A Saga de um Concurseiro. Por: Aragonê Fernandes

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14 de março5 min. de leitura

A saga de um ConcurseiroMinha história de vida está intimamente ligada aos concursos públicos. Para você ter uma ideia, comecei a estudar para eles ainda aos 16 anos de idade. Colecionei um grande número de reprovações e um punhado de aprovações.

Vim de uma origem muito simples. Sou o quarto de cinco irmãos. Quando a mais velha passou no concurso dos Correios (ECT), ela teve acesso a salários certos, plano de saúde, auxílio-alimentação, cesta básica etc. Foi ali que pensei: é esse aí o caminho!

Daí, comecei a saga. Na primeira prova que fiz, para Técnico Judiciário do TJDFT – área telefonista –, não tive uma colocação muito ruim. Então, peguei a grana de uma rescisão trabalhista e investi no melhor preparatório de Brasília (eram somente duas ou três instituições àquela época).

Mas havia um probleminha… eu tinha uma boa dose de arrogância e achava que faria aquilo com os pés nas costas. Isso porque nunca tive dificuldades no 1º e 2º graus (hoje, Ensinos Fundamental e Médio). Então, não estava acostumado com a necessidade de estudar de maneira tão dedicada.

Eu faltava a várias aulas no cursinho, por acreditar que não precisava. Na verdade, minha meta era passar entre os dez primeiros.

A minha mãe, que tinha cinco filhos, que era casada, cheia de responsabilidades e que cursou o 2º grau muitos anos antes de mim e na forma de supletivo, pegava minha apostila e ficava lendo em casa.

Veio o resultado e lembro até hoje a minha classificação, pois é o ano da Revolução Francesa: 1.789º. Pior: minha mãe tinha passado quase mil colocações à minha frente – não que eu fosse melhor do que ela, mas dadas as circunstâncias, eu me sentia quase na obrigação de ficar à sua frente.

Como pé na bunda também nos coloca para frente, foi ali que me dei conta de que se eu fingisse estudar, nunca passaria em nada.

Comecei a me dedicar de modo firme e comprometido. Ainda assim, as aprovações não vieram de modo automático. Vida dura essa de concurseiro…

Veio a primeira aprovação (ah, aprovação para mim é ser chamado, viu?! Essa história de ver o nome na lista, mas lá atrás, para mim, não funciona).

Fui chamado para trabalhar no IBGE, na função de recenseador (contratação temporária). Eu tinha dezoito anos e poucos meses. Confesso que odiei o trabalho. Fiquei lá apenas dois dias, porque eu também tinha uma proposta da iniciativa privada.

Mais alguns meses à frente, passei para a CAESB, Companhia de Saneamento do DF.

Mas tem outra parte da história que você precisa saber: eu trabalhei vendendo cachorro quente na frente daquele curso preparatório que falei linhas atrás. Na época, minha irmã mais velha (a dos Correios) estava estudando para Técnico Judiciário do STJ. Ela passou, foi chamada e, um dia, me chamou para ir com ela ao Trabalho.

Foi um dia mágico! Aquele local parecia um Palácio – até hoje penso assim! Lembro que me fiz uma promessa: um dia eu venho trabalhar aqui!

Voltando para a retrospectiva, fiquei dois anos na CAESB, num cargo de nível médio.

Nesse meio tempo, saiu concurso para o STJ. Pensei: “É agora!”. Fiz um cursinho num preparatório perto da minha casa – periferia de Brasília – e me dediquei ao máximo.

Veio o resultado e eu tinha passado em 76º. Minha irmã estava lotada no RH do Tribunal e já sabia que seriam chamados rapidamente cerca de cem técnicos. Ou seja, eu estava dentro!

But (sempre tem um but), ainda faltava a prova de digitação. Eu tinha – e tenho – tendinite. Chorava de dor e não conseguia digitar direito. Ia para um curso de digitação, mas o rendimento não era o necessário.

No dia da prova prática, juro para você que não era eu quem digitava. Minhas mãos pareciam as do “Edward mãos de tesoura”. Eu digitava loucamente. Olhei para cima e pensei: “Sei que o Senhor está no comando. Pode continuar!”.

Claro que deu certo!

Meses mais tarde, lá estava eu, no STJ. No semestre seguinte, comecei a Faculdade de Direito, numa instituição privada. A grana era bem curta no STJ (a remuneração estava muito defasada), e eu fazia o mínimo de créditos da ‘facul’. A previsão era de me formar em oito anos.

Porém, as coisas foram fluindo, a grana melhorando, eu conseguindo função de confiança… Resultado: me formei em seis anos.

Daí, pensei: é hora de pagar esse Diploma!

A saga concurseira voltou – ela havia parado, esperando a formatura. Nessa época, eu adorava Direito do Trabalho, pois as cadeiras dessa área na faculdade tinham ótimos professores.

Resolvi que queria passar no TST, para Analista. Eu já tinha reprovado nas provas de Analista do MPU e do TSE (na discursiva).

Estudei mais ou menos um ano para o TST. No dia da prova, eu estava bastante preparado, mandando bem nas objetivas. Estava com a discursiva do TSE engasgada e pensei: vou ali ao banheiro jogar uma água nos braços e no pescoço para voltar com tudo.

É, meu amigo, às vezes o plano de Deus não coincide com o seu… Fiquei muito chateado com Ele…

Eu havia esquecido a chave do carro (com controle remoto do alarme embutido) em meu bolso. Resultado: quando o fiscal passou o detector de metais, eu acabei sendo eliminado do concurso. Ainda ponderei com ele, mas nada feito.

Fiquei mal à época. Até parei de dar aulas (tinha começado alguns anos antes). Eu pensava comigo: “não sirvo nem para tirar a chave do bolso. Como vou ensinar os outros a passar em concurso?”. Uma bobagem, é claro, mas naquele momento, não era.

As coisas foram caminhando e, então, saiu o concurso do STF. Quem trabalha no Judiciário sabe que o Supremo não é o melhor dos Tribunais para os servidores. Nunca tive vontade de trabalhar lá.

Mas, repito: às vezes o plano de Deus não coincide com o nosso…

Eu fui para a prova e tive uma surpresa: dos 150 itens, eu sabia 142. Mais: a discursiva tratava do processo legislativo, um dos temas que mais gosto dentro de Constitucional.

Aí vem outra curiosidade: as provas foram no domingo, e na terça-feira da mesma semana, um Ministro que havia entrado recentemente no STJ me chamou para ser seu Assessor.

Isso significava mais do que dobrar meus ganhos. Falei para ele: “Ministro, eu passei no concurso do STF e devo ser chamado em breve”. Ele então retrucou sorrindo: “A prova foi domingo agora. Como você sabe que passou?”.

A verdade é que no fundo eu sabia que tinha passado. Veio o resultado e não deu outra: estava entre os primeiros colocados, fui chamado bem rapidinho.

Daí, conversei com Deus e falei “agora entendi a história da chave… agora entendi quando dizem que o Senhor escreve certo por linhas tortas…”. Foi exatamente nesse contexto que aprendi a não reclamar tanto quando as coisas não saem como esperamos. Deve haver (sempre há!) uma razão para isso.

Voltando, eu continuei sentado na mesma cadeira, naquela Casa com a qual tanto sonhei. Isso porque o Ministro me requisitou, e o Diário Oficial publicou num campo a minha nomeação e logo abaixo a cessão do STF para o STJ.

A saga concurseira tinha dado nova pausa. Os desafios de atuar como Assessor de Ministro eram enormes.

Mas fazer concurso está nas minhas veias – confesso que até hoje sinto saudades!

Comecei a enfrentar os “concursos grandes” (Juiz, Promotor e Defensor). Eu tinha nítida predileção pelo cargo de Defensor Público, em razão do lado social, que é lindo demais.

Parti para as provas, e é claro que as reprovações voltaram. Anote aí: Promotor em Sergipe, em Rondônia, em São Paulo e em Goiás. Passei para o MPDFT, um dos mais desejados. Para Defensor, reprovei na Defensoria da União e passei na do Rio Grande do Sul, que está entre as melhores do País. Para Juiz, reprovei na Paraíba e passei aqui no DF.

Chegada a hora da colheita: na hora de assumir como Defensor no Rio Grande, eu estava na prova oral de Promotor DF. Abri mão de tomar posse lá. Passei e fui chamado para o MPDFT. Fiquei lá cerca de dois meses, porque também tinha passado em todas as fases de Juiz do TJDFT, minha Casa desde julho de 2012.

Curioso que passei para Juiz, Promotor e Defensor. No entanto, aquele que eu mais tinha em mente (Defensor Público) foi o único que não assumi. O fator determinante foi a necessidade de ter que sair do DF, local onde nasci e onde morava minha família.

Hoje, pendurei as chuteiras! Até pensei em estudar para Cartórios, mas não curti as matérias. E, cá entre nós, dinheiro está longe de ser o mais importante!

Contei um pouquinho da minha história de concurseiro para você entender que tive dias de tristeza (muitos) e dias de glória (alguns)! Saiba que boa parte das suas angústias também eram as minhas.

Se puder deixar um recado, eu diria a você que valeu a pena!

Muitos me perguntam por qual razão dou aula, porque trabalho tanto.

A resposta pode ser resumida numa frase curta: O que mudou minha vida, também pode mudar a sua!


Aragonê Fernandes

Juiz de Direito do TJDFT; ex-Promotor de Justiça do MPDFT; ex-Analista Judiciário do STF; ex-Assessor de Ministros do STJ
Professor de Direito Constitucional do Gran Cursos Online

 

 


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