De que curso superior necessito para ser um(a) bom(oa) diplomata?

Quem conhece bem o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) sabe que qualquer curso reconhecido pelo Ministério da Educação como superior habilita um(a) brasileiro(a) nato(a) a candidatar-se a uma vaga na carreira diplomática. Ainda ouço com frequência, porém, perguntarem se é necessário ter determinada graduação ou ser formado(a) na área de humanas para prestar o Concurso. Outros querem saber se alguém oriundo das ciências exatas ou biomédicas teria sucesso no serviço exterior.

Sendo o diplomata um profissional predominantemente generalista – ainda que muitos defendam a especialização, que de fato alguns perseguem em caráter excepcional –, formações e visões diversificadas sobre o Brasil e o mundo são bem-vindas, enriquecem o debate interno de nossa diplomacia. Daí alguém pode perguntar como um médico, um engenheiro ou um músico podem adaptar-se bem a uma carreira tipicamente de relações humanas.

Pois eu conheço diversos diplomatas graduados nesses cursos, alguns com consideráveis experiências profissionais nessas áreas, que têm atuação profissional no Itamaraty muito bem-sucedida. Imagine se todos os diplomatas, por exemplo, fossem advogados, economistas ou bacharéis em Relações Internacionais? Provavelmente faltariam no Ministério das Relações Exteriores pessoas que tivessem a sensibilidade social de um médico, o raciocínio lógico de um engenheiro ou a criatividade de um músico.

Claro que também é preciso reconhecer que a aprovação no CACD poderá ser mais custosa a alguém que não se tenha formado nas ciências humanas. Quem estudou Direito, Economia ou Relações Internacionais terá parte do conteúdo programático cobrado no CACD estudado na faculdade, o que obviamente o põe em vantagem no início da preparação para o Concurso, mas isso não é nada que não se possa compensar.

Um amigo comentava recentemente sobre um ex-colega de faculdade que tinha vindo da China e mal falava português quando chegou. Esse colega, como era de se esperar, tinha enorme dificuldade para acompanhar o curso e suas notas costumavam ser as mais baixas da turma. Nos fins de semana, enquanto os brasileiros saíam em grupo para se divertir, esse pobre chinês permanecia em seu quarto estudando sem parar. Não demorou muito para que esse estrangeiro se tornasse o primeiro aluno da turma e virasse um exemplo a ser seguido pelos demais. Ou seja, ele aprendeu o que os outros deveriam saber e ainda carregava uma bagagem que ninguém a sua volta possuía.

Se esse é o seu caso, procure enxergar o que hoje é considerada uma deficiência como um potencial de diferenciação positiva amanhã. Se o conteúdo de seu curso superior não é cobrado no CACD, guarde-o como uma pedra preciosa bruta que você terá condições de lapidar e exibir orgulhosamente no futuro, quando poderá se tornar um(a) diplomata diferenciado(a)!

Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico

Nomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Saiba +

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