No último domingo (7), cheguei correndo de Belém-PA para votar. Essas eleições estão tão acirradas que cada voto faz a diferença, e eu, como cidadão, queria dar a minha contribuição por meio do voto. Ao chegar à minha seção – que fica na escola em que estudei durante boa parte da minha vida –, algo chamou a minha atenção: cabina de votação. Isso mesmo: se você não reparou, naquela estrutura que isola a urna eletrônica, estava escrito “Justiça Eleitoral”, na parte superior, e “Cabina de Votação”, na parte inferior. Logicamente, não permiti que a minha curiosidade linguística me desviasse da minha meta – votar com consciência. Mas, ao chegar à minha casa, fui pesquisar sobre o assunto!
Nos meus estudos, descobri algo bastante curioso: a língua portuguesa registra as duas formas – “cabine” e “cabina” – e ambas possuem o mesmo sentido! Portanto, a Justiça Eleitoral acertou! A forma “cabine”, obviamente, é muito mais usada no cotidiano, mas “cabina” também é capaz de expressar o mesmo!
Existem outras palavras na língua portuguesa que apresentam o mesmo fenômeno! “Avalanche” e “avalancha”; “nuance” e “nuança”. É nítido, por conseguinte, que, nessas circunstâncias, o nosso vernáculo prefere as formas terminadas em “e”, e não em “a”.
Diante disso, faço um questionamento: fez bem o TSE ao adotar a forma de menor prestígio entre os falantes da língua portuguesa? Em minha opinião, não. Acredito que, em um dia tão decisivo para o futuro do nosso Brasil, quaisquer prováveis distrações devem ser evitadas. Querendo ou não, uma palavra incomum é capaz de desviar, mesmo que por poucos segundos, a atenção de algumas pessoas – que, em geral, se questionam: isso está certo?
A língua é semelhante à moda. A uma reunião de trabalho, não é conveniente ir de camisa regata, mas também não é de bom tom aparecer com um smoking. Tanto o desleixo quanto a excessiva elegância, nesse caso, causam um certo estranhamento. Toda língua é viva, e os falantes é que determinam quais palavras são prestigiadas e quais são arcaicas. Infelizmente, a erudição não consegue resolver os principais problemas do nosso Brasil. Se eles resolvessem, eu desejaria, todos os dias, ser um parnasiano.
Elias Santana
Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Respectiva Literatura – pela Universidade de Brasília. Possui mestrado pela mesma instituição, na área de concentração “Gramática – Teoria e Análise”, com enfoque em ensino de gramática. Foi servidor da Secretaria de Educação do DF, além de professor em vários colégios e cursos preparatórios. Ministra aulas de gramática, redação discursiva e interpretação de textos. Ademais, é escritor, com uma obra literária já publicada. Por essa razão, recebeu Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
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