Valorizemos as mulheres no serviço público (e fora dele)

Avatar


08 de março4 min. de leitura

A turma do Gran Cursos Online pediu que eu fizesse um artigo para o Dia das Mulheres, que escrevesse para as concurseiras sobre concursos e o quanto é sacrificante essa jornada. A jornada de uma concurseira é tão dura quanto a de um concurseiro, mas diferente. Por intuição, a gente já sabe disso. Mesmo assim, vou te falar um pouco da minha trajetória como ilustração.

Meu primeiro concurso, por coincidência o primeiro que passei, foi para Agente da Polícia Federal, lá em 2000. Não preciso nem falar da quantidade de homens e de mulheres. Estávamos em um número muito inferior na Academia. Aliás, quando efetivamente comecei a trabalhar (lotada no Acre), vim diversas vezes para Brasília dar aulas de Educação Física (minha primeira formação) na Academia, era a única professora mulher. Era a única mulher; mas, como era corredora havia tempos, os alunos torciam para que eu não puxasse a corrida. Eu realmente puxava (rsrs). De qualquer forma, nem banheiro feminino tinha na sala de professores. Era realmente constrangedor.

Depois, veio a Receita Federal, eram cinco vagas para Brasília. Eu passei em segundo e todos os outros que passaram eram homens. Ahhh!!!! Claro! Isso foi no ano de 2003, pensa comigo, isso deve ter mudado… Não mudou. Em 2014, passei para Consultor Tributário na Câmara dos Deputados em quarto lugar. Os três primeiros, o quinto, o sexto, o sétimo… Todos homens. Pior, dos dez Consultores Tributários da Câmara dos Deputados, somente um é mulher.

E qual é o problema?

Existe a questão histórica e cultural, mas não é só esse o problema. A verdade é que concurso não mede inteligência nem capacidade para assumir cargo. Para passar em um concurso, a pessoa não tem de ter um determinado nível intelectual, mas ter uma característica específica, tem de ser turrona.

Agora você vai dizer: “Paula, nós mulheres podemos ser turronas”. E eu vou concordar com você; podemos, sim, ser turronas. O problema é que temos problema na escolha das nossas prioridades. É uma coisa nossa mesmo, pois temos a capacidade de nos envolver com diversas tarefas simultaneamente. Além disso, temos uma sensibilidade aflorada, o que aumenta o número de coisas para as quais dedicamos nossa atenção.

Veja bem. A maior parte dos homens, quando começa a ver um jogo de futebol ou a jogar videogame, consegue se desligar do mundo. Tente chamar a atenção do seu namorado ou esposo em uma dessas situações. Ou ele vai ficar chateado ou nem vai te dar bola.

E nós mulheres como nos comportamos?

Nós queremos dar conta de tudo. Temos de deixar tudo organizado, cuidar de filho(a), cuidar de marido (ou esposa), namorado (a); enquanto estudamos, pensamos no trabalho, no que a mãe nos disse ontem e que incomodou… Enfim… Qualquer coisa mexe com a gente. É difícil mesmo desligar.

Isso não quer dizer que apreendemos o conteúdo de forma mais lenta. Muito pelo contrário. Nesse último concurso da Câmara dos Deputados que fiz, passou comigo uma amiga muito querida. Ela, nessa época, tinha três filhos pequenos – um deles com menos de três anos – e um marido (de quem, por incrível que pareça, ela cuidava). Passou em primeiro lugar para Consultor Orçamentário. Coisa de maluco mesmo… Eu a encontrava na Academia e ela estava ouvindo aulas. Agora, com edital na praça, ela fez até festa para o aniversário do seu mais novo. Pergunta para qualquer homem o que ele acha disso…. Loucura total. Não é para qualquer um.

Como essa, tenho mais um milhão de histórias que a consultoria me fez conhecer. São mulheres casadas que se desdobram para estudar, trabalhar e atender às expectativas do marido. Garotas solteiras que ficam ansiosas com a cobrança da família, trabalho e estudos. Garotas que se prestam a trabalhar, fazer grupo de estudos, fazer análise, malhar, namorar e estudar. Tudo ao mesmo tempo.

 

Nem tudo a gente consegue deixar para depois

Existem determinadas funções das quais não podemos abdicar. Se é mãe, sabe disso. Infelizmente, o tempo para esses pequerruchos passa muito rápido. Por outro lado, o período de investimento em uma carreira pública pode demorar alguns anos. Não tem jeito, nós temos de lidar com isso.

Com as minhas meninas, eu fiz malabarismos enquanto estudava. Acordava às três da manhã (sou uma pessoa diurna), malhava e, às seis e meia da manhã, estava no trabalho. Esse era o horário mais tranquilo. O estudo rendia bastante. Quando as pessoas começavam a chegar, nove horas, eu já tinha percorrido um bom caminho. Depois, ficava direto até às 17:00, não parava nem para almoçar, comia um sanduíche na hora do almoço. Trabalhava e, se surgia uma folga, lá estava eu na frente dos livros. Em casa, ficava com as meninas (aquele era o horário delas), brincava, dava comida, fazia um carinho. Nada me tirava dessa rotina.

Eu sei que a minha solução não serve para todas, mas existe solução para o seu problema. Você tem de parar, analisar e otimizar o seu tempo.

Toda mulher no serviço público modifica um pouco as coisas.

Como já ficou claro, não somos a maioria dentro do serviço público. Longe disso. Temos muitos espaços para conquistar, e isso só cabe a gente. Como disse, as mulheres são mais sensíveis e costumam querer abraçar o mundo. Quando veem que não dão conta, costumam desistir dos concursos. Como se não fossemos capazes.

Vou te contar um segredo: qualquer pessoa passa em concurso. Não é só você. Para passar em um concurso, é necessário somente insistir. Quando uma concurseira desiste de estudar, ela está dando seu lugar para outro. Não faça isso, insista, vá até o fim.

É quase um dever seu para com as outras mulheres. Nós precisamos de você. Precisamos que mostre do que somos capazes. Seja acima de tudo uma turrona. 😉


Paula GonçalvesPaula Gonçalves

Mestre em Direito Tributário pela Universidade Católica de Brasília – UcB, formada em Direito pelo UniCEUB, com especializações em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP e em Diplomado en Tributación pelo Centro Interamericano de Administrações Tributárias – Ciat. Professora de Direito Previdenciário da Pós-Graduação no IDP. Professora de Direito Administrativo na Graduação de Administração Pública no IDP. Coaching de concursos. Ex-Auditora Fiscal da Receita Federal do Brasil, onde trabalhou com legislação tributária e aduaneira. Atualmente trabalha na Câmara dos Deputados como Analista Legislativo – Consultoria I.

 


Preparatórios online com início imediato, visualizações ilimitadas e parcelamento em até 12x sem juros!
Prepare-se com quem mais tem experiência e tradição em aprovação e conquiste a sua vaga!

[su_button url=”https://www.grancursosonline.com.br/assinatura-ilimitada/” target=”blank” style=”flat” background=”#ff0000″ size=”7″ icon=”icon: shopping-cart”]Matricule-se![/su_button]

garantia-de-satisfacao-30
Avatar


08 de março4 min. de leitura