Na casa onde Edlen cresceu, os sonhos eram escritos à mão e colados na parede. Literalmente. Mapas mentais, folhas rabiscadas, tópicos em caneta azul, uma folha de papel para cada lei e um pedaço de fita para cada esperança eram a “decoração” do que ela conhecia como lar. A mãe, sem rede de apoio, carregava uma filha no colo enquanto puxava a outra pela mão, ao mesmo tempo empurrando um carrinho de picolés do qual tirava o sustento das três. Quando quase tudo faltava, sobrava a teimosia de repetir: “A gente sai daqui estudando”.
A comunidade no município de Ananindeua, no Pará, oferecia riscos demais para brincar na rua, então a pequena Edlen brincava de aprender. Na ausência de televisão ou qualquer outra forma de lazer, colecionava cadernos. Foi assim que ela descobriu que o estudo podia ser refúgio e, com o tempo, saída. Com apenas seis anos, já “fazia concurso”: prova de bolsa para escola particular, teste para curso de idiomas, qualquer porta que se abrisse por mérito e insistência. Aos nove, concluiu que estudar dava mesmo certo, ao ver a mãe transformar papel colado em nomeação e, nessa esteira, a casa mudar de bairro, as três refeições voltarem à mesa, a rotina ganhar alguma dignidade.
Quando chegou a hora de escolher o próprio caminho, não titubeou: Direito. Entrou na faculdade aos dezesseis e já encontrou o primeiro concurso que lhe tocou o coração, para a Justiça Federal. O edital prometeu sair, foi adiado, sumiu… Saiu de fato em 2017. Edlen estudou como nunca e terminou aprovada em quarto lugar na sua subseção judiciária. Quarto lugar! Tão perto que parecia impossível não ser nomeada. Não foi. Prevaleceu a contabilidade implacável dos concursos regionalizados, nos quais há poucas vagas por vara. No caso, apenas duas.
Edlen podia ter desabado, mas não desabou. Ela sentiu o baque, é claro, ainda mais quando à frustração se somou o arrependimento por não ter tentado outros cargos de nível médio enquanto aguardava aquela nomeação…
Esse foi só o início. Vieram mais provas e, com elas, mais “nãos”, em concursos para analista e oficial de justiça de tribunais. Nesse período, duas outras reprovações foram especialmente dolorosas: as seleções para as Polícias Civis do Paraná e de Alagoas, em que acabou desclassificada por uma única questão na prova objetiva. A cabeça dizia para continuar; o coração cochichava: “Será que é pra mim?”.
Eis que o destino fechou questão com o nascimento de Maya.

Edlen estudava com Maya no colo.
O concurso para a Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados era o topo do topo, o concurso da década. A área 22, Direito Penal, que Elen paquerava desde os tempos de faculdade, não era problema. O conteúdo ela dominava, então o desafio era outro: estudar grávida, estudar puérpera, estudar com culpa. Ser capaz de fechar a porta do quarto e de se concentrar apesar do chorinho de bebê do lado de fora…
A rotina começava de madrugada. Edlen acordava às 4h e já acessava a plataforma do Gran, para aproveitar ao máximo o tempo enquanto a filha dormia. Das 8h às 14h, estava no estágio na Defensoria. De volta, brincava um pouco com a bebezinha, tirava uma soneca para acertar o fuso horário da casa e às 20h engatava nos estudos, que só interrompia às 23h. No dia seguinte, repetia tudo.
“A obsessão vence”, hoje ela diz, sem romantizar, apenas constatando o óbvio. No calor do sprint final, o corpo obedece, adiando a conta do cansaço. Quando esta finalmente chegou, seis meses depois da posse, cobrou juros. A fadiga veio com tudo, mas a essa altura já havia cargo, salário bom no fim do mês, autonomia e flexibilidade de horários. A culpa acabou substituída por um tipo melhor de presença para a família.

Mural de sonhos feito quando Edlen estudava para ser delegada de polícia.
A primeira roupinha de Maya foi pendurada ali como fonte de motivação para a mãe.
A noite decisiva foi em 16 de julho de 2024, quando saiu a lista de nomeações no Diário Oficial. Primeiro, o susto. Edlen percorreu com olhos ávidos a primeira página do PDF. Leu o nome de um, o nome de outro, e nada do seu. Dez longos minutos de silêncio até que alguém alertou que havia um segundo PDF. Edlen abriu e lá estava, na última linha da página, seu nome completo. Era a materialização da vaga reservada ao sistema de cotas, que ela sabia existir na teoria e agora via na prática. Edlen quis gritar, mas se conteve em respeito ao sono da filha. Ligou para os pais e, juntos, fizeram festa baixinho.

Imagina receber um kit desses de boas-vindas?
Hoje a Consultora Legislativa anda pelos corredores da Câmara realizada e orgulhosa. As comissões e o plenário são local de trabalho; os pareceres, fruto dele. Diz que mal vê jornal porque às duas da tarde já testemunhou o que às oito da noite será manchete. Ama o que faz, mas, movida a desafios que é, já estipulou o próximo: cartórios. A intenção não é sair correndo de onde está, não; é apenas manter o cérebro competitivo consigo mesmo.
Tendo conhecido a história de Edlen, você ainda duvida que constância vale mais que picos de dedicação? Se sim, releia o trecho que fala da agenda diária dela – a qual, repito, ia das 4h às 23h! Estudar duas horas por dia pode parecer pouco, mas é mais produtivo que estudar oito uma vez por semana.
Como se diz por aí, aceite, que dói menos: concurso público não é fácil. A jornada de quem decide tomar esse rumo costuma ser longa e dolorosa, mas, se quer um conselho, não tente encurtar o caminho. Respeite a ordem das coisas: aprenda o que tiver de aprender e consolide seu conhecimento antes de exigir qualquer coisa do senhor Destino. O resto é teimosia honesta e um punhado de fé.
A crônica de hoje termina com uma imagem singela, porém cheia de significado: um mural de sonhos decorando a parede. O maior valor por trás desse retrato está na lembrança de uma mulher que empurrava um carrinho de picolés enquanto ensinava à filha que estudo é esperança de uma vida melhor. Corta para a cena da mesma menina, anos mais tarde, diante do computador, abrindo um PDF e vendo seu nome na lista de nomeados para nada menos que a Câmara dos Deputados!
Edlen provou que a mãe estava certa. Foi isso que essa aluna Gran fez. E é isso que você também pode fazer.

Sonho realizado. E tudo por eles.
Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran, maior Edtech do Brasil em número de alunos, com mais de 800 mil discentes ativos pagantes. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha o universo dos concursos desde a adolescência e ingressou profissionalmente nele aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanais para o blog do Gran, que já somam milhões de leitores.
Formou-se entre os melhores alunos em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Foi incluído na lista Forbes Under 30 (2021), eleito Empreendedor do Ano pela Ernst & Young (2024) e reconhecido pela MIT Technology Review como Innovator Under 35 no Brasil e na América Latina. Autor de quatro livros best-seller na Amazon Kindle.
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