Carla Oliveira não desistiu do seu sonho e se tornou primeira advogada pública com deficiência visual do Recife!

O glaucoma congênito, doença rara, hereditária e caracterizada pelo aumento da pressão intraocular, deixou a advogada pernambucana Carla Oliveira, de 28 anos, com menos de 10% da visão desde que ela tinha apenas 11. Os vultos que seus olhos se esforçam para lhe mostrar, no entanto, jamais a impediram de se tornar um grande exemplo. Sobretudo quando o assunto é a realização de sonhos. O último deles se concretizou no dia 8 de fevereiro de 2016. Carla foi empossada na Procuradoria do Recife e se tornou a primeira advogada pública com deficiência visual do município.

Ela foi aprovada em primeiro lugar nas vagas destinadas a deficientes do concurso público para a Procuradoria, realizado pela Prefeitura do Recife em 2014. Desde então, esperava ansiosamente pela nomeação. Antes de tomar posse no novo cargo, entretanto, Carla já era servidora pública e trabalhava como analista do Tribunal Regional do Trabalho de Pernambuco (TRT-PE). O TRT, por sinal, emitiu um Voto de Reconhecimento e Aplauso à sua ex-servidora, proposto pelo desembargador André Genn de Assunção Barros. A honraria, concebida a poucos, foi aderida também pelo Ministério Público do Trabalho.

“Carla Oliveira exerceu suas funções na 1ª Vara do Trabalho de Jaboatão dos Guararapes e obteve importantíssima vitória com sua aprovação no concurso para cargo de procuradora do Município do Recife… O Tribunal parabeniza Carla que serve de exemplo por sua determinação e competência. Também ressalta que ela é um grande exemplo de superação de dificuldades para todos, pois tem deficiência visual completa e, no entanto, não se limita por esse fator…” diz parte do documento.

Considerada uma das melhores alunas de sua turma no curso de Direito da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), ela passou no exame da OAB-PE com nota 9,5 na segunda fase e já perdeu as contas de quantas aprovações obteve em concursos públicos. A primeira aconteceu aos 18 anos. “Eu realmente não tenho noção da quantidade de concursos públicos que já passei. Na maioria, fui aprovada tanto nas vagas para deficientes, quanto nas para pessoas sem deficiência. No TRT foi assim. Acho que o segredo é ter muita fé em Deus. Ele tem a direção de tudo. Depois o apoio da família e, por fim, muita dedicação. Se para uma pessoa sem deficiência já é difícil, para um deficiente a dificuldade é dobrada”, afirmou.

Para estudar, ela faz uso de dois programas que funcionam como leitores de tela: o NVDA e o JAWS. “O segundo é um programa pago, mas os dois se complementam. “A Procuradoria dispõe apenas do NDVA, por questão de licitação, para adquirir a compra (do outro). Mas o NVDA já me auxilia muito. Durante a minha vida acadêmica, tudo sempre veio com muito sacrifício, né? Durante a faculdade, precisei scannear todos os livros. Os digitais não vêm em formato acessível. Então eu trabalhava no Tribunal de Justiça (TJ) durante o dia, fazia faculdade à noite e só sobrava a madrugada para scannear os livros”, relembrou.

Na Procuradoria do Recife, Carla está lotada na Procuradoria Judicial. Como uma das advogadas públicas do órgão, ela vai ter como atribuição fazer a defesa do município em juízo, contestar ações e todas as demais obrigações inerentes ao cargo. A recepção calorosa dos demais procuradores vem deixando Carla ainda mais motivada. Em outros concursos no qual obteve aprovação, ela precisou enfrentar o preconceito de alguns chefes de setor que não queriam uma deficiente visual na equipe. “Esse tipo de situação jamais aconteceu no TRT. Mas, em outros órgãos, sim. Toda pessoa com deficiência precisa ser respeitada. Todos são capazes. Quem perde é quem não quer trabalhar conosco. Sabemos que estamos sendo testados e avaliados o tempo todo e por isso nos empenhamos mais e somos bastante proativos. As pessoas precisam parar de ter essa imagem negativa. Temos tanta qualidade quanto qualquer profissional”, concluiu.

Fonte: APM Recife

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