Você acha que vale a pena fazer resumos? Caso já seja adepto dos resumos, construiu ou se apropriou de alguma técnica para a elaboração?
O objetivo do presente texto consiste no desenvolvimento de algumas considerações sobre a elaboração de resumos nos processos de estudo. Mas a intenção não é de que o tema seja esgotado neste texto, de modo que outros serão produzidos para avançar na reflexão e na colaboração.
Uma primeira idéia fundamental a ser considerada trata-se da finalidade dos resumos. Os resumos, enquanto modalidade de produção gráfico-textual, podem ter o sentido de técnica de estudo e/ou de meio de registro de informações.
No caso de adoção dos resumos enquanto técnica de estudo, a intenção consiste no desenvolvimento de um reforço cognitivo do objeto de conhecimento estudado. Já no caso do registro de informações, os resumos terão o sentido de facilitar as revisões.
A elaboração de resumos enquanto técnica de estudo pode ser bem compreendida a partir do modelo de explicação do processo de aprendizagem proposto pelo neuropsicólogo português Victor da Fonseca. Segundo este, a aprendizagem se desenvolve em quatro etapas, as quais correspondem às seguintes: (1) input: contato com a informação ou objeto de conhecimento; (2) cognição: compreensão e processamento da informação; (3) output: envolve alguma atividade cognitiva imediata com a informação, como falar, discutir, escrever ou resolver um problema; (4) retroalimentação: consiste na reiteração do contato posterior, o que está muito ligada à idéia da repetição (“Cognição, Neuropsicologia e Aprendizagem”. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 154).
No caso da elaboração de resumos ocorre um output, ao externar a informação apropriada, bem como a retroalimentação.
Não tenho dúvida, particularmente e pessoalmente, de que, em regra, numa avaliação conforme a lógica do custo-benefício, vale a pena a elaboração de resumos.
Porém, para quem ainda não sabe se vale a pena ou não, de modo a avaliar e entender os fundamentos que sustentam a compreensão de que de fato vale a pena, sugiro a leitura de dois textos já publicados aqui no Blog, quais sejam: (1) “Consistência x Tempo de Estudo”, no qual é analisada a relação custo-benefício quanto ao tempo demandado para a elaboração de resumos (clique aqui para ler); (2) “Leitura e Estudo: Qual a Diferença?”, no qual é analisada a diferença entre o conceito de leitura na concepção comum e literal, daquela que assume o sentido de estudo (clique aqui para ler ).
Compreendido o sentido da elaboração dos resumos, a finalidade e diante da premissa de que, efetivamente, vale a pena a sua adoção, a grande questão que se coloca é: mas como fazer???
Preliminarmente, confesso que tenho pesquisado o tema e encontrado alguma dificuldade em encontrar construções fundamentadas e sistematizadas, com eficácia cientificamente comprovada. Por isto, a abordagem a ser desenvolvida conta com um sentido muito mais empírico e prático do que teórico. E neste sentido, aos que se disponham, é importante a manifestação ao final do texto (em forma de comentário) da experiência e das técnicas que estão adotando, tanto para a colaboração com os demais, quanto para que sirva de material de pesquisa.
A compreensão do processo de elaboração dos resumos pode passar por três critérios de classificação, sem prejuízo de outros que venham a ser construídos ou identificados. O primeiro seria quanto à dinâmica, o segundo quanto ao conteúdo registrado ou à sua extensão e o terceiro diz respeito à forma de registro do conteúdo.
Quanto à dinâmica da elaboração dos resumos, a questão é se avançamos mais ou menos, até a realização da pausa necessária à elaboração do texto. Ou seja, estando desenvolvendo o processo de estudo, por meio da realização da leitura, quando devemos parar e fazer o resumo? Ao final do nosso turno de estudo? Ou ao final de uma página? De um capítulo? De um item de um livro? Ou de um parágrafo ou linha? Ou mesmo, não pretendendo adotar um critério objetivo-estático de pausa, e adotando um critério subjetivo-flexível, ao final de um conceito ou idéia que se fecha?
Enfim, a resposta a estas perguntas indica a opção adotada quanto à dinâmica da elaboração dos resumos. E daí você pode estar indagando mentalmente: mas afinal, qual é a melhor opção?
Resposta: como sempre digo, não estou aqui para dar a resposta adequada para você, pois não sou dono da verdade! Estou aqui para fornecer subsídios e fundamentos. Sei a resposta adequada apenas para mim, considerando todas as minhas particularidades e subjetividades. Não coloco ninguém no colo. Para quem quer colo, existem especialistas por aí que dão colo motivacional. Não é o meu caso. Sou racional e procuro, ou tento, ser cartesiano e científico.
Mas para contribuir com a resposta – e depois dar a minha, entendo que há uma questão fundamental a ser considerada. Há duas variáveis envolvidas nisto. A primeira se relaciona com a memória e a segunda com o custo ou esforço cognitivo envolvido.
Quanto à memória, resumidamente, em termos de processo de formação, existem três conceitos relevantes a serem considerados, os quais correspondem à memória de trabalho, memória de curto prazo e memória de longo prazo.
A memória de trabalho trata-se de um “gerenciador da realidade” (expressão construída pelo professor e neurologista Ivan Izquierdo, no livro Memória. Porto Alegre: Artmed, p. 42), consistindo naquela que nos faz lembrar o andar em que precisamos descer ao entrarmos no elevador, tendo um caráter de curtíssimo prazo. A memória de curto prazo funciona como um arquivo temporário e caminha paralelamente à memória de longo prazo, desejada e almejada por todos os candidatos a concursos públicos.
Assim, quando estudamos uma informação num período ou parágrafo, esta nos vem como memória de trabalho e pode virar memória de curto prazo ou não. Ao avançarmos, aquela informação que estava no período ou parágrafo tende a se perder da nossa memória de trabalho. E assim, se não paramos para resumir e registrar imediatamente, talvez será preciso reler o texto novamente para rever e resgatar aquela mesma informação, o que pode significar retrabalho.
Porém, aí entramos na segunda variável. Parar a cada período ou parágrafo tem um custo cognitivo e de tempo significativo. Tende a ser muito menos oneroso avançar na leitura e não ficar parando. Eu pelo menos, que adoto religiosamente e radicalmente os resumos, até hoje tenho uma certa preguiça em parar para elaborar o resumo a cada parágrafo, ainda que considere que seja o ideal, analisando pelo ângulo do funcionamento da memória de trabalho. Mas há um custo.
Portanto, não tenho dúvida de que o ideal seria parar a cada parágrafo ou mesmo período para elaborar o resumo. Mas isto tem um custo enorme e talvez inviável para ser assumido.
Então, qual a solução? Encontrar, com razoabilidade e bom senso, um caminho alternativo. Ou então, a opção seria elaborar o resumo ao final do turno de estudo ou de um capítulo. Mas neste caso também há outro elevado custo, o que consiste em rever o que foi estudado, pois tendemos a perder informações na nossa memória de trabalho, as quais não viraram memória de curto prazo.
Eu, particularmente, adoto esta segunda opção, sabendo que nem sempre é a mais vantajosa. Mas cabe a você avaliar a sua e seguir o caminho que eleger como mais eficiente.
Porém, para facilitar o trabalho e minimizar o ônus da perda de informações na memória de trabalho, faço anotações ao lado do texto, as quais servirão de base para o resumo, ou muitas vezes já é o próprio resumo. Também costumo adotar como alternativa sublinhar e destacar as partes mais importantes do texto, que servirão de base para resgatar informações e compor o resumo.
Veja como funciona nas figuras abaixo, as quais evolvem páginas de livros que estudei enquanto me preparava para o concurso público, bem como outros textos estudados mais recentemente. (CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR!)
Registro que ainda não sei como adaptar a presente técnica aos livros digitais.
Esta mesma reflexão e avaliação quanto à dinâmica pode ser realizada no caso de uma vídeo-aula, na qual temos o controle do desenvolvimento da aula. Para o caso de aulas presenciais, aí entraríamos no conceito de anotação de aulas (clique aqui para ler Vale a Pena Fazer Anotações de Aula?).
O outro critério de classificação do processo de elaboração dos resumos seria quanto ao conteúdo resumido. Aqui há várias possibilidades. O fato é que podemos ser mais analíticos ou mais sintéticos.
Também temos aqui mais um dilema ou “trade-off” de custo-benefício. Se formos mais analíticos ganhamos em termos de consistência do processo cognitivo e consolidação de memórias, mas perdemos no quesito custo cognitivo e tempo. Sendo mais sintético o contrário.
E nisto algumas técnicas podem ser construídas quanto ao formato do conteúdo resumido. Por exemplo, ainda hoje uso para estudar Informativos de Tribunais Superiores e textos publicados em periódicos a técnica que construí de identificação do Extrato da Tese e da Síntese da Fundamentação.
Para isto, ao ler uma decisão de um Informativo ou estudar um texto doutrinário publicado em periódico, vou atrás da tese central da decisão ou do texto, bem como dos fundamentos que sustentam a tese. E o meu resumo se limita a isto. (clique aqui para ver como funciona vendo os PDFs da Síntese da Jurisprudência Publicada em 2011).
Porém, o fundamental é que você reflita e avalie se os seus resumos serão mais sintéticos ou analíticos quanto ao conteúdo. Se você colocará apenas idéias-chaves ou desenvolverá um pouco mais.
O terceiro critério, e que tem sido objeto de muitas dúvidas e reflexões, cabendo ainda o devido amadurecimento, consiste na forma de registro do conteúdo resumido. Ou seja: escrever de forma manuscrita ou digitar no computador ou tablet?
Muito bem, aqui também há algumas variáveis a serem consideradas. Destaco as seguintes: (1) repercussão no processo cognitivo; (2) repercussão no processo de realização de provas dissertativas ou redação; (3) portabilidade e facilidade de acesso ao conteúdo resumido; (4) compartilhamento com terceiros; (5) tempo demandado. Isto sem prejuízo de outras que se possa levantar.
Quanto à repercussão no processo cognitivo, o que precisa ser avaliado é o seguinte: quando você lê um texto e vai resumir, há diferença, em termos cognitivos e para efeito de armazenamento (memória), entre digitar e escrever de forma manuscrita? Há ou não? No meu caso não tenho dúvida de que há! E há no sentido de que a forma manuscrita conta com eficácia cognitiva maior. Quanto às causas deste fenômeno, arrisco dizer que há aspectos psicomotores envolvidos. Cognição e psicomotricidade contam com uma íntima relação, sendo que o clássico francês Henri Wallon, referência da psicologia do desenvolvimento, conta com inúmeras construções sobre a relação entre cognição e psicomotricidade.
Porém, por outro lado, não há dúvida de que o intenso uso da tecnologia tem influenciado neste cenário.
O fato é que cabe a você avaliar se, para você, esta diferença é significativa e, sendo, qual opção vale mais a pena.
Quanto à repercussão na realização de provas, aqui há algo delicado e estratégico a ser considerado. Como as respostas nas provas dissertativas ou a redação ainda são necessariamente manuscritas, não há dúvida de que um candidato acostumado a escrever sempre usando o teclado não terria o mesmo desempenho se este mesmo candidato estivesse acostumado a adotar o meio manuscrito. O desenvolvimento da escrita repercute na elaboração do raciocínio. Existem pessoas que somente conseguem elaborar um texto diante de uma tela e um teclado. O problema é que na prova não haverá tela e teclado.
Mas isto é motivo para abandonar os resumos digitados? Não sei, cabe a você avaliar. No meu caso, enquanto me preparava para o concurso público, foi. E assim fiz e não me arrependo.
De qualquer forma, em relação a este critério, quanto em relação aos outros, é possível adotar caminhos híbridos. Mas sempre pautados pela racionalidade, na lógica do custo-benefício, e do bom senso.
Como havia esclarecido, este é um primeiro texto sobre o tema. A intenção é avançar na reflexão e elaboração sobre o assunto. Mas para isto, é fundamental a contribuição com as experiências de cada um a partir dos comentários.
Portanto, deixe registrada a sua opinião e experiência com os resumos, para auxiliar na pesquisa e nas decisões e estratégias de outros candidatos.
Espero que as considerações colocadas sejam úteis.
E que a sua trajetória de candidato ou candidata a concursos públicos seja a mais resumida possível!
Fonte: Preparação Para Concursos Públicos
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Realmente os textos do site tem certo embasamento. Desde que adotei a prática de resumos a alguns meses atrás minhas notas na Faculdade tem apresentado considerável melhora. Este post me foi de grande utilidade já que eu não tinha ciência de que os resumos feitos a mão apresentam-se como uma alternativa mais viável em relação aos resumos digitados. Tecnicas como estas apresentadas através de seus posts (aos quais sigo na medida do possível) tem auxiliado-me a estudar de forma mais produtiva. Parabéns pelo post.