Eu, a vírgula e o chefe

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20 de Novembro de 2017

A vírgula antes da conjunção “e” incomoda muita gente, sobretudo os generalistas de plantão. Quem já ouviu falar: “não coloca vírgula antes do e”. Afirmações como essa castram o produtor do texto, pois limita sua liberdade. Aproveito para contar aqui um segredo: já fui vítima de ditadores ortodoxos. Quando era burocrata, tive um chefe na repartição que impostava a voz e dizia: “Claiton, retire esta vírgula, porque já tem o e neste trecho”. Contudo, ele não era tão mau assim, pois sempre me dava a opção de usar a vírgula desde que eu retirasse a conjunção e. Era inadmissível usar os dois juntos. Eu – não por cristalina obediência, mas por falta de fundamentação “normativa” – sempre a retirava sem a mínima contestação. Prevalecia, então, a hierarquia. Ufa! Hoje estou liberto da amarra da regra pela regra, ou seja, a regra como fim. Uso os sinais de pontuação como um pintor renascentista que, ao usar a variação de cores frias e quentes, obscurece os elementos secundários, e destaca os elementos mais importantes. Note que só de “raiva” usei, no período anterior, a vírgula antes da conjunção coordenativa “e” (mero recurso estilístico ou birra). Observe que o “e” introduz uma oração coordenada sindética aditiva com sujeitos idênticos. À luz da gramática normativa não se emprega, em regra, a vírgula antes do “e” nas orações coordenadas sindética aditivas com sujeitos idênticos. No entanto, posso utilizá-la como recurso estilístico, ou seja, para dar ênfase à conjunção. Gosto muito da frase notável professora Tereza Cavalcanti: “Não podemos normatizar a estilística”. Devemos contemplar a intencionalidade do “artista”. Observe o item abaixo.
A discussão sobre a participação dos analfabetos na vida política nacional remonta aos tempos do Brasil colônia e se mantém durante a formação da sociedade brasileira e os processos de reconhecimento de direitos e de visibilidade social das diferentes parcelas sociais anteriormente excluídas do processo democrático.
(CESPE/TRE/PI/2016)
A correção e a coerência do texto seriam mantidas se inserisse uma vírgula logo após o vocábulo “colônia” (linha 3).
Gabarito oficial: C
Comentário
Ao se empregar a vírgula imediatamente após o vocábulo “colônia”, a correção e a coerência serão preservadas. Como eu disse no texto, não se emprega, em regra, vírgula nas orações coordenadas sindéticas aditivas com sujeitos idênticos. No entanto, posso utilizá-la como recurso estilístico, ou seja, para dar ênfase à conjunção. Cuidado! Não use a regra pela regra. Neste item, o examinador contemplou o aspecto estilístico.
Até a próxima!


Claiton Natal – Língua Portuguesa –  Licenciado em Letras
Bacharel e licenciado em Língua Portuguesa, é conhecido principalmente por ser especialista em provas para concursos públicos. Já lecionou em escolas, cursos pré-vestibulares e faculdades. Atualmente, atua em preparatórios para concursos públicos e ministra cursos e palestras em empresas, órgãos públicos e faculdades.
 



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20 de Novembro de 2017