Enfermagem: Arte ou ciência? Minha experiência profissional com essas vertentes.

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EnfermagemAinda me preocupo com a falta de compreensão que muitos têm quanto à Enfermagem: é ciência ou arte? 

Iniciarei a nossa reflexão segundo Florence, que ainda em meados de 1853 dizia que “A enfermagem é uma arte e, para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso como a obra de qualquer pintor ou escultor. É uma das artes; e eu quase diria, a mais bela das Belas Artes

De fato, o foco da Enfermagem é o cuidado humano, todas as suas teorias enfatizam a multidimensionalidade do ser humano e aceitam que trabalhemos com demais informações e acontecimentos. O cuidar em Enfermagem foi a essência que me levou a cursar e almejar essa profissão, pois o cuidar envolve a cordialidade consigo e com o outro, envolve o enxergar com o coração, envolve o tocar a natureza em toda a sua essência e plenitude.

Ainda na faculdade me deparei com a necessidade de muita dedicação e muitas horas de estudo, o que já me fez refletir sobre a cientificidade da enfermagem. Nessa ocasião como acadêmica também busquei oportunidades como pesquisadora e comecei fazendo trabalhos de iniciação científica. Elaborei por meses um projeto e antes de me formar tive a honra de apresentá-lo como comunicação oral em um Congresso Internacional em Lisboa- Portugal. Nessa época me apaixonei pela ciência que norteava a arte que escolhi.

Eu tinha um grande sonho: exercer a arte da enfermagem como enfermeira do Hospital Sarah. Logo percebi que o aprofundamento científico seria a chave para passar nesse concurso. Muitos foram os meses de estudo e tão logo eu tinha me formado vi o meu nome na lista de enfermeiros desse sonhado concurso.

No ano de 2015 lendo a pesquisa feita pelo COFEN juntamente com a Fiocruz sobre o atual perfil da enfermagem no Brasil, me deparei com os seguintes dados: a área de enfermagem hoje compõe-se de um contingente de 1,75 milhões de trabalhadores. Trata-se de uma categoria presente em todos os municípios, fortemente inserida no SUS e com atuação nos setores público, privado, filantrópico e de ensino. No quesito mercado de trabalho, 59,3% das equipes de enfermagem encontram-se no setor público; 31,8% no privado; 14,6% no filantrópico e 8,2% nas atividades de ensino.

Segundo a mesma pesquisa, o desejo de se qualificar é um anseio do profissional de enfermagem. Os trabalhadores de nível médio (técnicos e auxiliares) apresentam escolaridade acima da exigida para o desempenho de suas atribuições, com 23,8% reportando nível superior incompleto e 11,7% tendo concluído curso de graduação.

Essa pesquisa também me remeteu ao meu desenvolvimento como profissional da área. Logo após a minha graduação elaborei um projeto para seguir na linha da Educação. Fui aprovada no mestrado da Universidade de São Paulo (USP) e cada vez mais fui me aprofundando na ciência da enfermagem.

Para a maioria das teoristas como Horta, Abdellah, Rogers, Patterson e Zderad, Watson e Parse a enfermagem é ciência. Resgato todas estas definições e me atenho a refletir sobre o que realmente tenho pensado ser enfermagem e como, para diversos estudiosos da enfermagem, ela tem sido vista. Resgato essas importantes mulheres que transformaram cada uma à sua época a nossa história através de correntes de pensamento que nos levam a cada dia mais nos especializar, a estudar, a nos comprometer cientificamente com a nossa profissão.

A ciência definida por estas teoristas acima citadas pode ser vista “como um corpo cumulativo de conhecimento científico, derivado das ciências físicas, biológicas e do comportamento”.

A minha tese de mestrado foi um exemplo desse corpo cumulativo, foi possível envolver a tecnologia e a educação dentro da minha primeira paixão, a enfermagem. A apresentação da minha tese foi em um Congresso médico internacional. Nessa situação pude contemplar como a nossa profissão anseia por conhecimento e como ela anseia cada dia mais por estar inserida de forma embasada nas discussões multidisciplinares e científicas.

Ainda refletindo sobre a enfermagem como ciência Watson (1988) diz, e eu concordo, que a enfermagem é uma ciência humana não podendo estar limitada à utilização de conhecimento relativo às ciências naturais. A enfermagem lida com seres humanos, que apresentam comportamentos peculiares construídos a partir de valores, princípios, padrões culturais e experiências que não podem ser objetivados e tão pouco considerados como elementos separados.

Para elucidar essa frase de Watson também conto minha experiência profissional vivida em Hospitais com os quais tive grande apreço. A oportunidade de trabalhar no Hospital Albert Einstein em São Paulo como analista de treinamento me fez não só vivenciar a minha profissão de forma prática como também obter mais ciência em contexto profissional. Outra grande oportunidade foi na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, onde exerci a prática clínica não dissociada da ciência, e não dissociada da natureza humana, e de seus princípios, valores e crenças. Aprendi uma enfermagem disciplinada, uma enfermagem baseada no modelo das nossas grandes teoristas, e uma enfermagem que necessitava de comportamentos e de conhecimentos peculiares como diz Watson.

Portanto, o conhecimento da enfermagem é um conhecimento particular, é um conhecimento único, holístico, diferenciado, que na minha visão vai além da arte e da ciência. Na vivência do atual paradigma já temos estudiosas na enfermagem e nossas contemporâneas que estão falando que a enfermagem deve preocupar-se em ir além da arte e ciência, pois, conforme Maran-Marks & Rose (1997: 11 8), “enfermagem é mais e é maior que a soma de arte e ciência, e as vezes não é arte e não é ciência, mas é sempre enfermagem”.

Ora, estamos em 2016 e vivenciando uma enfermagem moderna. Somos a enfermagem que historicamente está inserida no paradigma da transformação, e o meu questionamento é: Estamos sendo essa transformação que a enfermagem almeja há anos históricos? Estamos estudando e nos cientificando para mudar certos paradigmas impregnados na história da nossa profissão?

Esta reflexão sobre o que é a enfermagem não ousa a se esgotar aqui; ela é um primeiro olhar na tentativa de pensar mais sobre o que é afinal a enfermagem; penso e tenho ficado cada dia mais certa que respondo esta pergunta quando cuido de alguém através de meu conhecimento profissional, de minha maneira própria de ser enfermeira, e hoje, especialmente quando estou em sala ensinando a arte e a ciência do cuidar.

Atualmente atuo exclusivamente como docente, e dessa forma a enfermagem teve um novo significado para mim. Quando eu estou em sala sinto que indiretamente, e de forma multiplicativa, ajudo a cada paciente que precisa de uma boa enfermagem para se recuperar. Ou seja, sinto-me exercendo arte, ciência, tecnologia….e tantas outras definições que ainda certamente serão criadas para a nossa enfermagem.

Como professora e enfermeira tenho o entendimento de que nós precisamos investir na produção e desenvolvimento do conhecimento de enfermagem, e isso nos mostrará qual é a natureza, o foco, e a nossa real essência. Essência esta que deve ser compartilhada por toda a enfermagem, seja ela acadêmica, assistencial, administrativa ou de pesquisa, não nos deixando levar pelos parâmetros de uma dita “ciência normal’ aceita por uma comunidade cientifica disciplinadora, que está sempre usando limites embasados nas ciências naturais, sendo que a enfermagem tem procurado se desenvolver muito mais como uma ciência humana, cujos parâmetros não são adequados.

Para finalizar retornemos na Florence, que foi o início da nossa reflexão. Florence Nightingale era “dotada de decidida vocação e de marcada personalidade” o que fez com que perseverasse em seus propósitos. Ela é um marco e uma inspiração. Fiquemos mantidos nesse pensamento perseverante. A minha parte eu farei, quero e vou estudar cada dia mais para manter a enfermagem aquilo que ela já é por essência, e para transformá-la a cada dia mais em uma ciência que tem autonomia e que é indispensável na equipe de saúde.

Dessa forma, passar em um concurso almejado será mera consequência.

Referências utilizadas:

ABDELLAH, Faye G. The nature of nursing science Am. ). Nurs.Comp. , n.5,v.18 p. 393- 399, Reimpresso ln: NICOLL, L. H. Perspectives on nursing theory, Boston: Uttle Brown, 1986.

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/pesquisa-inedita-traca-perfil-da-enfermagem_31258.html>. Acesso em 23 de Março de 2016.

HORTA, Wanda A . Processo de enfermagem. São Paulo: EPU, 1979. 99p.

WATSON, Jean. Nursing: the philosophy and science of caring. 2ª ed., Boulder, Colorado: Associated University Press, 1985.

Professora  Polyanna Aparecida

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Polyanna Aparecida é Enfermeira graduada pela Universidade de Brasília (UnB) e Mestre pela Universidade de São Paulo (USP) na linha de Gestão em Serviços de Saúde. Tese de mestrado apresentada na XXIII Conferência Internacional da Federação Européia de Informática médica (MIE-2011) em Oslo- Noruega. Atou como enfermeira no Hospital Israelita Albert Einstein em São Paulo, e por 5 anos na Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação em Brasília. Foi concursada ainda como Enfermeira na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH/HUB) e atualmente é Professora Universitária na área da Enfermagem.

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