Redirecione a rejeição

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22 de fevereiro5 min. de leitura

Quando criança, eu tinha a pisada para dentro. O grau de deformidade das minhas pernas e pés forçou meus pais a consultar especialistas, que prescreveram o uso de aparelhos e ligas. Eu caminhava como o menino Forrest do filme “Forrest Gump”. Todo mundo me zoava, e, na escola, eu sempre era o último “escolhido” para os times esportivos, até o ensino médio. Acabou que essa rejeição dos colegas foi boa para mim, porque precisei compensar minha “limitação” estudando muito, passando o dia dentro de bibliotecas, o que me garantiu as notas mais altas da classe.

Quando estava para entrar no penúltimo ano da faculdade, eu procurava um estágio para preencher meu currículo. De férias no Brasil, vi uma oportunidade no Banco Central. (Até então, meu plano para depois de formado era atuar no mercado financeiro.) Apesar de me dispor a trabalhar de graça, visando adquirir apenas conhecimentos práticos, não fui aceito para a vaga, e por um motivo, a meu ver, sem sentido algum: o estágio era só para estudantes de universidades brasileiras. A rejeição, de novo, se mostrou positiva, porque, como eu não queria ficar à toa durante as férias, abri a mente para outras possibilidades, e foi aí que nasceu o sonho de fundar minha própria empresa de educação online e ajudar pessoas a mudarem de vida.

Montadas as bases do Gran Cursos Online, meu sócio, Rodrigo Calado, e eu saímos batendo à porta dos grandes bancos da capital, com a mochila cheia de projetos, o coração pulsando sonhos e o pires na mão. Fomos rejeitados em cada uma das tentativas de acesso a crédito. Numa delas, escutei: “Você é muito novo e não tem patrimônio, por isso não podemos conceder essa linha de empréstimo”. “Ora”, pensei, “é exatamente por isso que eu preciso do dinheiro!” Coisas que temos de mudar no Brasil, mas esse é assunto para outra conversa…

Fomos obrigados a bancar tudo, “vendendo o almoço para pagar o jantar”. Trabalhamos anos recebendo aquém das responsabilidades dos nossos cargos e adiamos a implementação de alguns grandes projetos. A negativa dos bancos, no fim, também foi boa para nós, na medida em que nos forçou a acionar toda resiliência, disciplina, coragem, ousadia e talento que tínhamos sem nem saber. Hoje essas qualidades, que foram despertadas a duras penas, continuam a nos mover, rendendo centenas de empregos e contribuindo para a mudança de vida de milhares de alunos.

Antes de contar outra das minhas histórias de rejeição, desta vez no campo afetivo, permita-me falar de um último desdém ao qual tive de “sobreviver”. Certa vez, com o Gran Cursos Online em plena operação, mas ainda com as finanças apertadas, surgiu um grupo de investimentos disposto a comprar a empresa, mantendo Rodrigo e eu na direção dos negócios. Auditoria feita, contrato elaborado, eis que os investidores declinam da pretensão. E veja bem: o fundo havia proposto a compra pela metade do valor que faturamos hoje em um mês. Vou repetir: queriam nos pagar (e já tínhamos aceitado a oferta) METADE do que atualmente faturamos em um único mês. Costumo dizer que essa não foi uma rejeição, mas um direcionamento para algo melhor, um livramento.

Agora, sim, o relato de uma de minhas desventuras amorosas… Certa vez, eu estava me aquecendo para o treino na academia quando avistei uma bela garota também “voando” na esteira. Aquela cena se repetiria outras vezes. Eu estava muito a fim de abordá-la, então escrevi um bilhete de próprio punho e entreguei a ela. Era um poema com um pedido para um encontro. A menina sumiu por um tempo, aparecendo um dia apenas para me entregar sua resposta. Mais uma rejeição para a conta. Tudo foi devidamente explicado: ela estava quase noiva de um rapaz que conhecia desde criança e não tinha a intenção de acabar o namoro, embora me achasse atraente. Hoje enxergo o fora como algo providencial: tempos depois conheci a maravilhosa Vivi, com quem me casei e vivo uma história que você conhece, ao menos um pouco. “Quando buracos na sua alma são abertos, portais no mundo espiritual são fechados.”

Hoje, meu couro é tão curtido, que não há espaço para medo de novas rejeições. Acho que essas experiências que narrei prepararam meu cérebro para entender que não ser aceito uma vez ou outra faz parte da vida. Se um dia topamos com alguém que nos despreza, é questão de tempo encontrar quem nos admire. Se um grupo nos exclui, em algum lugar há outro que nos acolha. O fato é que fazemos parte de várias comunidades: o lar, a escola, o trabalho, a vizinhança, o país onde nascemos… O psicólogo Alfred Adler (1870-1937) desenvolveu esse conceito, do sentimento de comunidade. “Ouça a voz de uma comunidade maior”, ensinou. Não se torne um joão-ninguém, não se esconda, não se isole. Em vez disso, entre para os grupos dos colegas de classe, colegas de trabalho, colegas-irmãos da igreja…

O medo da rejeição, como a Psicologia explica, nada mais é do que um mecanismo de defesa que se mostrou essencial na perpetuação da espécie humana, uma vez que nossos ancestrais tinham mais chance de sobreviver na natureza quando agrupados. A segurança era melhor, a caça era mais eficiente… A necessidade de ser aceito é, portanto, uma herança genética. Está em nosso DNA. A coisa é tão séria, que, segundo alguns estudos, há pessoas que preferem a dor física à provocada pela exclusão social. Ora, embora o sentimento de rejeição continue não sendo nada agradável, a justificativa evolutiva para sofrer em excesso com isso não existe mais, ao menos não nos termos de antes. Sucumbir ao receber um “não” é algo inadmissível para você, homem ou mulher do século XXI.

Buscando fazer o cérebro entender que a rejeição é normal e não oferece perigo, o pesquisador e escritor chinês Jian Jiang – ele próprio uma vítima, tendo sido ridicularizado em frente aos coleguinhas de escola, num trauma que só superou depois dos 30 anos de idade – decidiu filmar-se durante cem dias sendo rejeitado nas mais diversas e inusitadas situações (palestra TED). A ideia era se dessensibilizar da dor e transformar a experiência da rejeição em algo construtivo. Vídeo após vídeo, ele foi percebendo que o primeiro passo para isso era identificar o sentimento que o invadia ao ouvir um “não”. Em seguida, era trabalhar esse sentimento, para que não viesse a sabotar qualquer outra iniciativa ao longo da vida. Se era de medo, na experiência seguinte ele se imporia mais coragem. Insistiria com o interlocutor até entender as razões do “não”. Ouvindo essas razões, poderia contra-argumentar e ser mais bem-sucedido em sua empreitada. Foi assim que ele percebeu o que parece óbvio: superar o medo abre infinitas possibilidades.

Quando você deixa de ir atrás de algo que quer muito, receando não ser aceito ou fracassar, está praticando a pior das rejeições: a rejeição a si mesmo. Não caia nessa! Uma experiência ruim pode ser convertida em algo positivo, basta fazer um exercício de ressignificação. Não existe sucesso sem um revés ou outro no caminho. Todo mundo lida com a rejeição de tempos em tempos. Ela não é o fim da linha, e sim um redirecionamento. Faz parte da vida e pode se revelar a melhor coisa que aconteceu com você.

Faça como eu fiz, redirecione as rejeições, transformando-as em oportunidades!

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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino digital.

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