Como é definida a primeira lotação de um diplomata?

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09 de maio3 min. de leitura

Ao terminar o Curso de Formação do Instituto Rio Branco (IRBr)[1], ao qual se submetem todos os aprovados no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), os Terceiros-Secretários recém-formados precisam trabalhar em alguma área do Itamaraty, em Brasília. Seu primeiro destino no exterior só virá após ao menos doze meses de trabalho na capital brasileira, mas, em geral, ficam entre dois e quatro anos. A definição do local onde o diplomata exercerá suas funções chama-se lotação. Assim, por exemplo, se a designação for a Divisão das Nações Unidas (DNU), isso significa que o diplomata será lotado na DNU.

A primeira lotação de um diplomata costuma causar considerável estresse entre os alunos do IRBr. É comum pensarem que esse primeiro local de trabalho definirá toda a carreira dali para frente. Com isso, alguns acabam adotando postura de muita competitividade durante o Curso de Formação, pois o principal critério para a definição dessa lotação inicial é o das notas. Como consequência indesejável, essa competição por vezes prejudica uma função muito importante da formação inicial do Instituto Rio Branco: a socialização. O sentimento de coleguismo de turma acompanha todos os diplomatas e é conveniente que seja positivo.

Voltemos à primeira lotação. Quando o Curso de Formação do IRBr está por terminar (em geral dura cerca de dois anos), a área administrativa do Ministério das Relações Exteriores (MRE), que se ocupa da política de pessoal, faz avaliação dos setores do MRE com maior carência de diplomatas. A demanda é sempre maior do que a oferta, e o processo costuma deixar muitos insatisfeitos. Cada aluno formado, portanto, vale ouro e, por isso, eles são bastante assediados. Vários são convidados a escolherem determinadas divisões, departamentos como primeiro local de trabalho, mas o aluno do IRBr não tem essa liberdade de escolha.

As opções dos recém-formados apresentam-se dentro de sua ordem de classificação do Curso e das vagas que são oferecidas. Assim, não adianta, como no exemplo dado acima, um diplomata escolher a DNU como primeira lotação se essa divisão não for contemplada com uma das vagas dos jovens rio-branquinos, nem se o formando que queira escolher essa vaga não tenha uma boa classificação de notas e outro com avaliações melhores escolher na sua frente.

Em uma situação hipotética, digamos que sejam 30 os formandos no IRBr. O MRE definirá, então, lista de 30 vagas para lotação nas mais diversas áreas de atuação do Itamaraty. Obviamente, as vagas para trabalhar com assuntos mais cobiçados pelos alunos, como os políticos e econômicos, por exemplo, serão preenchidas antes das demais pelos formados mais bem classificados em notas. Daí surge a competitividade que mencionei acima, pois quem está mais abaixo na lista, acha que será um diplomata de segunda linha e isso prejudicará toda sua carreira.

Isso não é verdade. A primeira lotação é algo importante, sim, para os alunos do IRBr que estão ansiosos para o início do exercício de suas tão sonhadas funções. Esse sentimento torna-se ainda maior pela dificuldade que todos tiveram para serem aprovados no CACD. Devo dizer, porém, que nada é definitivo no Itamaraty, e a primeira lotação é algo que passa muito rapidamente. Levando em conta que a maioria terá carreira de cerca de 35 ou 40 anos, uma lotação de um ou dois anos é quase como uma gota no oceano.

O mais importante, sempre, é levar seu trabalho com seriedade. Todo diplomata que trabalha bem terá diversas oportunidades para conhecer novas áreas até se encontrar. A maioria lida com muitas tarefas distintas e costuma gostar mais daquelas sobre as quais tinha menos expectativas. Isso ocorreu comigo com o tema da promoção comercial, que eu imaginava não ser interessante quando era aluno do IRBr e hoje considero a área mais interessante do Ministério, após ter passado por várias.

Não se aflija jamais. Como digo e repito sempre, o Itamaraty é uma das poucas instituições, senão a única no serviço público, que te oferece a possibilidade de ter vários empregos, em vários países, com várias chefias distintas em uma única carreira. Portanto, mãos à obra em sua preparação para o CACD e aproveite seu futuro!

[1]Veja nosso artigo sobre os cursos do IRBr em http://blog.vouserdiplomata.com/o-instituto-rio-branco-e-formacao-continuada-dos-diplomatas/


Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico

Nomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Saiba +


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