Mudanças na grade curricular do Curso de Formação do IRBr

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Curso de Formação do IRBrO segundo assunto de maior interesse dos candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) – após, obviamente, das notícias sobre o exame – é o Curso de Formação do Instituto Rio Branco (IRBr). Para os que não sabem, todos os aprovados no CACD são empossados, tão logo encarrado o período de seleção, no cargo de Terceiro Secretário (primeiro degrau da carreira diplomática) e automaticamente matriculados no Curso de Formação do IRBr, que é o primeiro dos três cursos fundamentais da formação continuada dos diplomatas[1].

Nesse contexto, devem ter causado certa perplexidade aos CACDistas notícias recentemente veiculadas na imprensa sobre mudanças na grade curricular do Curso de Formação do IRBr por supostas “ingerências políticas” ou pressão de “interesses do mercado financeiro”. Como uma das três principais funções de um diplomata é informar (além de representar e negociar), sugiro aos candidatos fazerem, desde já, um exercício que será fundamental em suas carreiras no futuro: avaliar as informações comparando-as com outras fontes e fazer uma análise da situação para tirar suas próprias conclusões sobre o tema, em vez de simplesmente reproduzir o que ouvem sem qualquer reflexão. Fuja, portanto, da famosa frase “vendi pelo mesmo preço que comprei”. Vá direto às fontes primárias e venda pelo preço justo!

Antes de mais nada, avaliemos juntos o que efetivamente existe de informação concreta. Até o presente momento, apenas a grade do primeiro semestre letivo (de janeiro a junho de 2017) foi definida. Comparada com a grade do primeiro semestre do ano passado, há poucas alterações. Algumas de professores, o que é natural ocorrer de anualmente, em decorrência dos mais diversos motivos, aposentadorias e remoções (mudança para o exterior) de diplomadas, por exemplo. Outras, de disciplinas como a inclusão de Defesa e Segurança, Planejamento Diplomático e Técnicas de Negociação[2].

Logo, de cara cai por terra a acusação de ingerências políticas ou atendimento de interesses do mercado financeiro. As mudanças promovidas até agora não fogem do que ocorre de um ano para outro, ainda mais no contexto de alteração da direção do Instituto. O atual Diretor do IRBr, Embaixador José Estanislau do Amaral Souza Neto, assumiu o cargo em outubro passado e, naturalmente, deverá implantar sua visão sobre os cursos oferecidos pela academia diplomática brasileira.

Ao longo de minha carreira, acompanhei algumas discussões similares sobre o viés principal que deveria ter o Curso de Formação dos diplomatas. Alguns diretores anteriores do IRBr achavam que a formação deveria ser mais profissionalizante, outros, mais acadêmica – o Curso de Formação chegou a ser reconhecido pela CAPES/MEC[3] como Mestrado em Diplomacia. Em geral, no entanto, ambas vertentes são contempladas no Instituto, onde sempre foram oferecidas aulas teóricas, como História da Política Externa Brasileira, e profissionalizantes, como Linguagem Diplomática.

O atual Diretor pretende, e já declarou isso publicamente, seguir mais a vertente da profissionalização e dar maior ênfase a disciplinas que preparem nossos diplomatas para a atual realidade do Brasil, que é a necessidade de buscar maior desenvolvimento econômico. Assim, torna-se natural dar ao Ministério das Relações Exteriores a atribuição prioritária de incentivar nossas exportações, atrair novos investimentos estrangeiros e negociar acordos comerciais que favoreçam nossas relações econômicas internacionais. E o Curso de Formação deverá, como se espera nesse cenário, seguir essa tendência e capacitar nossos jovens diplomatas para essa tendência. Nada mais natural, e apenas isso.

[1] Ao longo da carreira, todo diplomata deve, necessariamente, passar por 3 cursos para que possa progredir na profissão: 1) Curso de Formação (para os Terceiro-Secretários que acabam de ser aprovados no CACD), sem o qual não se pode ser confirmado no serviço público, nem começar a trabalhar no Itamaraty; 2) Curso de aperfeiçoamento de Diplomatas (CAD), que os Segundos-Secretários devem cursar para se habilitar à promoção a Primeiro-Secretário; 3) o Curso de Altos Estudos (CAE), destinado a Conselheiros que desejam ser promovidos a Ministro de Segunda Classe. Mais informações em: http://blog.vouserdiplomata.com/o-instituto-rio-branco-e-formacao-continuada-dos-diplomatas/

[2] Planejamento Diplomático e Técnicas de Negociação já eram disciplinas que constavam na grade do segundo semestre de 2016, sendo que a última só era oferecida a estrangeiros.

[3] A Capes é a Fundação do Ministério da Educação (MEC) responsável pela avaliação dos cursos de Mestrado.



Prof
.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico

Jean MarcelNomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Saiba +


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