No último domingo, dia 13 de agosto, foi aplicada em todo o Brasil a prova que compõe a Primeira Fase do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), mais conhecida como Teste de Pré-Seleção (TPS)¹, pois assim era chamada antigamente e ainda é até hoje pela maior parte dos CACDistas. Assim como vem ocorrendo nos últimos anos, o exame teve formato objetivo, com 73 questões com quatro itens cada, para que os candidatos marcassem CERTO ou ERRADO.
Se na forma não houve grandes surpresas, no conteúdo surgiram algumas novidades pontuais. Aqueles que seguiram as dicas que sempre transmitimos, entretanto, provavelmente não se surpreenderam, nem se atrapalharam com o tempo ou estratégia de tratamento das questões. Comparado com o TPS do ano passado, pode-se dizer que o desde ano foi elaborado com mais esmero. Quanto ao nível de dificuldade, avaliemos cada disciplina (na ordem apresentada na prova).
Língua Portuguesa. Pessoalmente, considero a mais difícil e desgastante. Assim como vem ocorrendo nas últimas edições, os textos apresentados tinham tamanho considerável, o que causa enorme cansaço, mesmo aos candidatos mais preparados. Levando-se em conta que é a primeira parte do TPS aplicado pela manhã, quem resolveu começar o exame pela disciplina pode ter se complicado um pouco.
Fora isso, como bem avaliado por nossa Professora Vânia Araújo, a Banca mais uma vez, privilegiou a cobrança da compreensão (vide “ideias expressas” na 1ª questão) e da interpretação (ideias implícitas) das ideias e sentidos dos textos em praticamente todas as outras questões de Língua Portuguesa. Seus alunos já se acostumaram a ouvir alertas sobre isso, a iterar e reiterar essa informação em todas as suas vídeo-aulas.
A novidade é que, desta feita, deu-se maior relevo à literatura brasileira e seus respectivos autores – tanto na análise dos textos quanto de alguns aspectos do período literário. Cabe salientar que foi uma cobrança bastante superficial (que não exigia, portanto, do candidato ser um exímio conhecedor da literatura brasileira). Muito interessante que o CESPE volte a cobrar literatura brasileira! Nas provas anteriores, ele cobrou “en passant” este conteúdo.
No que tange à gramática, também não houve novidade, já que a Banca continuou na mesma linha de cobrar “Gramática Aplicada”, ou seja, só foram abordados os aspectos gramaticais que eram realmente importantes para a correta apreensão das ideias dos textos. Neste caso, deu-se especial relevo aos mecanismos de referenciação e substituição de elementos textuais (substituição de conjunções, em especial). Fato muito comentado pela Professora Vânia em suas primeiras vídeo-aulas: o examinador do CESPE, linguista que é, prefere a cobrança da gramática aplicada (pragmática) ao uso da normativa (engessada).
Chama a atenção no TPS que a Banca tenha voltado a cobrar de maneira bastante intensa os significados (tanto literal quanto contextual) de palavras dos textos – não somente de maneira direta, como também sob a forma de reescritas de textos. Sobre essa particularidade da Banca, nossos alunos já haviam sido alertados.
Grata surpresa é a cobrança de pessoalidade/impessoalidade presentes nos textos (vide item 1, da questão 7). (Esse é um conteúdo que a Professora Vânia sempre faz questão de explicar aos alunos, realçando o fato de que, ainda que não seja cobrado nos itens, é importante para a compreensão da intenção do autor de modo geral).
Enfim, a avaliação geral da prova de Língua Portuguesa é que estava fácil e justa: cobrou exatamente o que prescrevia o edital. Para quem acompanhou todas as nossas vídeo-aulas, foi uma prova bastante fácil de resolver, tendo em vista que todos – todos – os quesitos de compreensão e interpretação de textos cobrados estão nelas contemplados. Não faltou nas aulas nenhum conteúdo; mas, sim, houve temas tratados que não caíram, como as figuras de linguagem, por exemplo, que desta vez não foram cobradas.
Política Internacional (PI). De um modo geral, a prova foi apresentou questões bem elaboradas e cobrou adequadamente conhecimento das duas vertentes sempre enfatizada em nosso curso de PI do Gran Cursos Online: a vertente histórico-conceitual e a de atualidades. Sobre esta última, observa o Professor Victor Toniolo que os temas que caíram eram previsíveis, pois estão de acordo com o momento atual das relações internacionais, assim como da inserção externa do Brasil.
Todos os assuntos tratados foram devidamente cobertos nas aulas, mesmo os mais atuais, como Brexit , Síria e direitos humanos e questões de gênero. Sobre esses novos temas, aliás, a Banca Examinadora de PI demonstrou coerência, ao cobrar itens que foram incluídos no programa da disciplina neste ano.
Outros que caem sempre e foram novamente cobrados: MERCOSUL, História da Política Externa (que também cobrou certo conhecimento de História do Brasil) e Teoria das Relações Internacionais, que só não caiu recentemente em 2015.
As questões da prova de PI trataram dos temas com objetividade, sem exageros pontuais. Cobrou-se visão conjuntural, muito mais do que conhecimento de detalhes dos temas, o que foi bastante positivo. Algumas foram ainda mais bem elaboradas do que outras, como a Questão 17, que tratou do tema da segurança nas vertentes regional e multilateral.
A prova de PI no TPS costuma guardar correlação com a prova escrita de PI da Terceira Fase do CACD. Sugere-se, assim, que os candidatos considerem os temas cobrados como uma sinalização do que virá na próxima prova. Atentos a essa tendência, nossos Professores do Gran Cursos Online reforçarão esses assuntos em novas aulas, já em preparação.
Geografia. Quem fez curso regular com o Professor Helges Bandeira teve plena capacidade de responder com tranquilidade a prova. O exame foi bem equilibrado, sem nenhuma surpresa ou pergunta descabida. Além disso, os palpites de nosso Professor foram certeiros: temas que ele alertou que eram importantes, como história da geografia, urbanização e geografia física (Cerrado) foram todos cobrados. No caso de geografia física, ele vinha alertando nas vídeo-aulas que era de se esperar a cobrança, pois fazia certo tempo que não caía. Outro tema bastante previsível era a relação meio ambiente/aquecimento global/energia.
Direito. Como sempre, além de ser a disciplina com menor número de questões do TPS (juntamente com Geografia), está também entre as mais fáceis, mesmo para quem não vem da área de humanas. Assim como em anos anteriores, boa parte das respostas estavam em textos legais, seja da legislação brasileira, como do Direito Internacional Público (DIP).
Aos que seguiram nossas repetidas recomendações de leitura da Constituição Federal de 1988, por exemplo, teria condições de responder um terço da prova (questões 29 e 30). A 31, também sobre Constitucional, exigia básicos conhecimentos da matéria e um pouco de Direito Administrativo. Na outra metade do exame (questões 32 a 34) foram cobrados noções relativamente simples de DIP, com temas como fontes e sujeitos de Direito Internacional Público e tribunais internacionais. De novo, saiu na frente quem seguiu a recomendação de leitura de acordos internacionais básicos, como a Carta das Nações Unidas, a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados e os Estatutos das principais cortes internacionais.
Língua Inglesa. Assim como a prova de Língua Portuguesa, que deve ter cansado pela manhã os candidatos que iniciaram as respostas pela disciplina, Inglês abriu o exame do período da tarde com longos textos e cobrança de nível aprofundado de conhecimento. Não se pode dizer, no entanto, que houve surpresas. Quem se dedicou bem ao estudo do idioma, se preparou para o formato das questões de TPS anteriores e seguiu com atenção as vídeo-aulas do Professor Bandeira terá certamente atingido boa pontuação em inglês.
História do Brasil. Sem surpresas, a prova repetiu temas cobrados em edições anteriores do TPS de forma clara e objetiva. Alguns assuntos foram bem valorizados, como a formação do território do Brasil colonial, o Segundo Reinado e a República Velha, cada um com duas questões. Os temas foram apresentados em ordem cronológica e os enunciados foram curtos e simples. Nada que uma preparação sistemática, portanto, não desse conta de resolver. Os alunos do Professor Paulo Victor certamente não encontraram dificuldade.
História Mundial. Segundo avaliação do Professor Carlos Vidigal, a prova não apresentou solução de continuidade em relação aos anos anteriores, manteve a tradição do uso de efemérides como fonte de inspiração e conservou sua dimensão multidisciplinar, notadamente em relação à área de Relações Internacionais. Os temas com maior incidência nos últimos anos voltaram a aparecer e temas “obrigatórios” incorporados nos últimos, como os Estados Unidos no século XIX e a História da Arte, também se fizeram presentes. Quanto ao grau de dificuldade, pode-se considerar que a prova apresentou nível médio, semelhante às provas anteriores.
A distribuição das questões manteve o compromisso com a avaliação de todos os tópicos do programa, com duas exceções: o tópico 1, Estruturas e Ideias Econômicas e o 6. Ideias e Regimes Políticos. A tendência de maior concentração nos temas de relações internacionais deve continuar no próximo ano, assim como a presença dos demais itens, o que não significa baixa probabilidade de questões sobre os tópicos 1 e 6 do programa, em razão da amplitude dos mesmos, como atestam seus sub-tópicos.
Quanto às efemérides, os cem anos da Revolução Russa neste ano 2017 devem ter influenciado a banca quanto à necessidade de inclusão do tema. De modo difuso, pode-se considerar a evidência da atual política norte-americana, notadamente no plano internacional.
Os itens mais difíceis continuam sendo aqueles que contêm informações específicas sobre os dispositivos de tratados e demais instrumentos normativos internacionais, como as concessões territoriais e as áreas de influência definidas em Viena (1815), as alianças formadas nas décadas anteriores à eclosão da Primeira Guerra Mundial e as resoluções desta e daquela conferência interamericana.
Os mais fáceis podem ser considerados os que negam ou afirmam grandes características de determinados acontecimentos históricos: o caráter operário da Revolução Russa e camponês da Revolução Chinesa; a instabilidade política da América espanhola pós-independências, em contraposição a um suposto fortalecimento do estado; ou a facilidade em se identificar causas e atores da Segunda Guerra, e não usa impossibilidade, como afirmado na questão 64, item 4.
Digno de nota é a questão sobre a “vida cultural”, contemplada no terceiro ano consecutivo. Na questão sobre o tema e em um item da questão 63, o de número 4, foram cobradas a relação autor-obra, características dos grandes movimentos culturais (pop art, romantismo, vanguardas do início do século XX) e a relação entre arte e contexto histórico. Enfim, uma prova adequada para esta etapa do concurso, capaz de selecionar aqueles que memorizam mais informações e que têm compreensão do processo histórico em sentido amplo.
Economia. Com as mudanças introduzidas pelos organizadores do CACD no programa de Noções de Economia, o conteúdo cobrado tornou-se bastante extenso e bem mais complexo do que o existente até 2016. Com isso, como era de se esperar, o TPS deste ano foi mais difícil do que os anteriores, assim como é possível esperar que a prova escrita da Terceira Fase seguirá na mesma linha.
Ainda assim, o curso oferecido pelo Gran Cursos Online, que tentou reagir a essas mudanças inesperadas, cobriu pelo menos 70% do que foi cobrado no TPS, de acordo com a avaliação do Professor César Frade. Houve duas questões sobre microeconomia, sendo 7 dos 8 itens considerados fáceis e um pouco menos, e nossos alunos provavelmente conseguiram responder bem se seguiram com atenção as aulas de nosso curso.
O mesmo se pode dizer das questões sobre economia brasileira (substituição de importações) e Conferências de Bretton Woods. Outros temas foram menos tratados nas aulas de economia, mas como se tratavam de assuntos também tratados nos cursos de História (do Brasil e Mundial) e Política Internacional, seria possível nos conhecimentos gerais de um candidato bem preparado buscar resposta correta aos itens. Finalmente, no caso da questão sobre Banco Central, 2 dos 4 itens foram bem tratados nas aulas, mas não se previu cobrança sobre as funções do Federal Reserve System (FED), dos EUA.
Para os que leem estas linhas e lograram aprovação no TPS de 2017, parabéns! Caso tenha seguido as aulas de nossos cursos, tenho certeza de que consideram ter valido muito a pena. Saiba que estamos atentos às tendências temáticas apresentadas nessa prova, que sempre foi bom indicativo para o que poderá ser cobrado nas Segunda e Terceira Fases do CACD. Convido-as(os) a desfrutarem de nossas aulas já disponíveis, assim como das que estamos preparando para essas etapas.
Se você não passou no TPS, já sabe que no ano que vem haverá novo CACD e existe, inclusive, a possibilidade de que seja realizado no primeiro semestre. Tendo em conta esse cenário, estamos preparando um curso completamente novo e atualizado de todas as disciplinas. Siga conosco e realize o sonho de se tornar diplomata! Boa sorte!
Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico
Nomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Saiba +
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