Escadas invisíveis 

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O desafio, à primeira vista, é fonte de desconforto: desestabiliza a rotina, embaralha certezas e nos empurra para fora do abrigo que construímos com tanto zelo. Contudo, sob essa aparente desordem, esconde-se um chamado. Um convite para crescermos, para enxergarmos o que já não nos serve e, sobretudo, para descobrirmos forças que nem sequer imaginávamos ter. Cada dificuldade posta em nosso caminho é, no fundo, uma convocação ao exercício do nosso livre-arbítrio: até onde estamos dispostos a ir para honrar o potencial que nos foi confiado?

Histórias reais comprovam essa dinâmica. A adolescente que repetiu o ano e, apesar de desacreditada por muitos, tornou-se uma professora respeitada… O vendedor de doces no metrô que, anos mais tarde, inaugurou sua própria confeitaria e conquistou a independência financeira… Transformações como essas não dependeram do acaso: nasceram do encontro entre adversidade e coragem. E digo mais: o maior fruto não foi o êxito financeiro, mas a metamorfose silenciosa do caráter, da visão de mundo, da essência dessas pessoas.

Os antigos filósofos já alertavam que a alma precisa de exercício tanto quanto o corpo. É o desafio que funciona como essa academia invisível, ensinando – à custa de algum sofrimento, é claro – a sustentar o peso das perdas, das frustrações e das incertezas sem se quebrar por dentro. Mais do que resistir, trata-se de aprender a se adaptar sem trair o que pulsa no nosso íntimo. Quando tudo parece ruir, a alma discretamente começa a se reconstruir para enfrentar – e vencer – futuras provações.

Quantas vezes um aparente fim revela-se prenúncio de algo melhor? A reprovação em um concurso, que à primeira vista parece derrota, impulsiona o candidato a aprimorar o método de estudo até conquistar sua vaga – que eventualmente pode ser ainda melhor que a inicialmente pretendida. A mudança forçada de cidade, que de início soa como exílio, depois é percebida como um livramento, uma nova vida que jamais seria possível sem aquela ruptura. Cada um desses enredos se desenrola como em um palco onde o desafio dá o tom para o drama, e a superação, quase sempre de surpresa, irrompe no ato seguinte, dando novo sentido à história.

É curioso como, no calor da dificuldade, tudo o que desejamos é que ela passe logo. Contudo, com o correr dos anos, vai ficando claro que foi justamente ali que aprendemos as lições mais valiosas, aquelas que moldaram o que temos de mais sólido em nosso caráter. O desafio educa o silêncio, alonga a paciência, refina as prioridades. Ele nos ensina não apenas a conquistar, mas a transformar. Não ergue muros; amplia o horizonte. Põe diante de nós um grande espelho no qual contemplamos, sem disfarces, as facetas ocultas da nossa alma, aquelas que, sem as provações, talvez jamais viessem à luz.

A ciência corrobora o que a experiência já intuía. Uma revisão abrangente publicada em 2023 demonstrou que enfrentar adversidades moderadas fortalece os mecanismos psicológicos de adaptação, pavimentando o caminho para um maior bem-estar emocional e desempenho mais consistente ao longo da vida. Em paralelo, um estudo longitudinal com mais de dez mil participantes indicou que elevados níveis de resiliência estão associados a uma redução significativa no risco de mortalidade. Em outras palavras, perseverar não apenas forja o caráter como também prolonga nossa passagem na Terra. A capacidade de atravessar dificuldades com coragem e inteligência emocional mostra-se, portanto, mais que uma virtude, uma vantagem vital.

A natureza, silenciosa e sábia, transmite a mesma mensagem. O bambu chinês, por exemplo, passa anos invisível, aprofundando suas raízes, antes de emergir e crescer vários metros em poucas semanas. Sob a terra, aparentemente nada acontecia. Ledo engano: a base era silenciosamente preparada para sustentar o que viria depois. 

Com a nossa vida não é diferente. Os períodos árduos fortalecem estruturas invisíveis porém fundamentais para um crescimento sólido e duradouro. Por isso, esteja atento: se o seu avançar parece mais lento e dificultoso, é sinal de que, sob a superfície, seus alicerces estão se expandindo para sustentar voos mais altos. 

Assim, mude o seu olhar sobre os desafios. Eles não surgem para punir, mas para despertar. Não vêm para destruir; vêm para depurar. São mestres sutis que removem o supérfluo e abrem espaço para o essencial. No fim, deixam um legado inestimável: uma habilidade recém-descoberta, um propósito mais autêntico, uma fé amadurecida. 

Entenda que a chave está em caminhar com o desafio em vez de combatê-lo e repeli-lo a todo custo. As escadas, em um primeiro momento, podem parecer invisíveis, mas acredite: você está subindo, melhorando. E mais: perceba que o maior prêmio não está no que conquistamos depois, mas na pessoa mais forte, sábia e verdadeira que nos tornamos durante.


Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha de perto o universo dos concursos desde muito cedo. Ingressou nele, profissionalmente, aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanalmente para o blog do Gran. Formou-se em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Em 2021, foi incluído na prestigiada lista da Forbes Under 30. Autor de 4 livros que figuraram entre os best-seller da Amazon Kindle.

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