Você, o leitor-candidato! Técnicas de leitura para a hora da prova

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Você, o leitor-candidato! Técnicas de leitura para a hora da provaPor uma questão de didatismo e de precisão, vamos esclarecer, antes de mais nada, que ler é um ato que transcende a mera decodificação das palavras. Primeiro porque nem sempre há palavras naquilo que lemos; segundo porque a leitura não é uma simples atribuição de sentido ao que lemos, seja isto codificado por palavras ou não. Quando falamos de leitura -especificamente do texto verbal-, estamos no campo do letramento, não da alfabetização. “Letramento” é uma versão para o português da palavra inglesa literacy, que pode ser traduzida como a condição de ser letrado. Nem sempre essa condição, infelizmente, encontra-se nos que estão alfabetizados. O letramento é o uso pragmático da prática de leitura e de escrita a que nos submetemos no meio social. Falaremos aqui de leitura sob a perspectiva do letramento.

A atividade da leitura é um processo e, como todos, tem etapas lineares de início, meio e fim. Claro que alguns leitores subvertem essas fases, ou suprimindo uma delas ou as invertendo. Tenho um amigo que gosta de começar a ler do final para, quando chegar ao início, já ter terminado. Cada leitor com sua mania!

Quanto mais o leitor tem consciência dessas etapas, mais pode explorá-las, obtendo da leitura o maior aproveitamento possível. Também se pode tirar delas o maior prazer, mas, num contexto de prova de concurso, limitemo-nos ao aproveitamento… Afinal, aqui não há apenas leitores, há leitores-candidatos, o que limita o objetivo.

A primeira etapa é antes da leitura. Como leitores, nenhum de nós é uma tábula rasa, ou seja, ninguém chega ao texto desprovido de expectativas ou de referências anteriores. A aceitabilidade do texto pode, por exemplo, estar condicionada a elementos extratextuais, como autoria, título e até leiaute. Isso para o bem e para o mal: já li com generosidade textos de autores conhecidos, dos quais de antemão já defendo, assim como já fui (não) leitora de textos de autores contra os quais tenho preconceito ancestral (do tipo não li e não gostei). Na hora da prova, não dá para ser seletivo, então a primeira providência é se despir de inclinações pessoais na leitura. Claro que a autoria, a época, o título, o canal de divulgação do texto, tudo isso é relevante para criar um contexto pré-leitura, mas só isso, nada além disso! Como respondedores de perguntas que outros fizeram sobre textos de terceiros, devemos abandonar nossa indulgência e nossa crítica, e sermos o mais objetivos possível.

A segunda etapa é durante a leitura. Esse processo exige automonitoramento do leitor. A expressão leitura automonitorada é usada pela psicolinguística para designar uma técnica em que os participantes testam a velocidade da leitura por meio de um botão acoplado a um computador. Como não sou psicolinguística, emprego o termo no sentido mais óbvio que ele pode ter: cabe ao leitor monitorar (acompanhar) a sua própria leitura. Isso requer paciência e atenção, coisas que costumam nos abandonar na tensão da prova. Então, redobre a concentração: sublinhe as palavras-chave, os termos com juízo de valor, os marcadores temporais; destaque os conectores e atribua sentido a eles antes que o examinador o faça; reconheça os termos de referenciação (anafóricos ou catafóricos) e seus respectivos referentes textuais. Em outras palavras: leia o texto! Não delegue ao examinador a tarefa de ler e entender por você: a leitura é atividade inalienável, não se esqueça disso. Conheço muitos alunos que prescindem da leitura do texto, fazendo apenas a leitura do item, sob o argumento de que quem tem de entender o texto é a banca. Honestamente, numa prova como a do CACD, não acredito que essa técnica funcione. O que funciona é ler e entender, usando as técnicas possíveis ao contexto de prova.

A terceira – e última – etapa é a pós-leitura. São questionamentos que provavelmente o examinador fez para elaborar as questões: Qual o objetivo do texto? Qual sua tipologia e gênero? Há tese? Se houver, qual é? Só há a voz do autor ou este recorre à polifonia? Essas perguntas criam uma espécie de spoiler (ok, estrangeirismo, você venceu!) e deixam o candidato com a sensação de dèjá vu (só para o francês não ficar com ciúmes) que é péssima no cinema ou nas séries de tv, mas é muito bem-vinda nas questões de interpretação de texto.

Por fim, é bom você, leitor-candidato, que o texto que você deve ler e interpretar não é só o que serve de base às questões de leitura: cada item/afirmação que a prova traz também é um texto e também exige todas essas técnicas. Às vezes, são os textos mais difíceis da prova.

A consciência desse processo deve ser internalizada, não rigidamente formalizada e engessada, afinal é preciso um pouco de leveza em tudo, até na hora da prova!



Tereza Cavalcanti
– Professora de língua portuguesa desde 1984. Formada pela Universidade de Brasília em 1986 (Letras – Português), com especialização em Literatura Brasileira pela mesma instituição e em Docência para Ensino Superior pelo IESB. Trabalhou em educação regular (ensino médio e superior) e em cursos preparatórios para vestibular durante vinte e cinco anos. Há vinte anos, dedica-se à preparação para concurso público, ministrando aulas de gramática, interpretação de texto, redação oficial e redação discursiva. Aprovada em diversos concursos (Secretaria de Educação, Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Colégio Militar, Correios, IF-DF, Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal Militar), encontrou nas aulas para concurso sua verdadeira vocação e tem-se dedicado exclusivamente a essa área há dez anos.

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