O poder do silêncio

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18 de maio5 min. de leitura

“Como a abelha trabalha na escuridão, o pensamento trabalha no silêncio e a virtude no segredo.” – Mark Twain (1835-1910), escritor norte-americano

Notou como as cidades estão mais silenciosas? Há menos barulho de carros trafegando, de máquinas funcionando e de pessoas conversando, falando, gritando. Percebeu também como os pássaros, por sua vez, estão mais cantores e tagarelas do que nunca? Os dias têm sido difíceis, muito difíceis, e todos nós estamos – a duras penas – aprendendo a reconhecer o poder do silêncio. Estamos entendendo que sempre há algo de positivo para ouvir. Guardando silêncio, somos capazes – finalmente – de ouvir até nossos próprios pensamentos, que, antes, praticamente não tinham vez. Dá pra ouvir o som da vida!

Silêncio absoluto não existe. Há sons acidentais, como os produzidos pelo vento, por aparelhos domésticos e os dos alertas das mensagens de notificação no celular e no computador. Há sons quase inaudíveis, como o do coração que pulsa e o do sangue que corre nas veias. É, silêncio absoluto não existe, mas hoje quero conversar com você sobre o poder da quietude, ainda que relativa, para aprendermos a escutar. O que (não) ouvimos pode fazer toda a diferença, e é por isso que talvez seja uma boa ideia afastar distrações e estímulos barulhentos demais para começarmos a escutar o que tem, de fato, valor.

Os estímulos sonoros vindos do mundo são, é claro, relevantes. Não podemos fugir deles, assim como precisamos ver pessoas e ter experiências concretas se nossa intenção é desenvolver visão mais ampla do universo. Contudo, também é preciso cultivar o silêncio e ficar sozinho de vez em quando, se a ideia é entender tudo que se vê e se sente. Ausentar-se temporariamente do mundo e de todo burburinho nele presente ajuda a entrar em contato consigo mesmo e com o que se passa na própria mente. O pensamento, segundo o professor escocês Thomas Carlyle, não funciona exceto na quietude.

John Cage (1912-1992), compositor, escritor e artista norte-americano, visitou, em 1951, a até então mais avançada sala à prova de som do mundo. Mesmo ali, o músico, dono de ouvidos extremamente sensíveis, relatou ter escutado ruídos. Dois, para ser mais preciso: um agudo, que era seu sistema nervoso em operação; outro grave, decorrente do bombeamento do sangue pelo coração. Pode parecer um feito e tanto, mas a verdade é que, quando guardamos silêncio, todos nós somos capazes de ouvir o som da própria vida. Dá pra imaginar tudo que pode ser feito com tamanho… silêncio?!

Uma curiosidade sobre a experiência de Cage: veio dessa visita à câmara anecoica a inspiração para criar a canção 4’33”, orginalmente concebida com o título “Prece Silenciosa”. Era uma peça idêntica à música popular da época – tocada ao vivo e no rádio, como qualquer canção –, com esta única diferença: seria uma “peça de ininterrupto silêncio”. Foi divertido. Foi ousado. Foi esquisito. Serviu para mostrar que o silêncio absoluto, de fato, não existe.

O fato de o silêncio ser tão raro só confirma o quão valioso ele é. O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama é conhecido como um dos melhores oradores de nosso tempo. Sabia que o maior diferencial na oratória dele, segundo os principais palestrantes do mundo, são as pausas que ele faz enquanto discorre sobre assuntos de altíssima relevância? São momentos de silêncio escolhidos cuidadosamente, por meio dos quais ele habilmente consegue falar até mais do que usando palavras. Analogamente, os bons atores sabem que não precisam falar nada para mostrar presença no palco. Eles também dominam como poucos a arte do silêncio. Minha professora de teatro, uma atriz experiente, confirma a eficiência da técnica.

Além de tudo, a quietude é a porta para avançarmos rumo à sabedoria. Há momentos em que tudo parece confuso, sem sentido, sem lógica. Nessas horas, sugiro que você pratique o saudável hábito de prestar atenção no silêncio. Cale-se, aquiete o coração, controle a respiração e feche os olhos. Em seguida, busque dentro de si as respostas de que precisa. Elas não estão lá fora, mas aí dentro, em sua alma. Em períodos complicados, ouça e enxergue com o coração. Ele quase sempre diz a coisa certa.

Há tantas lições que aprendi sobre o silêncio e que me guiam na forma como conduzo minhas relações… Confúcio já dizia que o silêncio é um amigo que nunca trai, e, para Martin Luther King, “no final, não lembraremos das palavras dos inimigos, mas do silêncio dos nossos amigos”. Há outros ditos populares na mesma linha: “A palavra é de prata e o silêncio é de ouro”, “O silêncio vale mais do que mil palavras”. A Bíblia defende algo parecido: “Até o insensato passará por sábio se ficar quieto e, se contiver a língua, parecerá que tem discernimento” (Provérbios 17:28). É por dar valor a ensinamentos como esses que respeito a máxima segundo a qual falar demais – sem cuidado, sem medir as palavras – não é nada bom. Uma palavra dita de forma irrefletida pode ferir mais que uma flecha, uma bala, uma surra de chicote. Às vezes, o silêncio é a melhor resposta. Talvez a única. Então, quando decidir falar, cuide para que as palavras proferidas sejam mesmo melhores que a ausência delas.

Ainda não consegui implementar, em minha rotina, o dia do silêncio, mas quero fazê-lo em breve. Vou destinar esse dia para colocar meus escritos em dia, ouvir o meu coração, desacelerar, refletir e me livrar das trivialidades. Certamente, isso vai me ajudar a recarregar as baterias, colocando minhas experiências em perspectiva. Estou me esforçando para isso e chegando lá. Felizmente, já aprendi a exercitar pelo menos esta, que talvez seja a artimanha mais importante de todas: guardar silêncio sobre a maioria dos meus planos. Procuro não falar nada, sobretudo para quem já sei que não vai me oferecer apoio. É como ensina a sabedoria popular: “Aquilo que ninguém sabe, ninguém estraga.” Isso não quer dizer esconder tudo de todos e jamais buscar ajuda; tampouco significa deixar de se comprometer com alguém em relação a algo. Trata-se, mais uma vez, de apenas saber quando é melhor ficar quieto.

Dito tudo isso, meu conselho é: sobretudo neste período de distanciamento social que nos foi imposto, reserve um tempo diário para “ouvir” o silêncio. Na movimentada cidade de Helsinque, na Finlândia, há uma igreja dedicada à quietude, frequentada pelos interessados em vivenciar momentos de silenciosa espiritualidade. Não dispomos de um lugar assim por aqui, mas… sem problema. Crie seu próprio “templo”. Permita-se estar só, nem que por alguns minutos, na companhia exclusiva dos próprios pensamentos, e medite. Pode ser em roupas de ginástica e sentado na cama, no sofá, num banco da varanda ou do jardim. Tudo que importa é tirar esses instantes para si. Faça isso sempre que puder. Volte seus pensamentos para dentro do seu ser e reflita. Avalie o que é desimportante e projete na mente o que você gostaria de conquistar. Em seguida, decida se é melhor falar sobre isso ou manter suas ideias quietinhas, onde elas estão mais seguras: consigo mesmo.

Vamos juntos, falando menos e ouvindo mais, cientes de que, assim, poderemos finalmente escutar o que o mundo vinha tentando nos dizer.

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“Todas as coisas profundas, e as emoções das coisas, são precedidas e acompanhadas pelo Silêncio […]. O Silêncio é a consagração geral do universo.” – Herman Melville (1819-1891), escritor

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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância

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