“O que salva é dar um passo. Mais um passo. Sempre o mesmo passo, reiniciado…” – Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), filósofo, aventureiro, poeta e escritor, autor do livro “O Pequeno Príncipe”.
França, década de 1930. Chove bastante. Guillaumet, em seu pequeno monomotor, como sempre fazia no ofício de distribuir correspondências, guia-se pelos acidentes geográficos: depois da montanha, à direita; após o rio, à esquerda; passado o pinheiro, mais acima. Eis que um vento forte vem e derruba o avião sobre a montanha gelada, e o piloto, com graves ferimentos nas pernas, compreende que o fim está próximo. Deitado sobre a neve, longe de qualquer povoado, aceita apenas esperar pela morte, confortando-se com a ideia de que a família, ao receber o seguro de vida, ao menos não ficará desamparada.
Depois de alguns instantes absorto em pensamentos, o homem desperta num sobressalto. Súbito se lembra de que o seguro seria, sim, liberado para a esposa, que amava, e os filhos queridos, mas somente com apresentação da certidão de óbito. O que seria deles se seu corpo nunca fosse encontrado?! Foi o que bastou para tomar uma decisão: tinha de caminhar até algum lugar onde seu cadáver ficasse mais visível para o resgate. Desistir não era uma opção e, para tanto, reuniu todas as forças num único comando: “Só um passo.” Assim, pé ante pé, concentrando-se apenas no passo seguinte, percorreu uma boa distância, até deixar-se desfalecer ao topar com algumas pessoas que caçavam na região.
Quando recobrou a consciência, estava no hospital, ao lado da família. Vá lá, perdera alguns dedos do pé, que tiveram de ser amputados depois de necrosarem devido ao duro frio enfrentado na caminhada. Mas estava VIVO. A história completa foi mais tarde narrada ao amigo Antoine de Saint-Exupéry e integra o terceiro livro do autor francês, “Terra dos Homens”, publicado em 1939.
Como você deve ter concluído, a bela história desse sobrevivente nos ensina que qualquer jornada é vencida passo a passo. Mesmo nas mais longas jornadas, ninguém chega ao destino dando só grandes saltos. Pode até ter a impressão de, com eles, adiantar o percurso, mas será ilusão, pois logo virá a fadiga. Se queremos mesmo alcançar algum feito, se sabemos aonde queremos chegar, estabelecemos metas de curto, de médio e de longo prazo, cumprindo uma de cada vez. Nada de querer fazer tudo ao mesmo tempo.
Lembro bem de um episódio pessoal que tem a ver com essa noção sobre a importância de pensar e realizar aos poucos. Certa vez, Rafael, meu orientador físico, me induziu a superar a mim mesmo sem que eu percebesse. Ele estava me orientando num exercício de supino com carga maior que a habitual e sabia que, se me pedisse mais duas, três ou quatro repetições, eu provavelmente travaria. O que ele fez então? Disse, apenas: “Vai! Só mais uma!” Eu obedeci. Veio ele: “Mais uma!” Protestei, mas obedeci de novo. “Mais uma!”… Assim foi até eu ter completado cinco repetições e realmente não aguentar mais. Ainda reclamei: “Pô, Rafael, você me enganou. Eram cinco, não apenas uma.” Ao que ele respondeu que, se dissesse desde o início que eram mais repetições, eu teria desistido sem nem começar. Olha, preciso confessar que ele tinha razão.
O que se extrai disso tudo? Que, de pouco em pouco, somos capazes de ir além do que talvez conseguíssemos se fôssemos com muita sede ao pote. Mesmo que, no fim do percurso, estejamos aparentemente esgotados, a trajetória terá sido percorrida com mais facilidade um passo de cada vez. Está cansado? Dê mais um passo, leia mais um parágrafo, conclua só mais uma página, assista apenas a mais um vídeo… Vá superando um pequeno desafio por vez, e de repente, quando menos perceber, terá chegado lá, e os sonhos finalmente baterão à sua porta. Acredite. Confie. Dê mais um passo… Só mais um…
Um velho ditado diz que, de grão em grão, a galinha enche o papo. Outro, na mesma linha, ensina que, de passo em passo, atravessamos um país, um continente, chegamos a qualquer lugar. Não é preciso enxergar o caminho inteiro; basta ter na mente este único comando: “Só mais um passo!”. Vou além: não ver a estrada toda pode ser uma bênção – veja o que aconteceu comigo e meu exercício de supino… Para alguns de nós, saber a extensão da estrada pode ser um tanto desestimulante e, quem sabe, a desculpa que faltava para desistirmos. Portanto, em vez de se preocupar com o tamanho do caminho, trate de focar apenas no próximo passo. Depois pense no seguinte… e no outro…
Talvez você conheça a história da maratonista suíça Gabriela Andersen, que tinha 39 anos à época dos Jogos Olímpicos de 1984, realizados em Los Angeles. Ela foi protagonista de uma das cenas mais dramáticas já flagradas numa olimpíada. Com câimbras, desidratada e cansada, sem conseguir ficar ereta, sabia que não teria forças para retomar a marcha e concluir a prova se cedesse às dores e ao esgotamento físico, sentando-se um pouco, por exemplo. Então, simplesmente não parou nem por um instante antes de alcançar a linha de chegada. Não parou por ser imparável? Sem dúvida. Mas também ouvia a torcida gritar: “Só mais um passo! Mais um!”. Foi obedecendo aos incentivos, cumprindo a meta de dar só mais um passo, até cruzar a linha de chegada e cair nos braços dos médicos, dizendo: “Oh, acabou!” Vale a pena assistir ao vídeo que mostra esse exemplo de superação. Recomendo muito. Em tempo, apenas para registrar: um dia mais tarde, dois no máximo, a maratonista já estava pronta para a batalha seguinte.
Em resumo, caro leitor, o que quero dizer é que nossa chance de perseverar aumenta quando avançamos pouco a pouco. Edilson Enedino, nosso professor de Direito Empresarial e Juiz de Direito, me disse algo, durante a entrevista que gravamos para o canal Imparável, que sintetiza bem essa ideia: “Quando o pulso está batendo, é sinal de que estamos recebendo do Autor da Vida permissão para dar mais um passo”. Tenho de concordar com ele. Aquele barulhinho, aquela sensação do sangue pulsando nas veias sinaliza que estamos vivos e nos orienta a dar mais um passo, e outro, e outro, sem perder o ritmo. “É importante esforçar-se por um objetivo que não seja visível de imediato”, ensinaria Exupéry. Ou, com ainda mais sabedoria: “O verdadeiro homem mede a sua força quando se defronta com o obstáculo”.
Ora, se outros conseguiram, de passo em passo, você também consegue. Tenha um propósito bem-definido, elabore um bom planejamento e siga-o rigorosamente, uma etapa de cada vez. Superar o fácil não é mérito; é obrigação. Já vencer o difícil, conquistar o impossível, atravessar o indesejado – o impensado –, é sinônimo de glória. Com ou sem pandemia, assista à vida rompendo os limites das fórmulas e inspire-se nisso para rever suas metas e seus compromissos. Revisite seus sonhos, ouça seu sangue pulsar e, então, dê mais um passo… e outro… e mais um…
Vamos lá, juntos e sem perder o ritmo, ao encontro dos nossos sonhos, do nosso destino! Um passo é sempre possível. Qual será o seu?
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” – Saint-Exupéry
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância