Não há nada mais contemporâneo que, após publicar algo em uma rede social, acrescentar uma hashtag. Usá-la significa redigir uma palavra ou frase antecedida pelo símbolo # (também conhecido como jogo da velha, cerquilha ou quadrado). A finalidade dela é expressar o tema central daquilo que foi dito ou do que será dito – semelhante a empregar um arquilexema um texto (ou, em linguagem cotidiana, é o mesmo que dar um título a uma redação). Todavia, usar uma hashtag exige, de quem redige, algumas regras básicas. Vamos a elas:
- Em português, as hashtags devem receber as devidas notações léxicas (acentos, til e cedilha). O nosso vernáculo exige a presença dessas marcações gráficas. Muitas pessoas ainda pensam “professor, mas, em inglês, eles não usam acentos nas hashtags”. Claro! A ortografia desse idioma simplesmente não possui tais marcações! Como, na sua língua, essas marcações existem, por favor, faça uso delas!
- Se você for escrever mais de uma palavra, lembre-se de usar letra maiúscula iniciando cada uma delas. Você dificulta o entendimento de quem lê quando redige #amominhafamíliamaisquetudonavida. Para facilitar, há um acordo nesse gênero textual: o uso de maiúsculas para simbolizar os espaçamentos (uma vez que as palavras devem ficar aglutinadas). O adequado, portanto, é #AmoMinhaFamíliaMaisQueTudoNaVida.
- Uma única frase representa uma única hashtag. Não é adequado redigir #Deus #Está #Comigo. Prefira #DeusEstáComigo. Al
- A hashtag serve para expressar ideias centrais. Pense comigo: quando você elabora um texto, com certeza consegue identificar uma palavra-chave que resume tudo o que você disse. Em muitas oportunidades, é necessário até usar mais de uma palavra. De todo modo, seja coerente! Sua hashtag deve estar vinculada ao que você dirá ou ao que você disse! Senão, ninguém entenderá sua mensagem – a não ser que sua intenção seja justamente expressar incoerência (o que não deixa de ser uma possibilidade válida)!
Algo ainda tem se tornado mais comum: o uso das hashtags como tema de diversas campanhas. Ao ver uma manifestação nas ruas, você verá diversos cartazes, manuscritos, com o texto sem espaçamentos e antecedido por um #. Isso nos mostra o quanto as línguas e os gêneros textuais são vivos e mutáveis. Esta coluna é dedicada à língua portuguesa (prioritariamente à norma culta), mas não posso me furtar ao fato de que essa é, hoje, uma manifestação linguística legítima! O verdadeiro vernaculista não apenas analisa o que foi canonizado, mas, principalmente, debruça-se sobre as formas emergentes de cada tempo. Senão, o trabalho do professor de português fica preso ao passado, deixando de lado as explicações necessárias do tempo presente. Eu, Elias, preciso dialogar e auxiliar quem vive comigo agora, e não quem já se foi – até porque, para quem já está no descanso eterno, pouco importa se hashtag é escrito como H ou R.
Voltando às campanhas: estamos enfrentando um período muito duro em nossa sociedade. Egoísmo exacerbado, preconceitos, vaidade, corrupção, ganância. O brasileiro deve se posicionar. Se você se sentir à vontade, não deixe de participar das iniciativas virtuais. Tire uma bela foto e redija uma hashtag que combine com suas convicções: #EuRespeitoOCiclista; #ChegaDeCorrupção; #EuMereçoSerRespeitada. Só não vale propagar o ódio. Use suas hashtags para pregar o #Amor.
Elias Santana
Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Respectiva Literatura – pela Universidade de Brasília. Possui mestrado pela mesma instituição, na área de concentração “Gramática – Teoria e Análise”, com enfoque em ensino de gramática. Foi servidor da Secretaria de Educação do DF, além de professor em vários colégios e cursos preparatórios. Ministra aulas de gramática, redação discursiva e interpretação de textos. Ademais, é escritor, com uma obra literária já publicada. Por essa razão, recebeu Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
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