Perder sem se perder

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18 de abril4 min. de leitura

Quando criança, você tinha algum amigo que não sabia perder? Algum coleguinha do tipo que, ao perder num jogo de futebol, se descontrolava completamente a ponto de chutar a bola para o alto e, batendo o pé, sair furioso, estragando a brincadeira de todo mundo? Lembro bem de alguns conhecidos meus que eram desse jeito. Imagino que os pais deles não lhes tenham ensinado direito a importância de saber perder sem se perder.

Se perder já é ruim na infância, na fase adulta, então… Afinal, quando crescemos, não se trata mais de ser o último colocado na competição de atletismo da escola, mas, sim, de reprovar numa prova que poderia marcar o fim de uma era de dificuldades e o início de outra, de maior conforto e estabilidade financeira… Não se trata mais de se afastar dos amigos em razão de uma mudança de endereço inesperada, mas, sim, de perder um ente querido para uma doença grave… Embora a dor seja evidentemente mais profunda e palpável nas perdas do adulto, o princípio a guiá-lo nesses momentos deve ser o mesmo ensinado à criança: ao se perder algo ou alguém, não há espaço para perder a si mesmo junto.

Para viver qualquer fase da vida com alegria, equilíbrio e vitalidade, é preciso acreditar que mesmo os infortúnios valem a pena. Existem modos e modos de ser feliz, e na minha visão o mais legítimo deles é honrando os dons com que se foi agraciado, a herança genética e os ensinamentos que nossos pais nos passaram. Penso que deveríamos viver todos os nossos dias alinhados a esses valores. Contudo, como somos falíveis, é bom pensar que a cada raiar do sol nos é dada uma nova oportunidade de acerto. Todos os dias podemos – e devemos – dar sequência a nossa busca pessoal pelos tesouros que estão por aí, esperando ser encontrados por nós, e que não são comprados com dinheiro. Refiro-me a uma busca interior, compatível com a nossa honra e com os nossos verdadeiros desejos.

Antes de avançar no tema da nossa conversa de hoje, permita-me abrir um parêntese para explicar o que é honra para mim. A palavra denota respeito, estima, valor atribuído. Ou seja, sempre que honramos algo ou alguém, estamos lhe conferindo um valor todo especial. Fazemos isso com nossa família, com nosso empregador, com nossos líderes, com nossos amigos. A honra como princípio, antes de ser uma conquista, é uma entrega; antes de ser colheita, é semente plantada.

Portanto, se uma perda é inevitável, que venha; só não podemos permitir que ela abale nossa honra. Eu sei: não se perder é difícil. Ainda assim, é preciso tentar, pois, quando se perde a razão, a sensatez, o autocontrole após um desacerto qualquer, tudo que se ganha é uma derrota elevada à enésima potência. Tudo que se colhe é perda de dignidade.

A melhor conduta para não se perder nas perdas parte de uma decisão que é inteiramente nossa. A escolha das nossas armas só pode ser feita por nós mesmos. Não é algo que possa ser delegado ou terceirizado. Por isso, qualquer movimento na tentativa de romper nosso casulo é mais promissor do que permanecer quieto ali dentro, indefinidamente. Quanto mais inertes ficamos no presente, mais condenamos o nosso futuro, e seria uma pena não abraçarmos nosso potencial inovador a fim de sairmos do torpor. Acredite: é simples. Sério, leitor amigo, o primeiro passo só depende de uma decisão toda sua. Aliados como recursos financeiros, energia e paixão virão em seguida, não se preocupe.

Em outras palavras, é lançar-se de peito aberto na vida, ciente de que ela oferecerá delícias, mas também dissabores. Há os que aceitem apenas os prazeres, da mesma forma que há quem, de tão perdido, nem se dê conta de que só colhe os dissabores. Sabe como é, certos venenos dão prazer momentâneo e, assim, ludibriam a mente… Por favor, tente ser do primeiro grupo. Faça suas escolhas, é claro, dentro de suas condições e em consonância com suas posses, mas deixe de fora o pessimismo e qualquer carga de negatividade, que só servem para atrair mais e mais frustração.

Sabemos que tão difícil quanto enfrentar nossas próprias perdas com equilíbrio é partilhar de dor semelhante quando aflige aqueles que amamos. É cruel testemunhar o sofrimento de quem consideramos parte de nós. Todavia, isso não é nada além da vida impondo a nós e a os nossos alguns caminhos mais tortuosos. Não se engane: até esse tipo de experiência será fundamental para nos tornarmos aptos a fazer melhores escolhas no futuro. Ora, se, por exemplo, sei que o caminho que vai me levar aonde desejo é o estudo e o trabalho duro, não há sentido em tentar algum atalho. Seria me arriscar a aumentar as perdas e, aí, sim, me perder de vez.

Isso me lembra a Parábola dos Talentos, citada na Bíblia. É a história de um senhor que, prestes a sair numa longa viagem, confiou a seus 3 servos todos os bens que possuía. Ao primeiro deu 5 talentos; ao segundo, 2; e, ao terceiro, apenas 1. O que ficou com 5 talentos tratou de aplicá-los, vindo a faturar outros 5. O que ganhou 2 também os aplicou e ganhou mais 2. O último, porém, apenas cavou um buraco no chão, onde guardou o talento herdado do senhor. Ao retornar, este ficou furioso com o servo que deixou de aplicar o talento. Em represália, retirou-lhe o presente e o deu ao servo que, àquela altura, já dispunha de 10 talentos. A lição é que a vida não perdoa a inatividade. Aqueles de nós que não empregam adequadamente os talentos recebidos acabam sem talento nenhum, ao passo que aqueles que os utilizam acabam agregando outros.

Não desperdice os seus talentos, mesmo ao sofrer algumas perdas ao longo do caminho. Aprenda a perder sem se perder. Uma hora tudo pode mudar e você também passará a ganhar.

“Quem perde seus bens perde muito; quem perde um amigo perde mais; mas quem perde a coragem perde tudo.” – Miguel de Cervantes (1547-1616), poeta espanhol

 

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