o nome do evento fosse eu te vejo na praia, o sujeito seria classificado como simples, uma vez que está verbalmente expresso.
- Chama a atenção também o fato de o nome do evento começar com “te”. Segundo a norma padrão, é proibido o uso de pronomes oblíquos átonos em início de frase – portanto, há uma incorreção gramatical. Opções gramaticalmente corretas seriam vejo-te na praia (com o pronome em posição enclítica) ou eu te vejo na praia (a presença do sujeito licenciaria a próclise); todavia, as formas gramaticalmente corretas não possuem o mesmo apelo mercadológico. Usar adequadamente uma língua exige discernimento. O objetivo do evento é promover entretenimento, e não prescrever regras linguísticas. Você já ouviu falar em licença poética? Chamarei o que os criadores do projeto fizeram de licença comercial. Nesse caso, o marketing deve falar mais alto!
- O pronome “te” foi empregado com a função sintática de objeto direto, pois quem vê, vê alguém! E há algo legal nisso: como esse pronome é de segunda pessoa, faz referência à pessoa com quem se fala! Então, o título dialoga com o próprio receptor da mensagem – que é o objetivo de qualquer propaganda! É um objeto direto em contato direto com o potencial cliente!
- “Na praia” – que é inclusive a abreviatura comumente usada entre as pessoas que prestigiam o evento – funciona como um adjunto adverbial de lugar! Por estar em posição canônica, poderia ser ou não isolado por vírgula. Mas, convenhamos: o sinal de pontuação não deixaria o título tão atraente!
Viu como a língua portuguesa está em diversos contextos? E mais: viu como ela deve ser moldada para cada uma das suas finalidades? A língua é um instrumento, e cabe ao usuário saber o que quer extrair dela!
Aposto que a sua próxima visita ao “Te vejo na praia” não será mais a mesma – pelo menos do ponto de vista linguístico! Logo na entrada do evento, você vai se divertir imensamente com as possibilidades de análises sintáticas ligadas aos letreiros e flyers!
P.S.: Acho que nunca fiz um texto tão nerd!
Elias Santana
Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Respectiva Literatura – pela Universidade de Brasília. Possui mestrado pela mesma instituição, na área de concentração “Gramática – Teoria e Análise”, com enfoque em ensino de gramática. Foi servidor da Secretaria de Educação do DF, além de professor em vários colégios e cursos preparatórios. Ministra aulas de gramática, redação discursiva e interpretação de textos. Ademais, é escritor, com uma obra literária já publicada. Por essa razão, recebeu Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
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Adorei a reflexão nerd! kkkk
Essas análises acabam se tornando um vício… do bem, claro.
Ao mudar o tempo verbal para o futuro do presente, duas regras provocariam o uso da mesóclise:
1. neste tempo verbal (e também no futuro do pretérito) não é admitido o uso de ênclise;
2. não se pode iniciar frase com pronomes oblíquos.
Assim, teríamos: Ver-te-ei na praia!
Olha como ficaria chique! XD
OBS: Corrijam-me se detectarem erros, por favor! Comentar uma matéria sobre língua portuguesa feita por um professor de português dá um frio na barriga…
Uma frase pode ser iniciada com pronome pessoal reto, mas não se inicia oração, período, texto ou redação com pronome pessoal oblíquo, exceto sob licença poética.