Resiliência ao medo

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Hoje, amigo leitor, eu gostaria de conversar um pouco com você sobre resiliência, essa, felizmente, não tão rara capacidade de lidar bem com as dificuldades da vida. Estive pensando no assunto… E quando essas dificuldades derivam de sentimentos potencialmente paralisantes como o medo? Como perseverar em circunstâncias que põem em xeque um dos nossos maiores instintos, o de sobrevivência?

Ser resiliente é, segundo o senso comum, resistir a pressões e absorver sem muito drama as duras críticas que todos estamos sujeitos a receber. Um homem ou uma mulher resiliente encara os contratempos com serenidade e foco na solução de problemas e sem se render a lamúrias inúteis a cada dificuldade.

Mas enxergo na resiliência bem mais que isso. Vejo nela a habilidade de vencer adversidades e adaptar-se ao novo, o que se mostra admirável sobretudo num mundo de mudanças quase diárias como o nosso. Envolve superação, porque, afinal, são muitos os desafios e obstáculos que atravessam o caminho de qualquer um que persiga seus sonhos em tempos, digamos, imprevisíveis, quando o amanhã tem tudo para ser drasticamente diferente do ontem. E quem não teme o desconhecido?

Em resumo, resiliência, no meu modo de ver, exige que tiremos da cartola coragem para enfrentar o medo.

Como outros talentos que o ser humano desenvolve a partir da vivência e depois de engrossar um pouco o couro, a resiliência não é inata, tampouco inerente a alguns tipos de pessoa. Nada disso. Nós a adquirimos, ou ao menos a potencializamos, quando aprendemos a administrar nossas falhas, nossos fracassos.

Ora, só não tem problema nenhum quem já está no cemitério, da mesma forma que apenas quem jamais se arriscou na vida nunca cometeu erros. Resiliência é ter sabedoria para compreender isso e sentir-se digno em desfrutar de cada pequena conquista sem sofrer demais por algo que é de menor importância ou sofrer de menos por algo que realmente justificaria entrega maior. O resiliente encara o desafio de reconhecer as angústias que valem o preço, pois não há nada neste mundo que não esteja prenhe de motivos e ensinamentos aptos a nos tornar hoje melhores que ontem. Tudo depende da lente através da qual miramos o que se passa ao nosso redor.

A resiliência não nos confere, é claro, imunidade contra o medo, nem mesmo contra os problemas mais simplórios. Ela pode, contudo, nos dar a graça da sabedoria, que, por sua vez, nos permite encontrar meios de resistir, por nós mesmos, às dores impostas pela vida. Seja administrando diretamente as adversidades do momento, seja extraindo da experiência força, coragem, fé e aprendizado para administrarmos melhor os entraves futuros, importa ter em mente que a vivência abre portas. E o melhor é que talvez tenhamos superado o temor de espiar o que há atrás delas. Quem sabe uma ideia inédita e capaz de mudar tudo?

Pois então, meu amigo, minha amiga, no meu caso não tenho dúvidas: foi a resiliência ao medo, associada à consistência de caráter, que me permitiu, por exemplo, ser um bom aluno e ler bastante durante mais de 20 anos; empreender com firmeza e matar um leão por dia ao longo de mais de uma década; praticar exercícios físicos com regularidade há mais de 8 anos, e contando; e escrever artigos semanais, rigorosamente, não importando se é feriado, Natal ou aniversário, já há mais de 6 anos.

Hoje percebo que foi a coragem em enfrentar meus próprios medos, reforçada, é claro, pela gana de todo o incrível time do Gran, que nos fez saltar, da condição de modesto cursinho com foco em apenas três certames regionais, para a posição de empresa mais inovadora da América Latina segundo a FastCompany, responsável por oferecer mais de 30 mil cursos a 490 mil alunos pagantes e com 1.650 colaboradores e professores na folha de pagamento, entre outros números superlativos. Tenho orgulho do que fizemos até aqui. Sou grato a todos: pais, amigos, colaboradores e até concorrentes – que, preciso reconhecer, me ajudaram a ser menos medroso e apegado às minhas certezas.

Quem é resiliente sabe que há tempo para plantio, para rega e para colheita; compreende que o importante é semear e depois cultivar todos os dias a fim de que a safra seja abundante. Quem não é perde oportunidades incríveis, porque fecha as portas e as janelas da alma para o êxito, o sucesso, as conquistas. E como deixa de ganhar na vida, por não enxergar que o ganho costuma se esconder no avesso da perda, ou logo ali, um passo adiante da linha do temor.

Noutras palavras, meu leal seguidor, quem está tomado pelo medo não sabe fazer o pedido correto, pois nem mesmo sabe ao certo o que quer. Olhos medrosos são a materialização de uma alma pessimista que faz enxergar todos e tudo do mesmo modo, sob o manto da falta de fé. É, portanto, ele, o medo, que nos torna vítimas de nós mesmos ao apagar da nossa mente a certeza de que – e do que – somos capazes.

Sentir medo é, enfim, um jeito estranho de conceder autoridade e poder a outrem que não está interessado em nosso melhor. Se tenho medo do escuro, posso estar atribuindo à escuridão mais poder do que ela merece. Por outro lado, reconhecer que o medo faz parte de mim e ao mesmo tempo trabalhar para me manter no controle dele, com resiliência, me faz mais forte e poderoso.  O segredo é, portanto, encarar o medo, olhar fixo em seus olhos, até que ele, e não eu, ceda.

Então sigamos em frente, sempre com resiliência, porque o futuro está a um passo dessa linha do medo que todos precisamos cruzar.

“Embora estreito o portão, sigo adiante,

Mesmo tendo ao lado o castigo e o desatino,

Da minha alma eu sou o comandante;

Eu sou o senhor do meu destino.” – William Ernest Henley (1849-1903), escritor britânico

 

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