“Eu defino a ansiedade como experimentar uma falha antecipadamente”. – Seth Godin, autor best-seller norte-americano
A ansiedade é um sintoma normal da vida. É natural ficarmos ansiosos antes de uma prova ou apresentação, na véspera do início em um novo emprego, nos minutos que antecedem um primeiro encontro… Essa é uma reação importante do corpo, essencial para nossa proteção e para nos fazer agir. No entanto, nada impede que algo normal assim venha a se tornar excessivo e fique fora de controle. O pior é que o mundo dinâmico de hoje contribui bastante para essa conversão, tão nociva.
Somos confrontados o tempo todo com novas informações e novos dados. O ritmo que imprimimos em nossa rotina acelera dia a dia, e as preocupações parece que só aumentam. O concurseiro, por sua vez, é ainda mais ansioso do que a maioria das pessoas. Não é fácil lidar com incertezas como a data das provas, com cobranças de si mesmo e da família, muito menos com a falta de recursos, que é padrão entre os que decidem prestar concurso. Em tempos de dificuldade excepcional como o que ora enfrentamos, a ansiedade pode decolar e alcançar níveis altamente prejudiciais.
Pensando nisso, eu reuni 7 dicas de experientes psicólogos e especialistas que quero compartilhar com você, meu leal leitor. Se está precisando aprender a gerenciar melhor a sua ansiedade, sugiro fortemente a leitura.
As quatro primeiras recomendações são da psicóloga Kátia Lima, nossa professora de Ética e Gestão de Pessoas:
1. Separe o que é provável do que é possível.
Tudo pode acontecer com qualquer um de nós, e a qualquer momento. Podemos estar andando na rua, e, de repente, a televisão de alguém que mora no 17º andar do prédio ao lado cair em nossa cabeça e nos matar. É claro que a chance de isso ocorrer é baixíssima. Mas existe. Em situações de pandemia, de crise, de medo, muitos de nós começam a antecipar situações dramáticas como se elas fossem uma possibilidade concreta, como se uma dada fatalidade fosse uma certeza. Quem sucumbe à ansiedade desse jeito começa a viver como se um cenário desastroso já fosse real, sofrendo por algo que pode nunca se concretizar. Não aja assim, concurseiro. Use a razão para distinguir o que é remotamente provável do que é factualmente possível.
2. Pare de querer controlar tudo.
Outra dica da professora Kátia é separar o que está sob nosso controle daquilo que foge a nossa alçada. Reflita um pouco: cada um de nós tem controle sobre o quê, agora, nesta crise sanitária que atravessamos? Ora, atualmente somos donos apenas de nossa própria higiene e nutrição: podemos dar mais atenção à forma como lavamos as mãos e ser mais cuidadosos quanto à alimentação, sobretudo se quisermos aumentar a imunidade. Além disso, temos autonomia para escolher entre o distanciamento social e o isolamento completo, visto que não há, ainda, imposição de ordem mais restritiva da parte do governo visando controlar o avanço da epidemia no País. E sobre o que não temos nenhuma ingerência? Sobre as escolhas dos nossos vizinhos, sobre quanto tempo vai levar para a vacina sair, sobre as providências que o governo adotará daqui para a frente… Apesar de ser óbvio que vivemos um período de quase-exceção, ainda há pessoas que, insistindo em controlar tudo, viram noites pensando no incontrolável. O resultado é que acordam tensas, assustadas, muitas vezes aos prantos. Pensamentos direcionam nossas emoções, caro leitor. Por consequência, orientam nosso comportamento, criando um estado de ansiedade que pode ser mais amargo e perigoso que a doença que temos de combater.
3. Entenda o princípio da impermanência.
“Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. O provérbio sintetiza o princípio da impermanência, segundo o qual a única constância que temos na vida é a mudança. Esta crise, como todas as outras que vieram antes dela, vai acabar, meu amigo, minha amiga. Quando ela tiver passado, será hora de lidarmos com as consequências, da mesma forma que lidamos com as sequelas de uma doença que nos tenha acometido ou de um acidente que tenhamos sofrido. Acontecimentos, bons ou ruins, vêm e vão. O problema não está exatamente nos efeitos deles, mas na tentativa de anteciparmos algo que nem sequer ocorreu; está no sofrimento por antecipação. Entender que esta fase vai ser superada é crucial no gerenciamento da famigerada ansiedade.
4. Diferencie, em suas preocupações, o que é produtivo do que é improdutivo.
A preocupação produtiva é a que nos conduz à pronta solução para um dado problema. A improdutiva, por sua vez, não gera nenhuma ação concreta porque está restrita ao plano das ideias e depende de uma série de condicionantes. Preocupe-se, sim, com o planejamento do seu dia, com o horário dos estudos e com as ferramentas necessárias para pôr seu plano em prática, mas não perca tempo com apreensões baseadas no “e se”: “e se isso acontecer”, “e se eu”, “e se ele”… Esse tipo de inquietação inútil gera sensação de impotência, que, por sua vez, desencadeia medo, inação e frustração. Tudo isso já foi tema de um artigo meu. Leia AQUI.
5. Siga fielmente suas rotinas.
Meu amigo Sérgio Patto, psicólogo há mais de vinte anos, é um grande defensor do poder da rotina como forma de controle da ansiedade. Ele sustenta que é fundamental ter horário certo para dormir, acordar, praticar exercícios físicos (mesmo em casa, sempre podemos improvisar) e estudar. Para ele, continuar seguindo a rotina, ainda que de maneira adaptada em um cenário de quarentena, pode fazer toda a diferença. O raciocínio é simples: quando mantemos o foco, exercendo nossas atividades cotidianas de forma organizada e ordenada, gastamos menos energia nos preocupando – ou pré-ocupando – com bobagens, com o supérfluo, ou com o que é importante, mas que não está em nosso controle. Além disso, dar atenção à ansiedade típica de momentos de crise como o atual tende a nos deixar ainda mais estressados, daí a importância dos rituais: eles ocupam a mente.
6. Cuidado com a ansiedade por contágio.
Diretor do instituto Ame sua Mente, o psiquiatra Rodrigo Bressan, em entrevista ao médico Dráuzio Varella, revelou que é da natureza humana deixar-se influenciar pelo comportamento de terceiros, e isso se aplica às inquietudes. Se você convive com pessoas ansiosas, precisa reconhecer esse fato e assumir a responsabilidade por si próprio e pelo retorno ao foco, à atitude centrada. Não aponte dedos, não jogue a culpa nos outros, não ceda ao comportamento do grupo. Você é plenamente capaz de gerenciar o seu Eu.
7. Escolha não acompanhar as notícias minuto a minuto.
Dra. Juliana Gebrim é psicóloga clínica com duas décadas de experiência no currículo. Apresentadora do programa Divã do Concurseiro, no Gran Cursos Online, ela faz um alerta aos concurseiros: cuidado com a infodemia. Vivemos em um tempo marcado pelo excesso de informação. A cada minuto, sai uma notícia diferente, uma nova previsão de algum especialista, a opinião de alguém “importante”. Se vivenciarmos isso minuto a minuto, corremos o risco de enlouquecer. Ela sugere que separemos um tempo curto para ver as notícias, mas que jamais as vivenciemos.
Espero que essas dicas tenham ajudado. Sei que nas últimas semanas você, concurseiro, teve de adicionar ao peso que já carrega nas costas outra grande fonte de estresse: uma pandemia que paralisou o mundo. Não será fácil nem rápido, mas tenha certeza: vamos passar por isso juntos, munidos de instrumentos para tornar nossa ansiedade, no mínimo, gerenciável.
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.