Indique uma família que não tenha entre seus membros, mais próximos ou mais distantes, uma pessoa daquelas bem difíceis de conviver; um primo ou um tio que, em vez de resolver os problemas, parece gostar deles, tanto que só fala de coisas ruins, como doenças. Pessoas assim, ainda que muito queridas e amadas, não se contentam apenas em relatar traumas e dificuldades; se satisfazem mesmo é quando os outros ao seu redor sofrem com elas. E é comum cedermos à vontade delas. É natural acabarmos tristes e abatidos como e com elas. Fato é que o amor não existe sem a dor, mas é preciso impor um limite para isso. Temos de viver também a nossa vida, procurando sempre ajudar os outros, é claro, mas com equilíbrio, até para termos condições financeiras, físicas e emocionais de permanecer no ciclo virtuoso de ajudar mais e mais pessoas.
A chave para isso, caro leitor, é viver sua própria vida.
Muitas pessoas encaram o eterno lamentar-se como uma forma de obter afeto de terceiros, sobretudo dos familiares. Com isso, acabam criando uma relação de dependência na qual parece que a continuidade de suas lamúrias é condição para não perderem o carinho e a atenção que conquistaram. Não é por outra razão que permanecem entoando a cantiga de uma nota só. Uma pessoa com esse perfil reclama do mesmo problema o tempo todo e pinta a si mesma como uma vítima indefesa, uma coitadinha, o mais desafortunado dos 7,5 bilhões de habitantes do mundo.
“Podemos e devemos, sim, aconselhar, influenciar, orientar, ajudar; mas com a consciência de que a ação principal nunca será executada por nós.”
Se você convive ou já conviveu com alguém assim, ou se esse alguém é você, saiba que ninguém pode – nem deve – viver a vida dos outros. Ninguém é capaz de entrar no coração de outrem e vivenciar seus transtornos, incômodos, embaraços. Não cabe a nenhum de nós tomar decisões por um terceiro, não importa o quão importante ele seja para nós. Podemos e devemos, sim, aconselhar, influenciar, orientar, ajudar; mas com a consciência de que a ação principal nunca será executada por nós.
Amigo leitor, faça sua parte e ajude, sim, os outros, mas viva a SUA vida.
Todos sabem que nenhum momento de desespero, nenhum imbróglio, nenhuma adversidade dura a vida toda. Momentos ruins passam. O natural, então, é cada um de nós carregar os próprios fardos nos ombros, sem esperar – muito menos exigir – que um terceiro o faça em seu lugar, ainda que este seja um amigo próximo ou o próprio pai, a própria mãe, um filho. Ir contra essa lógica é submeter quem está disposto a ajudar a uma pressão injusta e cruel. Não caia nessa!
“Lembre-se: se ele não quer resolver os próprios problemas, não será você que conseguirá fazer isso em seu lugar. É infrutífero tentar cuidar dos outros (ou eles de nós) se o cuidado não for aceito por quem dele necessita.”
Você que me lê, quer ser feliz? Então não desperdice a vida querendo viver a do outro, sobretudo se esse outro tiver o perfil de alimentar o próprio sofrimento. Tampouco seja essa pessoa presa a uma vida de recalque e insatisfação. Aceite e ofereça cuidados, sim. Aceite e ofereça ajuda, sim. Seja a pessoa que oferece um ombro amigo quando necessário – e dentro de suas limitações –, sim; mas não deixe sangrar em sua pele as feridas do outro, nem sofra demais quando notar que ele não ouve o que você tem a dizer. Lembre-se: se ele não quer resolver os próprios problemas, não será você que conseguirá fazer isso em seu lugar. É infrutífero tentar cuidar dos outros (ou eles de nós) se o cuidado não for aceito por quem dele necessita.
“A aprendizagem vem sempre acompanhada de alguma dose de sofrimento, meu amigo, minha amiga.”
Estou convencido da importância dos momentos de crise em nossa vida. Crises nos fazem crescer. Sabe aquele instante em que finalmente nos sentimos aptos a deixar partir algo ou alguém que não nos faz bem? Sabe aquele momento de clarividência, quando a maturidade e o amor-próprio parecem falar mais alto e nos levam a afastar do caminho um obstáculo para nossa felicidade? É em momentos difíceis e de tomada de decisão como esses que mais aprendemos. Naturalmente, eles não são livres de dor; afinal, escolhas produzem efeitos, e muitas vezes efeitos indeléveis e difíceis de lidar. A aprendizagem vem sempre acompanhada de alguma dose de sofrimento, meu amigo, minha amiga.
Então apenas VIVA a sua vida.
“A compreensão pode ser impossível num primeiro momento, mas é provável que mais tarde tudo se encaixe e se explique. Além disso, é certo que viver bem dispensa o entendimento pleno de tudo. Portanto, simplesmente viva a sua vida.”
Considere que, às vezes, quando julgamos termos feito péssimas escolhas, o que parece um erro pode ser, na verdade, uma nova oportunidade disfarçada, pronta para nos ensinar algo que precisamos, de fato, aprender. Aproveitemos uma oportunidade como essa sempre que ela surgir. Ela pode nos levar a lugares melhores e nos tornar mais conscientes, mais fortes, inabaláveis e imparáveis. Mergulhe de cabeça na realidade que se desenha a sua frente sem se preocupar em entender tudo de imediato. A compreensão pode ser impossível num primeiro momento, mas é provável que mais tarde tudo se encaixe e se explique. Além disso, é certo que viver bem dispensa o entendimento pleno de tudo.
Portanto, simplesmente viva a sua vida.
Faça isso, mas não confunda essa espécie de individualismo com falta de amor ao próximo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Como nos ensina o padre Fábio de Melo, “amar ao próximo significa dar a ele o que verdadeiramente precisa ser dado, mas também negar o que verdadeiramente precisa ser negado”. Dito de outra forma, você não deve carregar os problemas dos outros em suas costas nem esperar que as pessoas carreguem os seus sobre as delas. Se um parente reclama da tosse contínua, mas não para de fumar, o que você pode fazer a respeito? Apenas aconselhar. Se alguém de quem você gosta foge de exercícios físicos, come só porcaria e ignora seus conselhos a respeito da saúde e dos bons hábitos, fazer o quê? Apenas alertar. Não adianta sofrer junto, não adianta sofrer por. Afinal, quem tem o poder de decisão e de ação, nesse contexto, não é você.
Infelizmente, algumas pessoas precisam chegar ao fundo do poço para se darem conta do tamanho do buraco em que se enfiaram. De fato, é muito triste quando essas pessoas são próximas de nós, mas o que você precisa entender, meu amigo, minha amiga, é que tirá-las de lá talvez esteja além das suas forças. Naturalmente, você deve fazer todo o possível para ajudá-las, mas não deve afundar junto com elas, pois isso não trará benefício para ninguém. Na pior das hipóteses, todos vocês ficarão presos na escuridão e na lama, e, na melhor, você se verá com metade da energia que tinha antes de se envolver demais nos problemas dos outros.
Uma última observação: se a pessoa que se deixa afundar continuamente é você, reveja logo essa postura. Ninguém gosta de conviver com alguém aborrecido, alguém que não faz nada além de reclamar, pondo-se sempre na posição de vítima. Ninguém se compadece de verdade de quem não assume sua parcela de responsabilidade pela própria condição.
Lembre-se sempre, amigo leitor: o que foi quebrado precisa ser restaurado com calma e paciência, e pode haver grande incômodo durante o processo. Se o responsável por isso for você, apenas aceite. Se for alguém próximo, aconselhe-o a aceitar. Será sua forma de ajudar.
“Em síntese, esteja sempre pronto para oferecer ajuda aos outros, mas sem deixar de viver sua própria vida.”
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“A coisa mais importante da vida não é tanto a situação em que estamos, mas a direção para a qual nos movemos.” – Oliver W. Holmes
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.