Classificação da queimadura pela profundidade: comparação do PHTLS 2017 com o manual do Ministério da Saúde

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22 de Setembro de 2017

Olá, amigo (a) da enfermagem! Estamos hoje aqui com o objetivo de trazer algumas novidades na classificação da profundidade das queimaduras pela equipe do PHTLS, que é um protocolo de atendimento pré-hospitalar no trauma muito cobrado nas provas de concursos. Compararei essa classificação com a do manual do MS: “Cartilha para tratamento das emergências no tratamento das queimaduras”, também muito utilizado pelas bancas.

Antes de abordar as classificações, vamos revisar a anatomia da pele e a fisiopatologia da queimadura?

1.0 Anatomia e fisiopatologia

Vamos revisar a anatomia da pele?

A pele é formada por 3 camadas: a epiderme, que é a mais superficial e a responsável pela impermeabilização da pele por meio da queratina; a derme, que é responsável pela elasticidade da pele por meio do colágeno; e a hipoderme, também chamada de subcutânea, que é o tecido gorduroso.

Na temperatura superior a 44º C, as proteínas começam a desnaturar, o que provoca lesões nas células e nos tecidos.

O PHTLS traz características diferentes da queimadura a depender da região. Ele divide o local da lesão em 3 regiões: 1. zona de coagulação, 2. zona de estase e 3. zona de hiperemia.

A zona de coagulação é o centro da lesão e onde ocorre morte tecidual (necrose). Ao redor da lesão central, é encontrado um tecido lesionado, mas não de forma irreversível. Por último, teremos uma zona de hiperemia. Se for aplicado gelo na queimadura, essa zona intermediária ficará sem receber sangue pela vasoconstrição, resultando em aumento da lesão de coagulação.

Fonte: PHTLS 2017

Fonte: PHTLS 2017

Em queimaduras de grande extensão, observamos uma resposta inflamatória intensa. Essa resposta faz com que os vasos capilares percam fluido para o terceiro espaço em maior quantidade, o que provoca edema tecidual e até risco de choque hipovolêmico (pela perda de volume dentro dos vasos).

Isso leva à diminuição generalizada de volume de sangue, enquanto  a quantidade de plasma no restante do sangue diminui significativamente, fazendo com que este fique mais concentrado. A diminuição da corrente sanguínea para os diversos órgãos, como os rins ou o aparelho digestivo, pode provocar insuficiência renal e úlceras no estômago.

2.0 Classificação, sinais e sintomas – PHTLS

Nesse tópico precisamos diferenciar a extensão e a profundidade da queimadura. Quando falamos em graus (1º, 2º, 3° e 4º) ou espessura parcial, espessura total, estamos nos referindo à profundidade da área queimada. Porém, quando se fala em porcentagem (%) da área queimada, há referência à avaliação da extensão da área queimada.

Fique ligado nesse tópico, pois houve mudança na classificação da queimadura no PHTLS 2017 em relação à classificação do manual do MS.

O PHTLS reforça que a queimadura pode evoluir mesmo após ter cessado o evento causal. 48 horas é o prazo de estabilização da lesão, quando a queimadura deverá ser classificada em: superficial, espessura parcial, espessura total e 4°.

O PHTLS recomenda que nos primeiros atendimentos a classificação da queimadura seja em superficial ou profunda (parcial ou total).

  • Superficial – Atinge apenas a epiderme e apresenta-se com hiperemia e dor.

Esse tipo de queimadura é a mais simples e sem repercussões clínicas. Exceto a queimadura pelo sol em grande parte do corpo, que pode evoluir para desidratação, principalmente em crianças e idosos.

Fonte: PHTLS 2017

Fonte: PHTLS 2017

Palavra-chave: Hiperemia, edema e dor.

  • Queimadura de espessura parcial – Atinge a epiderme e várias partes da derme, se apresenta com a presença de bolhas.

Palavra-chave: bolhas.

Na queimadura parcial, deve-se ter o cuidado para que a zona de estase não evolua para zona de necrose. Uma ação que favorece a ampliação dessa lesão é a aplicação de gelo na queimadura. Por isso, o gelo é contraindicado como método analgésico nesse tipo de lesão.

Fonte: PHTLS 2017

Fonte: PHTLS 2017

  • Queimadura de espessura total – se apresenta espessa, seca, branca e rígida. Antes denominada de terceiro grau. O PHTLS reforça que são lesões doloridas.
Fonte PHTLS 2017

Fonte PHTLS 2017

Queimadura de 4º grau (espessura total com lesão de tecido profundo) – Nesse grupo, o PHTLS ainda denomina a queimadura de 4° grau, mas a compara com uma lesão de espessura total com lesão de tecido profundo, por isso utilizei o termo na descrição. Nessa categoria a queimadura atinge o tecido subcutâneo, os músculos, tendões, ossos ou órgãos internos.

Fonte: PHTLS 2017

Fonte: PHTLS 2017

Palavra-chave – lesão em órgãos

3.0 Classificação das queimaduras – Ministério da Saúde

Essa mudança na classificação, acima descrita, ainda não foi cobrada nas provas de concursos, pois surgiu no manual do PHTLS de 2017. Além disso, não só de PHTLS vivem os concursos (rsrs). Dessa forma, vamos utilizar também a classificação do manual do Ministério da Saúde, que também é utilizado nas provas.

Segundo o manual do MS – “Cartilha para tratamento das emergências no tratamento das queimaduras”, a profundidade das queimaduras classifica-se em:

  1. Queimadura de 1º grau – Afeta somente a epiderme, sem formar bolhas. Apresenta-se com hiperemia, dor e edema e descama em 4 a 6 dias.

Palavra-chave: hiperemia

  1. Queimadura de 2º grau – Afeta a epiderme e parte da derme, forma bolhas ou flictenas. O manual do MS ainda subdivide a queimadura de 2° grau em superficial e profunda.
  • Superficial: a base da bolha é rósea, úmida e dolorosa.
  • Profunda: a base da bolha é branca, seca, indolor e menos dolorosa (profunda).

Nesse tipo de queimadura, a restauração das lesões ocorre entre 7 e 21 dias.

Palavra-chave: formação de bolhas

  1. Queimadura de 3º grau – Afeta a epiderme, a derme e estruturas profundas.
  • É indolor.
  • Existe a presença de placa esbranquiçada ou enegrecida.
  • Possui textura coreácea.
  • Não reepiteliza e necessita de enxertia de pele (indicada também para o segundo grau profundo).

Palavra-chave: tecido de necrose (escurecida)

Resumo

Vamos ao treinamento!

  1. (HOB/CONSULPLAN/2015) são características da queimadura de terceiro grau, exceto:
  2. a) Criação de bolhas e muita dor.
  3. b)  Acometimento de todas as camadas da pele.
  4. c)  Necessidade de atendimento hospitalar.
  5. d)  Presença de placa esbranquiçada ou enegrecida.

Gabarito: Letra A

Comentário:

As lesões por queimadura de 3º grau apresentam-se graves, necessitando de atendimento hospitalar. Essas lesões acometem todas as camadas da pele e apresentam placas esbranquiçadas ou enegrecidas. A criação de bolhas é característica da lesão de 2° grau, por isso a letra A é a incorreta.

 

  1. (UFPE/COVEST-COPSET/2015) Uma queimadura é considerada de 2º grau quando atinge:
  2. a) epiderme e ocorre edema, eritema e dor.
  3. b) a derme e ocorre edema, eritema e dor.
  4. c) o tecido subcutâneo, músculos e ossos, com necrose de tecidos.
  5. d) a derme e provoca eritema intenso, edema, bolhas e dor intensa.
  6. e) o tecido subcutâneo e provoca eritema intenso e edema.

Gabarito: Letra D

Comentário:

A lesão de 2º grau abrange a epiderme e a derme. Com relação aos sinais e sintomas, apresenta a presença de bolhas, hiperemia e dor, conforme está descrito na letra D.

Na letra A, é uma queimadura de 1º grau.

A letra B apresenta a localização do 2º grau, porém os sintomas de 1º grau.

Na letra C, é uma queimadura de 4º grau, apresentando necrose e lesão de músculos e ossos.

Na letra E, não pode ser considerada de 2º grau, pois já atingiu o tecido subcutâneo, sendo classificada como 3° grau.

 

  1. (CESPE/TJ-AC/2012) As queimaduras são classificadas em primeiro, segundo e terceiro grau, e o fator determinante para a classificação da queimadura em um desses graus é a extensão da área do corpo queimada.

Gabarito: Errado

Comentário:

Para classificar em graus, verifica-se a profundidade da lesão e que partes anatômicas são abrangidas. A extensão avalia a queimadura quanto à superfície corporal queimada (%).

 

  1. (CESPE/TJ-AC/2012) Embora sejam mais extensas que as de primeiro e segundo grau, as queimaduras de terceiro grau não formam bolhas.

Gabarito: Errado.

Comentário:

A queimadura pode ser avaliada sob dois aspectos: a profundidade (1°,2°,3° e 4°) e a extensão da área queimada (depende do percentual da área corporal queimada %). O CESPE trocou as informações para tornar a questão falsa. Estamos falando de profundidade, e não de extensão.

Atenção!

 

  1. (Prefeitura do RJ/2015) No que se refere às queimaduras químicas, é correto afirmar:
  2. a) as lesões de 3º e 4º grau são as mais dolorosas por serem mais graves.
  3. b) o atendimento inicial deverá ser lavar o local afetado abundantemente com água corrente.
  4. c) deve-se furar as bolhas e retirar o tecido necrosado do local da lesão para evitar sequelas.
  5. d) a área corporal afetada não tem relevância na avaliação da gravidade desse tipo de lesão.

Gabarito: Letra B.

Comentário:

A letra A está errada, porque as queimaduras de 3º e 4º grau podem ser indolores por lesão das terminações nervosas, embora o PHTLS em 2017 disponha que a queimadura de 3° grau (espessura total) é dolorida pela inervação do tecido vizinho ao local lesionado.

A letra B está correta, pois o atendimento inicial deverá incluir a lavagem do local para retirar o produto que está queimando a pele. Porém, lembre-se de que o atendimento da queimadura química consiste em primeiro remover ao máximo o produto com uma escova e uso de EPI e só depois efetuar a lavagem.

A letra C está incorreta, porque as bolhas não devem ser furadas no atendimento pré-hospitalar. No PHTLS recomenda-se a remoção das bolhas, pois aquele tecido não é normal e não protege a lesão. Além disso, o líquido dentro é hiperosmótico e atrai mais líquido, o que aumenta a dor. Porém, para as provas de concursos de emergências, não devemos furar nem romper as bolhas.

A letra D está incorreta, pois a extensão da área corporal tem muita relevância para definir a gravidade da lesão.

Finalizamos nossas dicas de hoje. Se você gostou, saiba que esse artigo é uma parte da minha aula de queimadura no modelo em pdf, que já estamos disponibilizando para o curso preparatório da CLDF e em breve estará em outros cursos. Espero encontrar você nos nossos cursos do Gran Cursos Online.

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Fernanda Barboza é graduada em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia e Pós-Graduada em Saúde Pública e Vigilância Sanitária. Atualmente, servidora do Tribunal Superior do Trabalho, cargo: Analista Judiciário- especialidade Enfermagem, Professora e Coach em concursos. Trabalhou 8 anos como enfermeira do Hospital Sarah. Nomeada nos seguintes concursos: 1º lugar para o Ministério da Justiça, 2º lugar no Hemocentro – DF, 1º lugar para fiscal sanitário da prefeitura de Salvador, 2º lugar no Superior Tribunal Militar (nomeada pelo TST). Além desses, foi nomeada duas vezes como enfermeira do Estado da Bahia e na SES-DF. Na área administrativa foi nomeada no CNJ, MPU, TRF 1ª região e INSS (2º lugar), dentre outras aprovações.

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22 de Setembro de 2017

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