Você às vezes se sente, como dizem, “tirando leite de pedra”? Essa é uma daquelas expressões populares que ninguém sabe exatamente de onde surgiu, mas que é transmitida de geração em geração. Simplesmente veio e pegou. Então me diga: a angústia de “tirar leite de pedra” é seu estado de espírito nos últimos tempos? E, afinal, o que isso quer dizer na prática e como encarar esse sentimento sem esmorecer? Vamos conversar sobre isso?
Intuitivamente, todos sabemos que a expressão tem o sentido de fazer algo praticamente impossível. Consegue tirar leite de pedra aquele que obtém um improvável resultado positivo numa situação bem, bem desfavorável. Trata-se de realizar algo grandioso ou dificultoso apesar dos parcos – ou nulos – recursos. O dito popular provavelmente é uma variante de “tirar água de pedra”, que data do século II a.C. e remete à dificuldade de extrair o líquido do maior símbolo de secura que há, a pedra-pomes[1]. No Brasil, a expressão ganhou novos contornos, fazendo alusão à seca do sertão, período do ano em que os produtores lutam para manter o gado vivo em meio a um campo de pedras no lugar da vegetação que serviria de alimento para os animais.
Desse contexto, bem particular, a gíria estendeu-se a todos os demais. Ela cabe bem no meio empresarial, por exemplo. Aliás, talvez você não saiba, caro leitor, querida leitora, mas eu mesmo já fui obrigado – junto a minha equipe – a “tirar leite de pedra” em boa parte dos meus quase dez anos de empreendedorismo, especialmente naqueles em que havia mais contas a pagar do que orçamento em caixa. Passamos por tempos difíceis até nos firmarmos como a empresa que somos hoje, com 425 mil alunos ativos em todo o país. Fizemos alguns milagres para chegar até aqui, e, olhe, valeu muito a pena.
“Tirar leite de pedra”, dizem os brasileiros; “get blood out of a stone”, diriam os ingleses; “apanhar rosas em cardo” (plantas com folhas e hastes espinhosas), no linguajar dos portugueses… Não importa o idioma, esses ditos evocam outros com significados parecidos. “Fazer das tripas coração”, por exemplo, quer dizer empreender muito esforço para conseguir algo. “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, por sua vez, sugere que tenacidade e persistência vencem qualquer obstáculo. É aquela história: de tanto tentar algo – como passar em concurso –, “chegou lá”. Aqui me vem à mente o exemplo do Dr. Fábio Branda, que, até realizar o sonho de se tornar juiz do Trabalho, foi reprovado nada menos que 42 vezes no concurso. Foram mais de 10 anos de tentativas!
E então penso… Quantos dos nossos alunos se veem hoje no limite – ou até além dele –, fazendo o impossível para sobreviver dentro do orçamento familiar e ainda estudar para concurso público? E quantos dos nossos seguidores vêm conquistando o absolutamente improvável, como se levassem na mente e no coração a letra da canção de Jamily: “Nossos sonhos, a gente é que constrói. É vencendo os limites. Escalando as fortalezas. Conquistando o impossível pela fé…” (Vale acrescentar: pelo trabalho duro, sem trégua, sem conhecer o impossível. Até porque a palavra “impossível” foi criada por alguém que definitivamente não era do time dos imparáveis.)
Em meio a tal divagação, concluo que pessoas valorosas como as que sabem tirar leite de pedra ou apanhar rosas em cardo entendem que não existem desafios intransponíveis. Elas parecem ouvir sem nenhuma dificuldade aquela vozinha que vem lá do fundo do coração, aquela que indica os caminhos do belo, do justo, do bem, do verdadeiro. E como é preciso ouvi-la para sobreviver às demandas da existência!
Todo dia é dia de tirar leite de pedra, meu amigo, minha amiga. Todo o dia é dia de tentar mais uma vez, caro concurseiro, mesmo sem apoio e longe do ideal em termos de finanças. Entenda: estamos sob a regra de que a vida continua, e, acredite, essa noção de que as coisas seguem seu curso pode funcionar como uma carapaça que, protegendo da dor e do sofrimento, engaja. Afinal, apenas quando se está saturado, cansado mesmo de tudo, as soluções que até então vinham sendo adiadas se tornam urgentes. Esse novo estado de espírito dá azo à criatividade, pois já não estão mais disponíveis os recursos (tempo, dinheiro…) para se insistir no caminho mais fácil.
Quem não sabe tirar leite de pedra não faz ideia do que é ouvir a voz do coração, tampouco o que é ser imparável. Se você topar com alguém assim, pode estar certo: ouvirá coisas horrendas, em claras tentativas de dissuadi-lo do seu propósito. Então blinde-se o quanto antes para que, quando essa pessoa tentar – e ela vai tentar –, você esteja apto a não sucumbir. Sem meias-palavras: quando você começar a atrair muitas críticas, parabéns! Significa que está no caminho certo.
O povo brasileiro, infelizmente, é continuamente desafiado a tirar leite de pedra. Atualmente, 30 milhões de trabalhadores vivem com até um salário mínimo (hoje de R$ 1.212,00). A remuneração mensal média por aqui é de pouco mais de R$ 2.000,00. Durante a pandemia de covid-19, nada menos que 67,9 milhões de brasileiros dependeram do auxílio emergencial, que, como o nome diz, cobria apenas emergências, e das mais básicas. Em síntese, há um número superlativo de famílias que têm cotidianamente tirado leite de pedra para, apenas, sobreviver. Não consigo expressar como isso é triste, mas tenho uma certeza: só poderemos mudar esse quadro por meio da educação, agora aliada e integrada à tecnologia.
Assim, você que lê esta mensagem, está um passo adiante na corrida em busca de um cenário melhor para si e sua família. Você pode, por meio do estudo, efetivamente fazer algo a fim de não se sentir tirando leite de pedra para sempre. Mais dia, menos dia, a chuva vem, mesmo no sertão das vacas magras. Da mesma forma, todo deserto tem seus limites; cabe ao errante elaborar um plano para atravessá-lo. Como toda fase, esta também vai acabar; o que você tem de fazer é agir para abreviá-la. Vale se perguntar: o que a vida espera de mim?
Enfim, meu amigo, minha amiga, não desanime ao se sentir tendo de vencer o impossível todos os dias. No Gran, estamos fazendo o impossível para que também as pessoas com poucos recursos financeiros consigam estudar e se tornar competitivas nos certames. Acreditamos no potencial da ajuda mútua e na transformação que essa sinergia pode produzir.
Então vamos juntos, vencendo os limites, conquistando o impossível, extraindo o branquinho da rocha. Venha com a gente!
“Nós só temos direito de esperar pelo impossível depois de termos feito tudo o que nos foi possível.” – Padre Fábio de Melo
[1] Ver https://g1.globo.com/como-sera/noticia/2018/05/hoje-e-dia-de-tirar-leite-de-pedra-e-agua-tambem-sai.html. Acesso em: 13 fev. 2022.
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