“Você se torna mais vulnerável justamente quando todos falam da sua grandiosidade.” – Walt Disney
Todos nós temos nossas fraquezas. Pena que a vergonha nos faça ter tanto receio de revelá-las, que preferimos nos esconder total ou parcialmente dentro de uma falsa capa de perfeição. A seguir, direi algo que poderá parecer um tanto contraintuitivo diante de tudo que já conversamos neste espaço, mas tenho de dizer assim mesmo: precisamos expor mais as nossas vulnerabilidades. Acredite: é agindo assim que nos fortalecemos. Essa é a lição de hoje.
Houve um tempo em que quem sofria de algum tipo de enfermidade tinha menos valor aos olhos dos outros. Era tido como uma pessoa que não poderia nunca se sentar em meio às demais, alguém destinado a viver uma vida periférica, à margem da sociedade, com suas fraquezas devidamente escondidas. Conta-se que, por essa época, havia um homem com uma mão mirrada – seca, atrofiada mesmo – que vivia sentado no canto de uma sinagoga. Certo dia, mesmo naquele contexto tão adverso, um Homem pediu-lhe que se levantasse, fosse até meio da igreja e expusesse sua mão, para mostrar a todos justamente o que sempre tentava esconder. Apesar da vergonha, o aleijado obedeceu: postou-se no centro da igreja e revelou a vulnerabilidade física que a sociedade tanto desprezava nele. Logo em seguida, para a surpresa de todos, teve a mão curada.
“A maioria de nós está sempre ou quase sempre tentando esconder suas vulnerabilidades – às vezes até mesmo a própria existência – por mera vergonha.”
O resumo dessa passagem bíblica, narrada em Marcos 3:3 e Matheus 12:9-14, ensina uma lição importante para todas as pessoas, independentemente de crença. (Em tempo: nossa análise, aqui, será completamente laica.) A maioria de nós está sempre ou quase sempre tentando esconder suas vulnerabilidades – às vezes até mesmo a própria existência – por mera vergonha. Insistimos tanto nisso que muitas vezes acabamos nos autossabotando. Prejudicamos outras áreas da vida por conta de uma única fraqueza que nos envergonha, nos encabula. Reduzimos, assim, as chances de nos curarmos por inteiro e de nos desenvolvermos para, enfim, alcançarmos nossos objetivos.
“Para nós que temos grandes sonhos, como a aprovação em um excelente concurso público e a conquista de uma qualidade de vida ímpar, é necessário superar todo e qualquer complexo de inferioridade.”
Cabe salientar que a cura pode ser bem diferente do que você, caro leitor, imagina. Ela não pressupõe, necessariamente, a eliminação da vulnerabilidade. Pode ser, ao contrário, a aceitação de que a fraqueza existe, sim, mas está longe de ser um impedimento para a felicidade plena. Para nós que temos grandes sonhos, como a aprovação em um excelente concurso público e a conquista de uma qualidade de vida ímpar, é necessário superar todo e qualquer complexo de inferioridade. Você sabe tão bem quanto eu que um sentimento de inferioridade pode ser reflexo das excessivas cobranças de uma sociedade que prefere aprisionar a todos, tal como segregava o homem da passagem bíblica citada linhas atrás.
É preciso se libertar! Meu conselho para isso é: ouse ser vulnerável. Por mais difícil que seja no início, tente confiar nas pessoas. Erga-se em frente a elas e mostre-lhes as suas mãos, estejam elas mutiladas de fato ou apenas trêmulas. Rompa o estigma do medo e revele suas inseguranças. Tudo fica muito mais fácil depois que nos revelamos por inteiro.
Um grande erro que vejo muita gente cometer é acreditar que não deve se expor “desnecessariamente”. Sobretudo entre os concurseiros mais experientes e as pessoas que já alcançaram algum sucesso, esse é um erro muito comum. Supondo que não precisam mais de ajuda ou orientação, tanto aqueles quanto estas concluem que não devem assumir suas vulnerabilidades. Não poderiam estar mais errados. Todo candidato a uma vaga no serviço público e todo profissional ou empreendedor engajado precisarão em vários momentos confiar em seus mestres, em seus coaches, em colegas de missão; enfim, em todos aqueles que direta ou indiretamente os alimentem com informações, conteúdos, dados, palavras de motivação ou conselhos. Confiança e autoconfiança nunca deixarão de estar na ordem do dia.
Certa vez, ouvi um amigo dizer que não confiava em ninguém. “Como se isso fosse possível”, pensei, antes de perguntar se ele havia comido naquele dia. “Ora”, argumentei, “se comeu, confiou em quem produziu ou preparou os alimentos”. Disse mais: “Você veio até aqui de carro? Ah, então você confiou nos outros motoristas, acreditando que eles não viriam em sua direção. Você já viajou de avião? Hum, então você confiou nos pilotos.” Viu só? É inevitável: todos temos de confiar em alguém, ainda que seja difícil admitir isso, talvez por havermos sofrido traumas, traições, atos de covardia… Sempre confiamos, seja em alguém humano como nós, seja em um ente superior. Somos vulneráveis e não temos como fugir de nossa vulnerabilidade, mas nem por isso somos reféns dela. Precisamos compreendê-la, aceitá-la e buscar usá-la a nosso favor.
“O segredo é entender que estamos nesta vida para cuidar não das borboletas, mas do jardim.”
Há que ter confiança, concurseiro. Ela é imprescindível para nosso crescimento, nosso desenvolvimento, nossa sobrevivência. Ela é absolutamente necessária para a conquista da felicidade. O segredo é entender que estamos nesta vida para cuidar não das borboletas, mas do jardim. Cuidando das plantas e das flores, as borboletas virão até nós. Então aprenda a gostar de si mesmo e de quem gosta de você tal como você é.
Já ouviu falar da modelo Paola Antonini? Vítima de um grave acidente, ela perdeu uma perna, mas faz questão de não esconder a prótese. Ama usar saia e shorts. Conhece o palestrante Nick Vujicic, aquele que nasceu sem pernas e braços, ousou mostrar a todos as suas vulnerabilidades e hoje é reconhecido mundialmente? E o cientista Stephen Hawking, que, embora não conseguisse nem mesmo falar, nunca se escondeu do mundo e foi um dos maiores cientistas que já passaram pela Terra, autor de vários livros que escreveu por meio de sensores que reconheciam os movimentos de sua bochecha?!
Aparentemente fracos, Antonini, Vujicic e Hawking tornaram-se mais fortes aos olhos de todos justamente por não esconderem suas fraquezas. Imagine quantas pessoas deixariam de ser inspiradas se Paola, Nick ou Stephen tivessem decidido viver à margem da sociedade, ocultando a própria existência? Lembre-se: é fácil navegar quando os mares estão calmos. A prova de fogo é justamente quando enfrentamos uma tempestade. A diferença, para alguns, é que o tempo pode estar fechado quase todos os dias.
Pense nisso, e vamos em frente, cientes de que somos humanos e, por isso mesmo, alguns de nossos membros são atrofiados. Não tenhamos vergonha deles. Somos únicos por causa das nossas vulnerabilidades. Elas nos tornam ainda mais inabaláveis e antifrágeis. Vulnerabilize-se e fortaleça-se!
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Gabriel Granjeiro
Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.