Hoje quero me dirigir a você, que no domingo passado submeteu-se ao longo e desgastante Teste de Pré-Seleção (TPS), prova da Primeira Fase do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD). A esta altura, provavelmente não sabe se passou. Ou talvez tenha certeza de que foi muito bem ou bastante mal. Não importa.
Quem quer ser diplomata não pode pensar no CACD como bala de prata. A metáfora da solução simples para um problema complexo, aquele único tipo de munição que serve para matar um lobisomem ou outra figura lendária, não deve ser aplicada à ideia de aprovação neste difícil, porém possível concurso.
Passar nessa seleção é custoso, porque muita gente pensa como você e tem o mesmo objetivo, com razão. As pessoas em geral veem a carreira diplomática com admiração, mesmo aquelas que não se enxergam com perfil para nela ingressar. Como toda profissão, a diplomacia impõe muitas dificuldades a seus profissionais, em geral bem acima da média, mas o saldo final dos prós e contras é bastante positivo para os que gostam do tema.
E o que isso tem a ver com seu resultado no TPS? Se você passar, sentirá imensa felicidade misturada com um certo pavor de ter pulado com sucesso o primeiro obstáculo e tropeçar no seguinte. Caso não seja aprovada(o), possivelmente deixará o desânimo te dominar por uns dias, julgando-se incapaz de alcançar o nível daqueles que tiveram desempenho positivo.
Esses dois caminhos são naturais, mas não os desejáveis. Você começará a diferenciar-se dos demais candidatos no momento em aprender a pensar de modo distinto, a distanciar-se do comportamento de manada. Claro que se isso fosse fácil, nem perderia meu tempo escrevendo a respeito, mas o caminho do sucesso normalmente exige doses de esforço contra intuitivo.
Primeiramente, imaginemos os reprovados. Como transformar o sentimento de derrota em algo positivo? Posso dar diversos argumentos: é com os erros que se aprende; os fracassos tornam os sucessos futuros mais prazerosos; ou que os aprovados precisam, em média, de três tentativas para passar nesse Concurso. Nenhuma justificativa, entretanto, é mais forte e verdadeira do que esta: se você não chegou lá é porque ainda tem caminho pela frente, não andou o suficiente, mas já percorreu parte da estrada e está na frente dos que não iniciaram a mesma trajetória!
Por isso costumo dizer que o CACD é distinto dos demais processos seletivos do serviço público e que a figura da bala de prata não pode ser aplicada a este exame. Quem viu os TPS anteriores e prestou o Concurso neste ano percebeu que o formato da prova é o mesmo e se repete anualmente. Ou seja, vantagem para os que se preparam no longo prazo.
Assim, se você acha que foi mal, não perca tempo se lamentando, continue a estudar como fez até sábado passado. E mesmo que não seja mais tão jovem, pois alguns se sentem pressionados a passar logo porque acham que a idade está chegando e não terão muito tempo para exercer a carreira, saiba que com a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Bengala, os futuros diplomatas só se aposentarão compulsoriamente aos 75 anos de idade!
Finalmente, caso esteja certa (o) ou considere que tem chance de que seu nome esteja na lista dos aprovados para a Segunda Fase do CACD, a necessidade de manter, e até intensificar, o ritmo de estudos permanece a mesma. A mensagem, portanto, é sempre a mesma: em qualquer situação, você está sobre uma bicicleta; não pare de pedalar, senão vai cair!
Jean Marcel
Jean Marcel é Primeiro-Secretário no Ministério das Relações Exteriores. Foi nomeado Terceiro Secretário da Carreira de Diplomata, em 14 de julho de 2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco, em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires, Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo Secretário, em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Promovido a Primeiro Secretário, em junho de 2006. Concluiu o Curso de Aperfeiçoamento em Diplomacia do Instituto Rio Branco, em março de 2007. Concluiu o Curso de Doutorado em Direito Internacional pela Universidade de Buenos Aires, Argentina, em julho de 2007. Serviu na Embaixada do Brasil em Washington, Setores Econômico e de Promoção Comercial (Chefe), entre 2007 e 2010. Publicou o livro “La Corte Penal Internacional. Soberanía versus justicia universal”, Editoriales Reus/Zavalía/Temis/UBIJUS, Madrid/Buenos Aires/Bogotá/México, D.F., em novembro de 2008. Condecorado com a Ordem do Rio Branco, Grau de Oficial, em abril de 2010. Assessor do Embaixador Antonio Patriota, na Secretaria-Geral das Relações Exteriores, em junho de 2010. Chefe da Divisão de Operações de Promoção Comercial (MRE), desde agosto de 2011. Diretor do Departamento de Financiamento e Promoção de Investimentos no Turismo (DFPIT – Ministério do Turismo), 2013-2014. Chefe da Divisão de Operações de Promoção Comercial (MRE), atualmente. A Divisão de Operações de Promoção Comercial do Itamaraty é responsável pela promoção de exportações brasileiras e promoção do turismo estrangeiro no Brasil. Graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP).
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