Clarice e a Páscoa. Por: Elias Santana

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13 de abril2 min. de leitura

Ela é considerada uma das maiores escritoras do modernismo brasileiro. Figura feminina forte, de reflexões incisivas e marcantes. Quem já conviveu com ela por meio das palavras deixou de lado velhas convicções e se tornou um novo ser. Essa é Clarice Lispector.

Uma de suas obras mais importantes chama-se “Paixão segundo G.H.”. G.H. é uma mulher bem-sucedida e que faz questão de mostrar-se constantemente bem a todos, por meio de máscaras sociais. Todavia, a partir de um evento simples – uma faxina no quarto que era ocupado pela ex-empregada –, ela inicia uma análise profunda acerca de sua vida. Percebe que, por trás de todo aquele disfarce, há uma mulher real, com sentimentos, defeitos e frustrações. A história possui um ápice: o encontro de G.H. com uma barata. Este ser, que simboliza o asco, é o responsável por levá-la ao entendimento de que a vida não é feita apenas de aparências, mas que é preciso encontrar, na essência do ser, o verdadeiro sentido da vida. A interação com a barata (e vale a pena ler o livro para entender a profundidade dessa interação) faz com que G.H. metaforicamente morra para o mundo das aparências e renasça para si mesma. É uma epifania: um evento (que normalmente é rodeado de sofrimento) faz com que todas as peças do quebra-cabeças da vida se encaixem, dando vida nova a quem está imerso nesse processo.

O nome da obra de Clarice revela muito sobre o que narra o livro e as intenções da autora. G.H., segundo muitos teóricos, significa “gênero humano”. Clarice quis nos mostrar que todos nós temos constantemente a necessidade de viver uma epifania, de encontrar o sentido de nossa existência, e que, para isso, precisamos ser verdadeiros, ou então a dor vai nos revelar a realidade.

Já o termo “paixão” remete ao martírio de Jesus, que entregou Sua vida para dar novo sentido à humanidade. Mesmo que você não acredite na figura divina do Cristo, reflita comigo: o que você acha de alguém que deseja difundir o bem e a igualdade, e ainda é capaz de dar a sua vida pelo semelhante? É um belo exemplo, e eu reconheço que não consigo colocá-lo em prática, mesmo sabendo que, todos os dias, preciso morrer para o que é ruim e viver para o que é bom. E essa é a grande dualidade de qualquer ser humano: ele sabe do que precisa, mas não sabe como alcançar.

E por que isso veio parar na coluna de língua portuguesa? Porque Clarice conseguiu, por meio do estado artístico do nosso vernáculo, elaborar uma obra atemporal, que nos mostra que, independentemente de nossas crenças, temos valores e necessidades semelhantes. A autora quer nos mostrar que precisamos deixar nossas vaidades e egoísmos, não pelo outro, mas por nós mesmos – porque, um dia, o disfarce se desfaz. Eu, como professor de língua portuguesa, tive a oportunidade de conhecer a analisar essa bela obra literária. Eu, como ser humano, desejo uma sociedade mais justa, e, por isso, tenho a obrigação, por mim e por você, de falar o que acho que pode nos fazer melhores.

Que esta Páscoa possa ser o início de nossas novas vidas!


Elias Santana – Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Respectiva Literatura – pela Universidade de Brasília. Possui mestrado pela mesma instituição, na área de concentração “Gramática – Teoria e Análise”, com enfoque em ensino de gramática. Foi servidor da Secretaria de Educação do DF, além de professor em vários colégios e cursos preparatórios. Ministra aulas de gramática, redação discursiva e interpretação de textos. Ademais, é escritor, com uma obra literária já publicada. Por essa razão, recebeu Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

 


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