O senso comum associa a diplomacia ao mundo político. Isso está correto, já que o Ministério das Relações Exteriores, órgão dono do “passe” dos diplomatas, é o principal executor e auxiliar de elaboração da política externa brasileira. Mas o relacionamento do Brasil com outras nações envolve muito mais do que o contato entre governos. Os setores privados dos países podem e devem contar com apoio governamental para realizar negócios no exterior. Essa área de atuação dentro do Itamaraty é imensamente gratificante, pois se vê de perto e em curto prazo o resultado de um trabalho que traz desenvolvimento econômico e, consequentemente, melhora da qualidade de vida para muitos brasileiros.
Pensemos em um exemplo concreto para descrever como ocorre esse trabalho. Muitos órgãos do governo e do setor privado realizam a tarefa de promover nosso comércio, especialmente nossas exportações e também a atração de investimentos estrangeiros para o Brasil. Assim, quando uma empresa decide tentar vender seu produto no exterior, nem sempre, ou raramente, procurará o Itamaraty de cara. Em geral, os primeiros contatos são feitos com associações setoriais ou com uma agência de promoção de desenvolvimento.
Imagine que sou um pequeno fabricante de calçados em Franca/SP e decido tentar vender meu produto nos Estados Unidos. Vou à Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e peço ajuda para exportar ao mercado norte-americano, no qual acredito que haverá boa demanda para minha produção. O representante da Abicalçados poderá sugerir que eu participe de uma feira setorial como a “Sole Commerce”, a realizar-se de 27 de fevereiro a 1o de março de 2017, na cidade de Nova Iorque. Ou então ele sugere que eu me junte a uma delegação empresarial do setor que a Câmara Americana de Comércio Brasil-EUA esteja organizando, para visitar potenciais compradores naquele país.
Para viabilizar minha participação nessa feira ou em outra missão empresarial, a Abicalçados poderá, ainda, coordenar-se com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) ou com a Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade (Investe São Paulo).
Veja que, até este momento, não conversei com o Itamaraty, nem com nenhum diplomata. Mas nenhuma dessas instituições brasileiras que estão me ajudando fez ainda qualquer contato com potenciais importadores do meu produto. Aí entra uma estrutura de mais de 100 setores de promoção comercial (SECOM) em embaixadas e consulados brasileiros à minha disposição. No caso específico de meu interesse de participação na “Sole Commerce”, o SECOM do consulado-geral do Brasil em Nova Iorque poderá, em coordenação com minha associação setorial, negociar espaço na referida feira, onde eu poderei expor meus calçados e fazer contatos com potenciais importadores.
Em outra hipótese, em maior escala, pensemos no exemplo de uma grande empresa brasileira, como a Embraer, uma das maiores fabricantes de aviões civis e militares do mundo. Em um país para o qual a Embraer queira vender suas aeronaves, pode ser imprescindível uma gestão política do Itamaraty junto ao governo local, para que a decisão política de investir milhões de dólares nessa aquisição seja tomada. Nesse caso, o tema pode envolver altas instâncias dos dois governos e a atuação dos diplomatas brasileiros será fundamental.
Para a realização do trabalho de promoção comercial e atração de investimentos, o Ministério das Relações Exteriores conta com o envolvimento de diversos diplomatas em dedicação exclusiva. A área é chefiada sempre por um embaixador, responsável pela Subsecretaria-Geral de Cooperação, Cultura e Promoção Comercial (SGEC). A essa Subsecretaria está subordinado o Departamento de Promoção Comercial (DPR), dirigido normalmente por um ministro de segunda classe. No DPR há 4 Divisões, em geral chefiadas por conselheiros ou primeiros-secretários mais antigos. Com eles trabalham secretários, oficiais e assistentes de chancelaria.
As Divisões do DPR são: Divisão de Operações de Promoção Comercial (DOC), Divisão de Investimentos (DINV), Divisão de Inteligência Comercial (DIC) e Divisão de Programas de Promoção Comercial (DPG). A DOC promove exportações, organiza nossa participação em feiras setoriais e também a vinda de turistas estrangeiros para o Brasil. A DINV busca atrair investimentos do exterior, assim como a internacionalização de empresas brasileiras. A DIC ocupa-se de atividades de inteligência comercial, como a elaboração de estudos de mercado e levantamento de estatísticas comerciais. A DPG é a responsável pela administração dos recursos humanos e financeiros utilizados nas atividades do DPR.
Quando um diplomata atua no Brasil ou no exterior, na área de promoção comercial, é comum ver o resultado de seu trabalho muito rapidamente quando uma empresa brasileira consegue realizar negócios no exterior. A exportação ou atração de investimentos estrangeiros traz recursos financeiros ao nosso país. Esses recursos são transformados em emprego e bem-estar à população brasileira. Eis, portanto, um produto da atividade diplomática brasileira, cujo resultado é muito concreto e, portanto, extremamente gratificante.
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Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico
Nomeado Terceiro Secretário da Carreira de Diplomata, em 14/07/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco, em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires, Setor Político, entre 2004 e 2007. Saiba + AQUI!
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