“A vida não pode ser economizada para amanhã.” – Rubem Alves, filósofo e educador (1933-2014)
Com conhecimento de causa, afirmo com todas as letras: abrir mão de ter controle absoluto sobre as coisas é uma necessidade. A vida é bela justamente por suas incertezas. E, sinceramente, é bom que seja assim. Do contrário, erraríamos bem mais. Sim, há e continuará a haver dores no caminho. Faz parte. Aceite de vez essa realidade e pare de querer controlar tudo!
“Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses”, diria o pedagogo Rubem Alves. É verdade, amigo leitor, não temos nenhuma ingerência sobre o que acontece ou deixa de acontecer. Se vai chover ou fazer sol, não depende da nossa vontade. É impossível saber, por exemplo, quando receberemos a visita inevitável da morte. Serei acometido de uma doença grave nos próximos anos? Espero que não, mas não faço ideia. Em termos mais prosaicos, não podemos fazer muita coisa em relação à opinião dos outros, tampouco quanto às escolhas daqueles que amamos. Na economia, o mercado se porta segundo as próprias regras, totalmente alheio aos nossos projetos. A pandemia que iniciou no fim de 2019 veio sem avisar e interrompeu milhões de planos, mesmo os mais bem-elaborados… Enfim, a realidade pode entregar tragédias e perdas sem nenhum sinal prévio. É prerrogativa dela, e não há nada que possamos fazer a respeito.
Tem gente, porém, que insiste em achar que tudo tem de ocorrer do seu jeito. Essa fixação irracional pode se converter em algo bem sério, como um perfeccionismo tão limitador que chega a paralisar. A pessoa se vê incapaz de dar o próximo passo, com medo de todos constatarem o óbvio: que ela não controla nada.
A ânsia por administrar tudo sozinho é, portanto, a receita para a frustração e o fracasso. Em nome de uma falsa sensação de poder, o indivíduo se torna inflexível, incapaz de se adaptar a um mundo dinâmico. O resultado não poderia ser pior: portas se fechando em virtude de decisões equivocadas e inconsequentes. Quantas batalhas são travadas com o único propósito de impor certa vontade? Perceba como é absurdo empreender esforços e investir energia em algo tão… desimportante. É puro desperdício.
Saiba, concurseiro, que teimar nas tentativas de controlar tudo ao seu redor gerará o efeito contrário do esperado. Você jamais alcançará a paz necessária para fazer o que efetivamente está sob suas rédeas. Será, ainda, impedido de vivenciar a cor e alegria de uma existência menos intransigente, mais leve. Quem tenta controlar tudo está sempre em crise, estressado, de mau humor. É um eterno desiludido por expectativas não concretizadas.
Pode parecer estranho, mas é a incerteza que torna a vida tão interessante. Somos livres exatamente por nos ser impossível prever os fatos. Só assim para não ficarmos limitados à nossa própria realidade de mundo, às nossas próprias verdades e certezas.
Aceite que você não pode controlar tudo. Vá além e admita que não é nem mesmo aconselhável tentar fazê-lo. Costumo dizer que a maior parte das tristezas provém da gana de administrar o que não pode ser administrado. Particularmente, já me convenci de que só posso fazer o máximo, não tudo. Em boa parte do tempo, somos capazes de manter sob nossas rédeas apenas a qualidade de nossas atitudes e contribuições ao mundo. Eis, portanto, o conselho de Rubem Alves: “É preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de ‘abrir mão’ – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial”.
Pratiquemos o desapego em relação a ter controle sobre os eventos antes de acontecerem. Afinal, é depois de uma experiência qualquer que extraímos suas preciosas lições. É no depois que conseguimos conectar os pontos e ter uma visão geral do que supúnhamos ser um problema. Se tudo estivesse cem por cento dominado, jamais haveria esse depois e tudo seria previsível. Não se exigiria de nós coragem, força de vontade, tampouco verdadeira determinação.
Em outras palavras, nobre leitor, muitos dos eventos em sua vida serão aleatórios e inesperados. Eles acontecerão independentemente de suas expectativas. Não se trata, contudo, de não ter nenhuma escolha. Você sempre será livre para definir caminhos, sem se entregar totalmente aos caprichos do acaso e das circunstâncias. O segredo está no controle que você tem sobre suas reações e atitudes. Essas, sim, estão sob suas rédeas. Emoções e sentimentos em face das adversidades da vida podem e devem ser geridas por você. É o que de fato lhe cabe controlar.
Então abrace a realidade das incertezas e aproveite o passeio. Sempre que possível, pergunte a si mesmo: O que posso fazer ou falar de diferente? Que atributo ou competência devo acionar agora? Como devo avançar em meio a mais esta dificuldade? Não queira controlar tudo. E fique satisfeito se conseguir gerenciar seu esforço pessoal, seus pensamentos, sua esperança, sua visão de futuro e, no plano concreto, suas companhias. Controle menos e colabore mais com a felicidade dos outros, tratando-os com menos rigidez. Você será mais feliz.
O que alguns chamam de interrupção pode ser, na realidade, um convite. Imprevistos podem esconder oportunidades. As dificuldades que você jamais imporia a si mesmo se estivesse no comando de tudo talvez sejam instrumento para lapidá-lo durante o caminho. Extraia o que puder da experiência. Aprenda com os traumas e sofrimentos.
Não almeje controle absoluto, mas nem por isso deixe sua viagem pessoal à mercê dos ventos do mar, como um barco sem vela perdido. E se uma tempestade inesperada se formar? Estando atento e tendo aprendido o que lhe cabia aprender no percurso, você estará pronto para sobreviver a ela.
“A pessoa que se mantém calma dá prova de grande sabedoria, mas o precipitado revela publicamente sua falta de juízo.” – Provérbios 14:29
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