Ana Paula Davin passava as noites atrás da bancada do maior telejornal do Rio Grande do Norte, sorrindo para a câmera enquanto o ponto eletrônico clamava por pressa e perfeição. Por fora, era a repórter que todo estudante de Jornalismo sonhava ser; por dentro, colecionava crises de choro no carro, cadernos de pauta encharcados de remédio para dor e um diagnóstico cruel: síndrome dolorosa miofascial, ansiedade, depressão – todas as peças do bingo do burnout marcadas uma a uma. Quando percebeu que juntava forças para apresentar o jornal, mas já não conseguia amarrar o cadarço sem latejar, largou o microfone, entregou a carta de demissão e voltou para o quarto de infância, onde o pai e a mãe – dois servidores públicos – a esperavam com colo e a frase que mudaria tudo: “Cuida da saúde primeiro; depois a gente descobre o resto”.
O resto apareceu na forma de um edital. O governo anunciava o primeiro Concurso Nacional Unificado, e havia vagas de jornalista no IBGE. Ana conhecia o barulho das redações, mas não a liturgia dos concursos; ainda assim, assinou a plataforma do Gran, leu PDFs, abriu videoaulas, usou as ferramentas e montou uma rotina que misturava fisioterapia de manhã, questões à tarde, artes marciais à noite – o quimono azul-marinho suando até a última gota de desânimo. Nos dias em que a mente empedrava, chamava a própria cabeça de “esponja encharcada” e trocava o parágrafo por um alongamento até sentir a coluna estalar. Nos outros, lia, sublinhava, falava sozinha as teorias de política pública enquanto passava compressa quente no pescoço.
Sete meses depois, chegou a véspera da prova. Chorou tudo o que podia, rezou mais do que sabia, dormiu menos do que merecia. Na manhã seguinte, sentou-se diante do caderno de questões com o rosto tranquilo de quem já enfrentou dores piores. Entregou a parte objetiva, mergulhou na redação e, quando o relógio apertou, decidiu confiar na prática: respirou fundo, escreveu as últimas linhas sem rascunho e entregou o texto a segundos do fim. De volta ao hotel, não corrigiu gabarito nem buscou ranking – preferiu esperar.
Primeiro veio o resultado da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte: aprovada dentro das vagas, posse quase imediata. Ela chorou e a família. Durante seis meses mostrou-se feliz na nova rotina, mas o coração insistia em lembrar que sua primeira opção – IBGE – ainda estava no ar. Quando o segundo edital finalmente divulgou a lista definitiva, o nome de Ana despontava de novo entre os aprovados nas vagas. Quando veio a nomeação, ela pediu exoneração da primeira conquista, empacotou livros e plantas e partiu para o Rio de Janeiro, onde o mar lhe pareceu um telão de cinegrafista gigante exibindo a legenda “Recomeço”.
O primeiro dia no IBGE teve clima de volta às aulas: crachá provisório, cheirinho de mobiliário novo, colegas igualmente ansiosos. Dessa vez não havia dor no ombro nem ponto eletrônico gritando – apenas a convicção de que é possível transformar a própria biografia sem pedir desculpas por cuidar do corpo e da mente.
Hoje, quando lhe perguntam qual foi o segredo, ela ri – uma risada leve, recém-aprendida – e enumera quatro verbos importantes para sua trajetória: reconhecer-se, pausar, planejar, persistir. Diz que quem está na arena tem o direito de descansar, mas não de esquecer o horizonte. Não há nenhuma vergonha nisso. Vergonha é abandonar o próprio sonho porque alguém convenceu você de que já era tarde. Para Ana, nunca foi: aos 37 anos, trocou o telejornal pelo serviço público, redescobriu a saúde e provou, na prática, que burnout não é ponto final – é apenas a vírgula que separa quem desiste de quem se reinventa.
Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha de perto o universo dos concursos desde muito cedo. Ingressou nele, profissionalmente, aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanalmente para o blog do Gran. Formou-se em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Em 2021, foi incluído na prestigiada lista da Forbes Under 30. Autor de 4 livros que figuraram entre os best-seller da Amazon Kindle.
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