Uma pessoa corajosa não é, necessariamente, uma pessoa totalmente destemida. É alguém que sente, sim, medo, mas é capaz de enfrentá-lo e encarar qualquer perigo, com consciência não paralisante e avançando apesar – repito: apesar – do tremor nas pernas, dos calafrios na espinha e do suor nas têmporas.
Veja bem: o medo é uma resposta automática do corpo a uma ameaça, seja ela real ou imaginária. O problema não está em senti-lo; está em deixar de desenvolver a virtude diretamente associada a ele: a coragem. A boa notícia é que ninguém nasce pronto nesse quesito. Coragem é virtude a ser trabalhada, estimulada, nutrida. Requer prática, logo se beneficia demais do hábito – como aliás, os dons em geral.
Coragem implica aceitar adversidades, sem, no entanto, conformar-se com elas. O bravo ora insiste em agir, ora recua para rever seus planos. Se numa jornada longa, ora busca atalhos, ora opta pela volta maior, pelo caminho mais seguro. Se em combate, ora avança sobre o oponente com tudo, ora ataca pelos flancos. Seja como for, não se acomoda, muito menos cede ao medo.
Sabia que em apenas dois por cento dos grandes conflitos da história – da antiga à moderna – a vitória final resultou de uma investida direta e certeira contra o exército inimigo? É o que diz o brilhante historiador inglês B. H. Liddell Hart. As maiores guerras, na verdade, encontram seu fim em ataques-surpresa. Quanto menores as expectativas do oponente, maiores as chances de vencê-lo pela tática do inesperado.
Pena que, ignorando as lições de história, muitos de nós ainda cedam à tentação de enfrentar o inimigo de forma impulsiva e raivosa. Chutam a porta e invadem a casa alheia, cheios de razão, sem, contudo, compreender que toda essa “coragem”, em verdade, os cegou: tivessem se afastado só um pouco da cena, em busca de uma perspectiva ligeiramente diferente e distanciada dos fatos, talvez houvessem notado as portas laterais e janelas escancaradas. Precisavam mesmo de toda aquela violência?
Tudo pode se tornar mais difícil (para não dizer impossível) quando se tenta contrariar ou desafiar a lógica e o bom senso. Não há coragem que baste quando nos aproximamos dos problemas com olhar oblíquo e contaminado pela falta de racionalidade. Se as emoções dominam, turvam a visão. O resultado? O corajoso, incapaz de enxergar um palmo à frente, perde preciosas oportunidades de dar cabo no inimigo.
Então, a coragem, para ser efetiva, depende de nossa capacidade de autocontrole. Certo, em relação a muitos sentimentos não temos a menor chance, mas essa não é a regra. Na maior parte das vezes, podemos, sim, manter as emoções sob controle. Permanecendo firmes, impávidos, apesar do medo, não importa o que venha a acontecer, estaremos livres para concentrar nossa energia na solução do problema em vez de seguir apenas reagindo a ele, sempre em pânico.
“Coragem não é temeridade inconsiderada; nem amor pelo perigo, nem apetite pelo espantoso; é a ciência de distinguir o que é o mal do que não é”. Expoentes do estoicismo como Sêneca – autor da frase citada – e Epiteto defendiam que são quatro as virtudes cardeais: a justiça, o autocontrole, a sabedoria e a CORAGEM. Essa última se desdobra num conjunto de forças de caráter – ética, confiança, perseverança, altivez, diligência, alegria e ação – nas quais o homem deve confiar a fim de elevar-se, de resistir e de não sucumbir diante do terror.
Assim, a bravura, segundo essa concepção, pressupõe, além de autocontrole, postura proativa. O corajoso é aquele que age, decidindo e efetivamente atuando em prol de uma vida que vale a pena, que seja permeada de ideais nobres e que deixe um legado. Ser corajoso, por esse ângulo, implica aceitar as consequências das próprias escolhas, conseguir dizer “não” quando necessário e falar com quem for preciso para que as coisas se desenrolem como previsto. Requer também que nos lembremos o tempo todo de como e onde nossa jornada começou e de como e onde queremos que ela termine, ajustando nossa vontade a fim de permanecermos firmes em qualquer cenário. Por fim, exige de nós rigor em fazer as coisas direito, especialmente em tempos de grandes desafios e controvérsias.
Em resumo, sem coragem, não há progresso, pois o medo sem controle nos impede de dar o primeiro passo rumo ao desconhecido. Estejamos atentos a isso, trabalhando continuamente para desenvolver nossas virtudes.
Vamos em frente, ou na direção que se mostrar melhor, sempre comedidos, sábios, justos e, acima de tudo, com CORAGEM.
“A coragem é corretamente considerada a primeira qualidade humana… porque é a qualidade que garante todas as outras.” – Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial
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