A desimportância de quase tudo

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20 de janeiro4 min. de leitura

“A sabedoria da vida consiste em eliminar o que não é essencial.” – Lin Yutang (1895-1976), escritor chinês

Quem me conhece sabe que sou fã de Gary Vaynerchuck, empreendedor norte-americano e autor de numerosas frases de impacto. Uma delas, em particular, embora um tanto exagerada se entendida em sua literalidade, diz uma grande verdade: “99% das coisas não importam”. É sério: a maioria das coisas que fazemos não importam, e, no momento em que nos livramos dos grilhões que nos prendem a elas e compreendemos a desimportância de quase tudo,  nossa vida muda completamente. 

Lá se vai mais de um século desde que Vilfredo Pareto (1848-1923) esboçou, na década de 1890, a regra 80/20, também conhecida como Princípio de Pareto, segundo a qual cerca de 20% de todo o esforço empregado em algo é responsável por 80% dos resultados auferidos. 61 anos depois, em 1951, Joseph Moses Juran, um dos pais do movimento da qualidade total, expandiu essa ideia, que denominou Lei das Poucas Coisas Vitais. Ele observou ser possível melhorar substancialmente a qualidade de um produto ao resolver uma fração minúscula de problemas. Testou essa ideia no Japão, detentor, na época, da má fama de produzir mercadorias de preço baixo e pouca qualidade. Aos poucos, uma revolução nas características de seus produtos resultou na ascensão do país a uma potência econômica global.

“A maioria das coisas que fazemos não importam, e, no momento em que nos livramos dos grilhões que nos prendem a elas e compreendemos a desimportância de quase tudo,  nossa vida muda completamente”

Warren Buffett é outro que se pauta pela intuição de que menos é mais. Investidor e filantropo, costuma dizer que sua filosofia no mercado financeiro se aproxima da letargia. Como assim? Simples: ele faz relativamente poucas aplicações, mas as mantêm por bastante tempo. Injetando dinheiro apenas em negócios que ele entende e que considera sólidos, e apostando pesado neles, Buffett atribui 90% da riqueza que conquistou, de US$ 84 bilhões, a investimentos em somente 10 empresas. 

Dando forma a essa intuição, James Clear, autor do famoso livro “Hábitos atômicos: um método fácil e comprovado de criar bons hábitos e se livrar dos maus”, ensina que a diferença proporcionada ao longo do tempo por uma pequena melhoria pode ser impressionante. A matemática é a seguinte: se um indivíduo se dispuser a ser 1% melhor a cada dia durante um ano, no fim desse período terá se tornado uma pessoa 37 vezes mais evoluída. Ou seja, um acréscimo de apenas 1% não é algo particularmente notável – às vezes não é nem perceptível –, mas pode construir uma realidade bastante significativa se avaliada no longo prazo e de forma cumulativa.

Greg Mckeown, que escreveu o best-seller “Essencialismo: a disciplinada busca por menos”, segue a mesma cartilha de Clear quando explica o poder das pequenas vitórias. Segundo ele, “em vez de começar grande e se esgotar sem ter nada para mostrar além do desperdício de tempo e energia, para realizar coisas realmente essenciais é preciso começar pequeno e ir aumentando o impulso”. Há que usar esse impulso para trabalhar buscando sucesso após sucesso, rumando em direção ao primeiro, depois ao seguinte, e assim por diante, até alcançar um avanço significativo, quando o progresso terá se tornado tão natural e independente de esforço que parecerá instantâneo.

“Se um indivíduo se dispuser a ser 1% melhor a cada dia durante um ano, no fim desse período terá se tornado uma pessoa 37 vezes mais evoluída”

Entendeu a lição? Às vezes, o que você não faz é tão importante quanto o que você faz, então aposte alto nas poucas oportunidades essenciais e diga não às muitas simplesmente boas.

A diferença entre as muitas coisas triviais e as poucas vitais pode ser notada em toda realização humana, pequena ou grande, no campo pessoal ou profissional, nos estudos ou na arte.  Mas a realidade avassaladora é uma só: vivemos num mundo onde quase tudo não vale nada e pouquíssimas coisas têm valor excepcional. Sem dúvida, o trabalho árduo é importante. Porém, mais esforço não gera necessariamente mais resultado. “Menos porém melhor”, sim. Distinguir as raras oportunidades vitais das inúmeras triviais, desimportantes, é sábio. E aprender a dizer NÃO às oportunidades razoáveis e SIM às verdadeiramente incríveis é mais sábio ainda.

Muitas pessoas são impedidas de chegar a um nível mais alto de contribuição porque ainda não descobriram que até as muitas oportunidades boas que buscam costumam ser muito menos valiosas do que as poucas realmente esplêndidas. Quando finalmente entendemos isso, passamos a examinar o ambiente, os convites, as tentações, as opções, com novos olhos, indo atrás das poucas coisas vitais e eliminando com convicção as incontáveis triviais.

Mas como descobrir o que é essencial? Primeiro, siga sua intuição. Dê uma boa olhada a sua volta e avalie o que lhe parece realmente significativo em sua realidade e em suas obrigações. Identifique tudo que você pode descartar sem grande prejuízo. Faça pausas procurando discernir objetos e necessidades que realmente têm valor. Trate de remover os obstáculos para tornar mais fácil a ação. Foque no que é certo, sentindo alegria e aproveitando a jornada, e não apenas o destino. E esteja preparado para situações inesperadas. Por fim, na tomada de decisões, eleja uma capaz de eliminar mil outras. Atitudes como essas conduzirão você ao controle sobre as próprias escolhas, criando um cenário propício ao sucesso e a uma existência com mais sentido. É por isso que o essencialista demora para explorar todas as opções; o investimento a mais se justifica na medida em que algumas coisas são tão mais importantes, que compensam dez vezes o esforço investido para encontrá-las.

‘Trate de remover os obstáculos para tornar mais fácil a ação. Foque no que é certo, sentindo alegria e aproveitando a jornada, e não apenas o destino”

Temos de saber perder para ganhar, afinal não podemos ter tudo nem fazer tudo. É essencial aprender a fazer escolhas com elegância, coragem e autoconfiança, especialmente quando sob pressão. Quem incorpora essas atitudes opta – deliberadamente – por ser diferente, tornando-se um essencialista que diz “sim” àquilo que realmente importa. Todos respeitam e admiram quem é resoluto e corajoso o suficiente para renunciar a algumas coisas, dedicando todo o tempo ao trabalho que foi destinado a fazer, e fazendo-o bem. 

É o seu caso? Se sim, registre nos comentários: “Farei o essencial!”. 

“A maior parte do que existe no universo – nossas ações e todos os outros recursos, forças e ideias – tem pouco valor e produz pouco resultado; por outro lado, algumas poucas coisas funcionam fantasticamente bem e têm um impacto imenso.” – Richard Koch, consultor e autor best-seller.

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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância

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