Generalista ou especialista: o que deve ser um diplomata?

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Médicos, engenheiros, psicólogos: em geral, os profissionais buscam na especialização um nicho de mercado destinado àquela demanda. Assim, se alguém está com dor nas costas, não vai buscar um médico qualquer, mas um ortopedista, assim como quem vai construir uma casa prefere contratar um engenheiro civil e, se o filho estiver com problemas na escola, procurará uma psicóloga infantojuvenil.

No caso de um diplomata, porém, a situação é bem distinta. Por se tratar de um profissional que necessita estar sempre pronto a tratar de qualquer tema relacionado aos interesses do Brasil no exterior, normalmente acaba enveredando pelo caminho do generalismo. Dizem que o cúmulo da especialização é saber tudo a respeito de nada. No caso do generalista, portanto, a meta seria conhecer nada sobre tudo. Eis o diplomata perfeito!
Brincadeiras à parte, essa realidade vem mudando e é cada vez maior o número de diplomatas que buscam a especialização, ainda que remem contra a maré quando progridem profissionalmente. Isso porque é mais fácil ser especialista no início da carreira do que no final. Imagine um diplomata que acaba de deixar as salas de aula do Instituto Rio Branco. Poderá, por exemplo, ir trabalhar na área política multilateral, na divisão responsável por acompanhar o tema do desarmamento e cuidar apenas das posições do Brasil sobre a proibição de armas químicas.

Esse diplomata provavelmente será aquele que mais entende do tema dentro do Itamaraty durante um certo tempo. Digamos que fique nessa mesma divisão por quatro anos e depois peça remoção para nossa missão junto à Organização das Nações Unidas e lá continue a acompanhar o assunto. De lá, porém, que é um Posto de categoria A, ele precisará sair após três anos e escolher uma Embaixada ou Consulado de categoria B, C ou D, por conta da necessidade de rodízio entre destinos de categorias distintas. Nesse momento, então, deixará necessariamente de se dedicar ao desarmamento e cuidará de outras questões, como o acompanhamento da política local, por exemplo.

Em outros casos, é possível até ficar mais do que esses sete anos exemplificados acima acompanhando o mesmo assunto, quando se tratar de um tema um pouco mais genérico, como os culturais ou de promoção comercial, que são acompanhados em Brasília e em basicamente qualquer representação do Brasil no exterior. Em algum momento, no entanto, por questões circunstanciais (ausência de outros diplomatas que são responsáveis por outras questões) ou mesmo por necessidade de chefia, quando o profissional tiver sob sua responsabilidade outros colegas tratando de vários assuntos, esse diplomata precisará aprender a abrir seu leque de conhecimentos.

Em última instância, se chegar a um cargo de alta chefia no exterior (embaixador ou cônsul-geral, por exemplo) ou no Brasil (direção de departamento ou subsecretaria), o diplomata necessitará se tornar um generalista, ainda que durante toda sua carreira tenha se especializado em um único tema ou área (econômica, política, cultural, promoção comercial, administração, cerimonial etc.). O melhor, portanto, será sempre encontrar o meio-termo, solução comum na diplomacia, entre a especialização e a generalidade.


Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico

Nomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Saiba +


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